Thread by @luizacaires3

Essa latrina medieval na Letônia é uma valiosa fonte de pesquisa!

Fezes desidratadas têm sido úteis para conhecer parasitas que atormentaram nossos ancestrais. Mas uma pesquisa mostrou que com elas também dá para saber muito sobre a história do microbioma humano. Siga o fio👇

Observar latrinas arqueológicas e seu cocô antigo no microscópio já permitiu aos cientistas conhecer os vermes que parasitavam nossos antepassados. Ameba, lombriga e giárdia já estão aí há muito tempo povoando nossas barrigas... (+)

...Mas eles ainda não tinham certeza se esse material poderia servir também para entender um universo ainda menor: o microbioma intestinal(+)

O microbioma intestinal é o conjunto de microrganismos como bactérias, archaea e fungos que vivem no trato digestivo de humanos e outros animais. Você já deve ter ouvido falar da importância deles - uma microbiota em desequilibro está associada a vários problemas de saúde (+)

Ao longo dos anos, os cientistas notaram que povos de sociedades industrializadas têm um microbioma bem diferente das comunidades de caçadores-coletores. E cada vez mais evidências têm associado mudanças em nosso microbioma a muitas das doenças do mundo industrializado moderno(+)

Por isso, conhecer as dinâmicas que caracterizaram esses microbiomas ao longo da história humana pode ajudar inclusive a entender alguns problemas que nos atingem hoje, como doenças inflamatórias intestinais, alergias e até depressão.

Isso já vem sendo estudado. Mas muitas bactérias antigas recuperadas até agora vieram de tecidos calcificados como ossos e dentes em boas condições de preservação.

Havia dúvida se assinaturas moleculares do conteúdo intestinal sobreviveriam nas latrinas por centenas de anos (+)

Para uma tentativa nesse sentido, uma equipe analisou sedimentos de latrinas medievais em Jerusalém e Riga, Letônia, dos séculos 14 e 15. O primeiro desafio foi distinguir as bactérias de intestinos daquelas que normalmente são encontradas no solo (+)

Essa é uma dificuldade inevitável do trabalho com material arqueológico. Mas eles conseguiram! Foi identificada uma ampla gama de bactérias, arquéias, protozoários, vermes, fungos e outros organismos, incluindo muitos que habitam os intestinos dos seres humanos atuais (+)

Para separar o que era proveniente das fezes, uma das pesquisadoras comparou o DNA da latrina com os de outras fontes, incluindo microbiomas já conhecidos de povos coletores e industriais, bem como de esgotos e do solo (+)

O microbioma dessas latrinas tinha algumas características comuns com microbiomas de outros povos mas eram diferentes o suficiente para formarem um grupo exclusivo. "Não conhecemos uma fonte moderna que contém o conteúdo microbiano que vemos aqui", disse Susanna Sabin. (+)

A pesquisa ainda é preliminar, mas mostrou que o método pode ser promissor: "Demos um passo importante para mostrar que a recuperação de DNA de conteúdos intestinais antigos de latrinas pode funcionar", comemora a cientista (+)

Fio baseado em release da University of Cambridge

Artigo científico:
royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rs…

Mais informações legais pela parasitologista @elisapucu

https://twitter.com/elisapucu/status/1315275408896675842?s=20

https://twitter.com/elisapucu/status/1315275709057728514?s=20

Ela conta que outros trabalhos já analisaram a microbiota intestinal de coprólito humano, como o feito num sítio em Durango, México, de 1.400 AP - um dos precursores dessas análises. Os autores notaram que a microbiota intestinal do coprolito é similar a de povos rurais atuais.