O Brasil tem um tipo de branco bem específico. Nascido ou crescido em uma das grandes cidades coloniais (Rio, Recife e Salvador), é metido a entendedor de cultura negra, mas odeia negros. É “anti-identitário”, mas carrega uma das identidades mais particulares da nossa sociedade.
Há tempos, Beatriz Nascimento já deu a letra sobre esse tipo de gente. Quem sabe, sabe e reconhece de longe. Os trejeitos, a lábia, as roupas, onde frequentam, as profissões (amam ser antropólogos e historiadores). No fundo, não suportam que nós negros falemos por conta própria.
Por ter circulado em espaços negros, mas ainda carregar o poder da branquidade, esse tipo de branco é um dos mais perigosos. Vai relativizar violência com mistificações sobre o Brasil. Onde houve exploração e luta pela vida, ele vai idealizar com ideias sobre sincretismo.
Ele vai ver sempre violência no ato do negro tomar a palavra, enquanto será o primeiro a sublimar as características escravocratas do país. E pela sua autoridade forjada como branco entendedor dos negros, sempre terá espaço garantido nos meios de comunicação supremacistas.
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Thread recente conectou o fato das pessoas jogarem lixo na rua a uma suposta destruição da identidade nacional causada por professores de história marxistas. Vish, pesado, eim. Mas será?
E se o lixo pudesse falar, o que ele diria sobre o Brasil? 👇🏾
Bom, bora para um pouco de história. Antes de haver saneamento básico no Brasil, por cerca de 300 anos, eram escravos os responsáveis por coletar urina, fezes e dejetos nas casas das cidades brasileiras. Como todo trabalho degradante, ele era delimitado pela escravidão.👇🏾
Tais trabalhadores eram chamados de tigres, pois o conteúdo carregado nos tonéis sobre a cabeça frequentemente derramava sobre a pele, deixando marcas brancas sobre a pele negra. Tais trabalhadores eram bastante mal vistos, associando o racismo da escravidão com o nojo do lixo.👇🏾
Meu pai compartilhou comigo um vídeo contra vacina de crianças. "Preocupação com as netas". Depois da indignação inicial, falei sobre algoritmos e formação de bolhas de mentira. Dei exemplo com vídeos de futebol. Ele "então por isso que só vejo vídeos de vitória do Botafogo?".
A raiva que tenho do bolsonarismo só não é maior que a de redes como Facebook e twitter. O vídeo que ele compartilhou estava no Face, em um perfil que vive de propagar mentiras. Não é difícil identificar e banir o usuário e a rede que ele mobiliza.
E meu velho ficou em choque quando descobriu que ele não só cedia informações para o Facebook toda vez que dava play em um vídeo, mas, também, que utilizavam essas informações para fornecerem mais vídeos do Botafogo, de músicas dos anos 60 e 70 e de mentiras bolsonaristas.
O PT foi alvo de um golpe e da fraude judiciária. Aceitou tudo dentro do jogo liberal-institucional. Daí, em 2022, as pessoas precisam de um vídeo da Dilma falando por A+B para “atestar” a diferença entre governos petistas e chavismo. Chega a ser ultrajante.
Não é “novidade” e o vídeo não foi escondido por ninguém. Foi mais de uma década de governo, para não falar da vida pública de Lula e Dilma. O que não enganam são essas análises hoje, supostamente desinteressadas, de quem, em um passado recente, fez do PT aquilo que nunca foi.
Chega a ser ridículo ter que ler essas coisas hoje, particularmente se tratando da figura de Dilma, uma das maiores vítimas das mentiras indecentes da direita e de liberais. Se o discurso dela é “novidade” para alguns, é porque participaram da esculhama em 2015-2016.
Tem algo que me irrita mais do que o debate sobre identitarismo. É fazer esse debate utilizando referenciais estrangeiros quando temos no Brasil grandes lições legadas pela LUTA do movimento negro. E como a @SantannaWania colocou: não é sobre identidade, é sobre PROJETO DE PAÍS.
Luta contra a ideologia da democracia racial, luta pela reformulação dos censos, luta pelas ações afirmativas, luta no movimento da educação, luta contra o genocídio, luta nos partidos - se mesmo diante dessa história, é identidade o foco da conversa, vocês não entenderam nada.
A história é muito recente para esquecermos que sempre que o debate sobre identidade entra na sala, é escanteado o debate sobre política de direitos. Política de direitos, não identidade, sempre foi a prioridade da nossa luta. O resto é ser pautado pela branquidade.
No último final de semana, por causa do 01 de janeiro, muitos lembraram das Revoluções Haitiana e Cubana. Aproveito para compartilhar esse pequeno ensaio no qual utilizo os dois eventos para interrogar a história. A pergunta central é: como ler a modernidade a partir do Caribe?👇🏾
Apesar de já ter um tempo de publicado, segue como um dos meus textos preferidos, especialmente pelo diálogo entre história, teoria política e realismo mágico para lidar com a ideia de impensável, tão cara a autores caribenhos, como o mestre Michel-Rolph Trouillot. 👇🏾
A @feh__amaro e o @louverture1984 levantaram o questionamento de por que não estudamos as duas Revoluções nas instituições de ensino? Acho que podemos ir um pouco além e se perguntar: por que ambas são negligenciadas e minimizadas por boa parte da teoria política moderna? 👇🏾