Thread by @obrunopet

FLA 1x1 GRE
O Flamengo de Domè buscava a 1ª vitória em casa. O Grêmio de Renato havia poupado titulares já na 2ª rodada, prevendo confrontos mais complicados, sendo um deles esse jogo contra o Fla. A expectativa era alta. Mas ficou só na expectativa mesmo. Segue o fio...

Pressionado pelas más atuações recentes, o Fla iniciou a partida novamente no 4-4-2 nos mesmos moldes da época de JJ. Domè parece ter realmente recuado em relação a mudanças mais profundas pelo menos de início nas partidas. Só que havia uma diferença no posicionamento de 2 caras.

Arrascaeta e Bruno Henrique trocavam muito de posição, sobretudo nos primeiros 30 minutos. Arrasca ficava mais centralizado e Bruno ia para o corredor esquerdo. A ideia era tirar a referência dos excelentes zagueiros do Grêmio.

Quando joga por dentro, Arrascaeta tende a jogar mais como falso 9, puxando a marcação dos zagueiros e abrindo espaço para as diagonais de Gabigol e BH. Isso porque o time gaúcho faz marcação por encaixes individuais e deixa seus zagueiros fazerem perseguições mais longas.

O Grêmio começou pressionando o Fla no campo de ataque com seus 2 atacantes e mais um jogador. Renato queria tirar a superioridade numérica na saída de 3 do Fla com Arão. Na maioria das vezes, Maicon era quem subia para acompanhar o volante rubro-negro.

Após passar por alguma dificuldade nos primeiros 5’, o Fla conseguiu encontrar formas de sair dessa pressão. D. Alves foi fundamental nisso, tendo sido bastante acionado, assim como César havia sido contra o Coxa. Aliás, essa é a maior assinatura de Domè até agora nesse Flamengo.

Ao fazer a pressão alta com mais jogadores, o Grêmio esvaziava o meio-campo e deixava espaços entre a linha de pressão alta e a linha de defesa. Éverton Ribeiro aproveitou muitíssimo bem esse espaço e o Fla foi melhor na primeira meia hora da partida.

Defensivamente, o Fla controlava muito bem o jogo nessa primeira metade do 1T. O Grêmio se via forçado a tentar bolas longas buscando principalmente Diego Souza. Mas mesmo essas bolas longas eram bem neutralizadas, com o Fla vencendo os duelos aéreos e ficando com a segunda bola.

Só que percebendo as dificuldades, Renato mandou o Grêmio parar a pressão alta e baixar mais as linhas. O Grêmio passou então a se defender em bloco médio/baixo. Assim, Renato diminuiu os espaços do Fla e o jogo ficou bem mais amarrado e equilibrado.

E foi justamente nessa reta final de 1T que o Grêmio criou suas melhores chances. Nas duas melhores usou a mesma movimentação: facão entre os 2 zagueiros do Fla.

No lance do gol, João Lucas sai de sua posição original, volta marcando pelo meio e gera um efeito cascata. Na hora de fechar a linha de 4, João fica na dúvida e acaba confundindo também Rodrigo Caio que não sabe se mantém como zagueiro pela direita ou se fecha como “lateral”.

Na volta do 2T o Grêmio mantém a tática que deu certo e mantém marcando com linhas mais baixas. E isso funcionou durante toda a segunda metade, porque o Fla não conseguia encontrar os espaços e esbarrava no baixo nível técnico recente da dupla de ataque.

Aliás essa má fase de Bruno Henrique e Gabigol no pós-pandemia impressiona. Estão muito longe daqueles que encantaram em 2019. Gabriel foi inclusive o jogador que mais perdeu a posse durante a partida com 17 perdas.

Com a contusão de João Lucas, Domè colocou Renê. Assim, o Fla passou a ter um LD canhoto e que tinha como tendência centralizar as jogadas. Com ER7 desse mesmo lado, os jogadores começaram a se embolar, já que ninguém usava o corredor.

Percebendo isso, 5 minutos depois da primeira substituição, Domè tira ER7 e coloca Vitinho. O problema é que o capitão rubro-negro era o melhor jogador em campo, o mais criativo. Ou seja, mesmo dando pra entender as razões da troca, não dá pra concordar.

A partir daí o Fla mudou o esquema e passou a jogar num 4-3-3, com Vitinho aberto na esquerda, Gabigol na direita e BH por dentro. Mas o Fla continuava com imensa dificuldade para criar. Domè coloca então Pedro no lugar de Gérson, e volta a empilhar atacantes no time.

Acontece que com as linhas baixas, o Grêmio diminuiu totalmente a velocidade do jogo. Além de fechar os espaços, a ideia era fazer os jogadores do Fla perderem a paciência. Funcionou. Muito porque o Fla versão 2020 não tem mais aquele controle emocional que tinha em 2019.

O time fica nervoso e o psicológico vai pro espaço, fazendo os jogadores que estão longe de seu auge físico, errarem ainda mais os gestos táticos e técnicos. Os atacantes do Fla ficavam estáticos, aceitando a marcação individual do Grêmio.

Ninguém tentava um desmarque de ruptura, um facão ou um movimento-falso para arrastar a marcação adversária e gerar espaços. Mas o futebol é maluco e a estratégia de Renato de recuar o time após fazer o gol foi punida.

Kanemann coloca a mão na bola dentro da área e o juiz marca pênalti. Gabigol faz e empata o jogo. Renato era dos poucos treinadores brasileiros que não bebia dessa fonte. Propunha um time ofensivo, opressor, que ia pra cima do adversário mesmo à frente do placar.

Mas mudou suas ideias e se deu mal.

O empate é mau resultado para o Fla. É também para o Grêmio. O desempenho em campo de ambos os times foi aquém. Quem viu apenas a primeira meia hora da partida não perdeu nada depois.

Em entrevista pós- jogo Gabigol disse: “Estamos treinando durante os jogos.” E é verdade. Domè testa formações e novidades táticas durante os jogos. Mas o calendário não vai aliviar e a transição de trabalho do português para o catalão se mostra cada dia mais complicada.