O conflito interno do Partido dos Trabalhadores importa para a adoção do Orçamento Participativo? Sim. Essa é a resposta do nosso artigo (com os queridos Fabiano Santos e @_Tiagoventura) publicado na @DadosRevista, em que utilizamos dados inéditos das eleições diretas do PT. + ImageImage
Desde 1983 o PT tem uma facção dominante que o conduz nacionalmente: o Campo Majoritário. A criação desta ala mais moderada buscou conter as facções de esquerda e flexibilizar as estratégias eleitorais do partido, em especial no que diz respeito à democracia e à participação. +
Para a nossa análise, isto implica em uma divergência fundamental com relação às políticas ofertadas ao eleitorado. Tem destaque os conflitos relacionais aos ideais de participação do "modo petista de governar" efetivados por meio da adoção do Orçamento Participativo. +
Esta divergência foi posta em xeque em 2001, quando o PT foi o primeiro partido do Brasil a realizar a escolha de suas direções a partir de um Processo de Eleições Diretas (PED), que consolidou a hegemonia do Campo Majoritário, em especial na composição do Diretório Nacional. +
Mas em nível local as facções de esquerda mantiveram presença expressiva na composição de diversos Diretórios Municipais. Por isso, a nossa hipótese era que a adoção do OP seria dependente de uma maior presença de facções de esquerdas nos municípios governados pelo PT. +
Em 1º, atualizamos os dados relacionados ao OP como uma marca do "modo petista de governar". Enquanto a probabilidade de prefeitos não filiados ao PT adotarem o OP é de 14%, a de filiados ao PT é de 80%. Ou seja, a filiação ao PT amplia em 73% a probabilidade de adoção do OP. + ImageImage
Em 2º, utilizamos os dados do PED e da votação do Campo Majoritário (facções de centro e direita). Se onde a facção teve menos de 10% dos votos a probabilidade de adoção do OP foi acima de 90%, onde ela recebeu mais de 80% dos votos a probabilidade caiu para menos de 50%! + Image
Nossos resultados dão duas contribuições ao debate. 1) A participação, uma das marcas do "modo petista de governar", pelo menos na última década esteve conectado às facções de esquerda do PT, redimensionando a aplicação do termo à ideia de unidade de agenda política do partido. +
2) Colaboram para uma melhor compreensão das razões pelas quais o OP não foi adotado em nível nacional com a vitória do PT à presidência em 2003, e tampouco se expandiu localmente em ritmo semelhante ao crescimento do PT nos Executivos locais nas últimas duas décadas. +
Esperamos ter desmonstrado novamente a importância de relacionar os partidos à participação social. Mas sobretudo de de analisar o conflito intrapartidário e o faccionalismo - fundamental para a esquerda e o PT.

O artigo pode ser acessado aqui:
scielo.br/pdf/dados/v63n…
Ah! O artigo também está disponível em inglês e pode ser acessado aqui:

scielo.br/pdf/dados/v63n…
@OxfordBSP here and in two versions, Portuguese and English. It's from October 2020.

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"Há aqueles que vilipendiam esse esforço de memória. Dizem que não há que remover o passado, que não há que ter olhos na nuca, que é preciso olhar para a frente e não encarniçar-se em reabrir velhas feridas. Estão perfeitamente equivocados. As feridas ainda não estão fechadas. +
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