No início do mês passado, em 1 de Julho, Mizael Fernandes, de 13 anos, foi executado enquanto dormia, quando policiais militares invadiram a casa de sua família. O policial responsável disse “fiz merda” e pediu ajuda a superiores para “limpar a cena”. O caso segue sem justiça. 
O corpo da criança foi sequestrado enquanto família era contida e toda a cena do crime higienizada para não deixar rastros durante a madrugada. O caso aconteceu em Triângulos, no Chorozinho - Fortaleza. Mizael sonhava em ser vaqueiro e havia ganhado seu primeiro cavalo.
Mizael havia ido passar alguns dias na casa da tia, para fazer um tratamento dermatológico. Depois, ele voltaria para o interior, onde morava com o pai. Ao chegar em Triângulo, trocou as cascas de castanha que havia juntado para conseguir comprar seu primeiro celular.
Na noite anterior, Mizael foi dormir cedo pois sempre acordava às 4h da manhã para ajudar o pai na pequena fazenda. Lizangela ficou assistindo televisão, acompanhada do marido, de dois filhos, um de 12 e um de 22 anos e um tio.
A tia relatou que nunca tranca a porta da sala da casa, apenas o portão. Por volta da 01:00h ouviu alguém bater com muita força no portão. Imediatamente levantou e falou que já abriria abrir. “É a polícia”, ouviu de volta. Saiu, então, acompanhada por todos que estavam acordados.
“Quando estávamos na área, que é mais ou menos a 6 metros da sala, eles já foram tirando a gente de casa. Não imaginei que precisava acordar o Mizael, porque ele estava dormindo. Perguntei o que estava acontecendo e falaram ‘você sabe já’. Meu marido respondeu que não sabíamos”.
“Nisso a gente pensou que eles estavam fazendo alguma abordagem na rua e alguém poderia ter pulado no nosso quintal. Mas não foi. Eles expulsaram a gente de casa e mandaram a gente ficar na calçada.” Contou a tia do menino, Lizangela.
Dois policiais entraram na casa. A tia falou que, se eles iriam revistar a casa, ela deveria entrar junto. O policial mais alto gritou “eu já não mandei você ficar lá fora, sua vagabunda?”. Quando eu pisei na sala, eu só vi o clarão no quarto e o tiro.
“Aí eu falei ‘moço, você matou a criança que tava dormindo aí no quarto?’. O policial que atirou não respondeu e veio correndo, falando ‘fiz merda, fiz merda’. E me empurrou para fora. Mandaram a gente ficar mais afastado, mais ou menos 200 metros da minha casa.”
O policial então, saiu da casa: “Ouvimos ele falando para uma das viaturas, que parecia ser um chefe dele, que ele tinha feito merda e esse outro policial disse que era para ele limpar a merda. Três policiais ficaram apontando o fuzil para a gente na esquina da rua”.
“O policial que matou Mizael entrou de novo, limpou alguma coisa, tirou a colcha lilás da cama. Ele também levou o travesseiro e o telefone do Mizael. Até então a gente não sabia que o Mizael estava morto. Eu pensei que alguém tinha entrado no quarto e tinha matado esse bandido.”
“Embolaram o corpo do Mizael, igual um porco, e colocaram dentro da viatura. Voltaram e pegaram um pano que tinha dentro do carro para limpar o sangue. Não ficou nem um tiro de sangue no chão. Levaram o edredom da cama.”
“Também disse que, mesmo que tivessem chamado ele, o que não aconteceu, ele não teria uma arma. O policial não disse nada, simplesmente atirou.” A mulher pediu junto com o marido, que os policiais mostrassem a arma: “Aí eles deram uma resposta brusca e não mostraram nada.“
Os policiais foram embora em alta velocidade. Não disseram para os familiares para onde levariam o corpo de Mizael. A tia ligou para a Polícia Militar e contar do ocorrido. Os policiais chegaram e pediram para ver a cena do crime.
“Perguntaram por que eles tinham levado o travesseiro e a colcha da cama. Perguntaram se eu tinha limpado lá e eu falei que só tava entrando agora com ele. Não acharam vestígio de bala. Eu nem sabia para onde tinham levado o Mizael. Eles foram para o Hospital de Chorozinho.“
“Nisso eu já tinha ligado para minha mãe e minha irmã e elas foram para o hospital. O PM disse que tinha acontecido um erro e uma negligência, mas que eles, da Militar, não poderiam pagar por algo que não fizeram”.
A polícia disse que Mizael já tinha feito vários homicídios e assaltos. Porém, a família conta que ele era um menino medroso, muito carinhoso e brincalhão. “Ele alegrava todo mundo quando chegava. Só brigávamos para ele parar de ficar abraçando e beijando a gente o tempo todo.”
Apesar de não houver justifica até hoje, o caso de Mizael causou manifestações na região, com carreatas e queima de pneus. Em um dos atos, um policial militar perguntou para a população se queriam que “ele matasse mais um.” A história segue comovendo quem clama por respostas.
#JusticaMizaelFernandes https://t.co/1CU5zp81SX
