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Duas reportagens de hoje, uma do @estadao, outra do @uol, ajudam a iluminar uma transformação em curso na coalizão política que sustenta o governo Jair Bolsonaro.

O Lavajatismo sai, o Centrão se consolida e o Olavismo é realocado.

Um fio.
O que hoje chamamos de Lavajatismo é uma das forças políticas mais tradicionais da democracia brasileira.

A corrupção ostensiva de políticos apareceu no mapa na década de 1940, ainda na ditadura do Estado Novo, com Adhemar de Barros. Era o novo populismo ‘rouba mas faz’.
Se Adhemar mirava os mais pobres, a resposta veio com Carlos Lacerda. Igualmente populista, o lacerdismo acenava para a classe média urbana conservadora.

No início dos anos 1950, ele acusava a existência de um ‘mar de lama’ no governo Getúlio.
O lacerdismo é um truque, claro.

A corrupção ostensiva de políticos que ocorre no Brasil é mostra de um sistema que beneficia com impunidade quem tem poder. Mas, resolvida a corrupção, o Brasil não fica resolvido.

Os problemas são mais profundos.
O lavajatismo é o lacerdismo. Mesma coisa. Um conservadorismo voltado para classes médias urbanas.

Como a @julianadalpiva e o Chico Otávio mostraram na @RevistaEpoca desta semana, Bolsonaro está mais para Adhemar do que para Lacerda.

epoca.globo.com/rio/os-negocio…
O ex-juiz @SF_Moro, sem faro político, ficou muito mais tempo do que era sustentável no governo.

Sua marca é anticorrupção. Os Bolsonaro são lama pura.

Já estava óbvio que as duas imagens eram incompatíveis e que o rompimento viria ou Moro se misturaria.

Ele saiu.
Agora, o medo do bolsonarismo é que Moro seja candidato à presidência, em 2022. Porque ele leva este eleitorado conservador das classes médias urbanas.

Por outro lado, o anti-Morismo fortalece os elos entre presidente e o Centrão, como mostra o @Estadao

politica.estadao.com.br/noticias/geral…
Não é apenas por cargos que o grupo mais fisiológico do Congresso se une a Bolsonaro.

É também por ser anti-Moro.

Claro. O Lavajatismo não é só antipetista. É também contra o adhemarismo — e o Centrão é suco de Adhemar.

Pois é. Esses encontros tendem a se repetir na política.
Lacerda era antipetebista (Getúlio, Jango, Brizola) e antiadhemarista.

Moro é antipetista (Lula, Dilma) e anticentrão.

Tudo igual.

É um jeito de pensar política que inclui uma pegada moralista.
Mas isso traz consequências.

Se toda preocupação do Centrão é conquistar cargos, ali na frente o grupo dá as costas para Bolsonaro e aprova um impeachment. Fez isso com Dilma.

Mas se o objetivo é evitar uma presidência Moro, o Centrão fica com Bolsonaro e não tem impeachment.
Outra consequência é ideológica.

O Centrão se adequa a política do senhor da vez, não está nem aí pra ideologia.

Isto quer dizer que, na mistureba que formou o bolsonarismo inicial, os reacionários ganham força e, os conservadores, se enfraquecem.
Ou seja: pautas como mais armas, desmonte da educação, pregação do anticientificismo e ostensivo ataque ao Meio Ambiente e a minorias ganha mais força.
Há muitas críticas que pode se fazer ao espírito lacerdista, inclusive sua tendência a apoiar o autoritário do momento por considerar que combate à esquerda ganha prioridade perante a democracia.

Não. Não é a primeira vez que acontece.

Tampouco é a primeira vez que se repete.
A história, já dizia o barbudo, se repete em farsa.

As forças reacionárias do bolsonarismo são algumas.

Uma é o radicalismo cristão, obcecado medievalmente com sexualidade humana.

Outra é o bandeirantismo de Ricardo Salles, devastar para ocupar passando por cima dos indígenas.
Reacionário por buscar mesmo este passado remoto, medieval e setecentista.

Mas há o reacionarismo revolucionário dos olavistas. Estes, com seus tons fascistas, são mais perigosos.

Querem desmontar o Brasil inteiro com base numa teoria conspiratória. Sem ter o que botar no lugar
Perderam muito espaço com a entrada do Centrão.

Mas, em curso, está ocorrendo uma negociação — é o que mostra o @UOL.

noticias.uol.com.br/politica/ultim…
Por um lado, os olavistas precisam aparecer menos. Estão sendo promovidos, mas confinados ao segundo escalão.

Vez por outra os blogueiros sujos bolsonaristas dão um berro, um assessor presidencial ou outro se queixa de espaço, o filho Zero Dois resmunga mais alto.
Mas a negociação segue.

Bolsonaro precisa do olavismo para manter uma base sólida. É este grupo que oferece uma visão de mundo completa e fechada em si, baseada em teorias conspiratórias, mas e daí? Mantem a militância unida.

Este grupo é chave também para as redes.
São eles que têm o know-how do jogo de manipulação por WhatsApp e redes sociais. Que manipulam formando consensos artificialmente, com muitos bots, mentiras, e gente se fazendo passar por dezenas ou centenas.

É fraude eleitoral, diga-se.

No Brasil, só eles sabem fazer. E fazem.
O olavismo tem outra característica.

São tão reacionários, tão delirantes, tem esse pendor revolucionário e fascista de busca pela destruição, que jamais terão espaço em qualquer outro governo.

Ou aceitam estar no segundo escalão, ou aceitam ficar mais quietos por um tempo...
Eles não têm escolha.

Desta forma, entre grupos reacionários e conservadores, o bolsonarismo muda a coalizão e traz novo equilíbrio de forças.
Militares e seu conservadorismo positivsta. Estado grande, central, organizador da vida nacional por meio de uma visão patriótica.

Centrão, que é fisiologismo e só.

Reacionarismo cristão que só pensa em controlar sexualidade.
Bandeirantismo do Salles e das milícias/polícias — muita arma e Meio Ambiente em baixa.

Olavismo.

Pois é, quem é esperto já percebeu que tem um pedaço que vai tendo cada vez mais dificuldade de encontrar discurso coerente no bojo

É o neoliberalismo anti-Estado de Paulo Guedes
O discurso não precisa ser coerente, claro que não.

Basta ser hipócrita.

Vamos ver que caminho os neoliberais — essa mistura bizarra do conservador nos costumes, liberal na economia — consegue durar dentro deste governo.
Às vezes dá liga, tá?

A liga não precisa vir por coerência ideológica.

Pode vir por, como dizer... Empatia entre personalidades.
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