Vamos falar sobre #eletricidade? O #hidrogénio, as #renováveis e a #faturadaluz são temas que facilmente provocam indignação, do comum consumidor até aos opinion makers. Claro que todos temos direito à indignação, mas façamo-lo de forma informada. Segue a #thread (1/23)
No @expresso Clemente Pedro Nunes contesta o #hidrogénio argumentando que não se deve repetir a subsidiação de mais de uma década de #renováveis. Diz que a energia solar gera sobrecusto de €600 milhões/ano e se juntarmos eólica €2 mil milhões. Aqui: leitor.expresso.pt/semanario/sema… 2/23
Mas os números não têm adesão à realidade. Conforme nos mostram os dados da ERSE, as fotovoltaicas este ano terão um sobrecusto de €128 milhões e as eólicas um sobrecusto de €497 milhões. Os dados estão aqui 👇 (3/23) 
O mesmo autor também escreve que o projeto âncora do hidrogénio em Sines servirá para produzir eletricidade, quando o projeto, ainda sujeito a análise dos promotores, visa produzir H2, cujo destino será sobretudo a indústria e os transportes. (4/23)
Com efeito, a utilização de H2 verde para produzir eletricidade (em vez de queimar gás natural nas centrais de ciclo combinado) ocupa uma parcela minoritária da estratégia do hidrogénio, precisamente por se reconhecer que é pouco eficiente. (5/23)
No mesmo artigo indica-se que há mais 2000MW de feed-in tariffs que destroem qualquer possibilidade de haver um mercado de eletricidade nos próximos 15 anos. O que o artigo não refere é que essa capacidade resulta de dois leilões (2019 e 2020) em que (6/23)
O preço a conceder a cada produtor resulta de um processo competitivo (é um leilão!) em que o direito a construir a central solar foi dado à empresa que fez o mais baixo preço de venda da energia para o respetivo lote. Foi o mercado a funcionar. (7/23)
Claro que podemos preferir que toda a eletricidade que consumimos seja transacionada diariamente no mercado spot, em vez de assegurada, parcialmente, por contratos de longo prazo. Mas isso introduziria um tal risco no investimento que para termos centrais a funcionar (8/23)
Os promotores pagariam muito mais para financiar os projetos, e o tal custo de mercado seria bem maior do que o que temos hoje. Mas há outro ponto relevante na crítica às renováveis e aos seus contratos de longo prazo. São onerosos? Sim. Mas o seu sobrecusto (9/23)
Mesmo pelos dados da ERSE, está distorcido por algo que habitualmente não notamos: quanto + renováveis estão a produzir, + procura satisfazem, o que faz baixar o preço do mercado spot. Se as renováveis não estivessem lá... o custo de referência da eletricidade seria + alto. 10/23
Aqui chegados, podemos sempre continuar a defender uma eletricidade baseada em fontes fósseis, como o carvão e o gás, assumindo q serão sempre + baratas. Mas até isso tem um risco de percepção: além de terem preços + voláteis (como o combustível rodoviário), carvão e gás (11/23)
Estão tendencialmente sujeitos a pagar mais pelas emissões de CO2. E os estudos existentes mostram que fontes como a solar já conseguem ser viáveis com preços de venda da energia mais baixos que as termoelétricas. É o LCOE: levelized cost of energy, e permite (12/23)
Comparar o custo nivelado de cada tecnologia, com base no investimento que requer, nos custos variáveis e no tempo que pode produzir. E, surprise surprise, as convencionais termoelétricas a carvão e gás não são assim tão competitivas. (13/23)
Claro q os incentivos, apoios e subsídios a determinados agentes económicos são questionáveis. Podemos e devemos fazê-lo, mas não devemos ignorar uma questão essencial: há outro desenho de mercado melhor para o consumidor? E os + críticos das renováveis não têm conseguido 14/23
Provar ter uma alternativa que de facto traga custos de energia mais baixos para as famílias e empresas. A verdade é que a quantidade de novos atores na energia solar em Portugal está a criar um mercado bem mais concorrencial do que existia há uns anos. (15/23)
Depois, há ainda alguma confusão sobre o mercado que temos. Este sábado no @dinheiro_vivo Álvaro Beleza sugere que com um painel solar em cada casa pagaríamos menos à EDP. Podem ler aqui: dinheirovivo.pt/divida/se-cada… (16/23)
Há algumas questões prévias. A EDP domina o mercado, mas tem a concorrência de dezenas de comercializadores, cujos clientes podem ou não ter painéis solares, e não têm a EDP como fornecedor. Ah, mas a EDP Distribuição lá continua a ganhar... Verdade, mas... (17/23)
Se todos tivermos um painel solar, consumimos menos eletricidade da rede, sim, mas os custos da rede continuam lá (pois é, continuamos a precisar da dita) e continuarão a ser suportados pela nossa fatura. (18/23)
E diz ainda Álvaro Beleza 👇 (19/23)
Mas os nossos impostos não serviram para dar rendas garantidas. Foram as nossas faturas de eletricidade. Os custos do sistema têm ido parar sempre aos consumidores, não aos contribuintes. (20/23)
E na entrevista também nota que o problema dos painéis solares é que só chegam a classes médias altas e que a maioria da população não tem acesso porque é caro. Mas os painéis já não são tão caros assim. E a questão do acesso depende mais de sermos donos do nosso telhado. (21/23)
Ora, quem, vivendo em prédios, não tem espaço para os seus painéis, continuará a pagar a energia da rede. Incluindo o custo para que o vizinho da moradia da rua de baixo tenha luz quando o sol não brilhar. (22/23)
Serve esta thread apenas para notar a importância de nos informarmos o melhor possível antes de demonizar as renováveis, o hidrogénio e esses malvados lobis da energia. O mercado é perfeito? Não, não é. Mas tentemos então trocar umas ideias sobre o assunto 💡 (23/23)
