O leilão de 2019 destacou-se sobretudo por um ganho direto para o sistema elétrico (leia-se consumidores), que o Governo estimou em €600 milhões a 15 anos, efeito de lotes com preço fixo de venda da energia e de lotes em mercado com pagamentos ao sistema. (2/13)
O leilão de 2020, ainda a meio, já se está a destacar por preços inéditos, recorde nacional e global, com várias particularidades. Por um lado, os lotes estão a ser ganhos por propostas de produção/venda em mercado com baterias + contrapartida ao sistema. Por outro lado, (3/13)
Essas contrapartidas são convertidas, na plataforma do leilão, num valor equivalente de preço (€/MWh), que as torne comparáveis com as ofertas nas outras duas modalidades. Procurei explicar isso aqui 👇expresso.pt/economia/2020-… (4/13)
Mas estas propostas vencedoras vão vender a sua energia em mercado, e aí tentarão compensar (pela venda imediata à rede e pela venda diferida, e + cara, do que armazenarem) os custos do projeto: capex na central e nas baterias e contrapartidas ao sistema (5/13)
Donde é legítimo questionar: então podem até cobrar a energia + cara? Podem. Não irão operar para perder dinheiro. Mas limitadas pela realidade do mercado: com tantos produtores a vender energia solar nos próximos anos, ninguém pode puxar muito para cima o preço, (6/13)
Sob pena de ficar fora do mercado. E estas centrais do corrente leilão assumem esse risco. O que me leva a admitir que os promotores tenham já previstos PPA (contratos longo prazo) com um comercializador que lhe tomará a energia a preço pre definido. (7/13)
Poderíamos especular que o tenham feito a preços em torno de €40 a €50 MWh, mais que suficiente para pagar a central solar, mas só os próprios poderão esclarecer como desenharam o projeto, claro. Também podemos aventar a hipótese de que alguns (8/13)
Destes projetos tenham acoplados projetos H2, que precisam de energia barata. @Joaogalamba disse ao @expresso: "Investir na produção de #hidrogénio aumenta o valor de cada euro investido na eletricidade solar. Há um hedging perfeito”. Aqui 👇leitor.expresso.pt/semanario/sema… (9/13)
Mas são ainda pouco claros os termos de cada projeto no corrente leilão solar. Aguardemos. Não esquecendo que há lotes de pequena dimensão, que podem ser explorados quase como projetos de demonstração. E que as centrais continuarão a produzir após os 15 anos iniciais. (10/13)
Isto para chegar aqui: este leilão parece ser um momento de viragem no sistema elétrico nacional, introduzindo novos modelos de negócio, em mercado, com risco e com exploração de armazenagem em baterias a escala comercial. (11/13)
E isso talvez seja até mais relevante do que os ganhos que proporcionará ao sistema (que também existirão, através das referidas contribuições ao longo de 15 anos), numa nova etapa de afirmação das renováveis e da gestão flexível das redes. (12/13)
Esta terça há mais leilão. E depois conheceremos os vencedores. Mas para quem escreve há algum tempo sobre energia é fascinante descobrir que há ideias novas e movimentos inesperados em marcha. Estamos sempre a aprender. E afinal há renováveis em mercado. (13/13)
