Há 20 anos, em agosto, iniciei os investimentos diretamente na bolsa de valores. De lá para cá acompanhei atentamente 2 informações muito valiosas: fontes primárias, ou seja, diretamente nos balanços e nos dados econômicos;
b) opiniões e expectativas dos agentes de mercado e sua enorme influência no preço dos ativos, e que ganharam uma proporção nunca vista na era das redes sociais, fazendo mais preço no mercado do que as fontes primárias.
As grandes oportunidades sempre se deram quando as fontes primárias traziam informações dissonantes do que o Sr. Mercado acreditava e colocava nos preços.
No período, não foram poucas as vezes em que o negócio do futuro não aconteceu e o negócio que ia quebrar proporcionaram grandes retornos.
Nos anos 2.000 a grande moda eram as ações de telefonia e sua grande vedete Telemar, agora lutando para sair de uma recuperação judicial após uma enorme destruição de valor.
No entanto, quem se posicionou em ativos com “futuro sombrio” como uma Souza Cruz e uma Eternit, ou em negócios chatos e previsíveis, como uma Aes Tiete, teve ganhos fora do convencional.
Tivemos também vários ciclos nestes 20 anos. Tivemos o país das commodities e valorizações de siderúrgicas, mineradoras e petrolíferas muitos fortes até 2007. Viramos o país do consumo ao final de 2008 até 2012 de forma explosiva e o boom de várias ações do segmento.
Na sequencia veio o vento favorável das empresas de educação até a quebra do orçamento do governo com o FIES. Enfim, não faltaram ciclos e todos tem uma força em comum: No melhor momento para comprar ninguém falava desses ativos.
Quando estavam caros e a venda era a melhor decisão, o Sr. Mercado estava eufórico, dava grande cobertura e quem não estava comprado nas teses era o “pato fora da festa”.
Porque isso acontece? O mercado projeta a situação atual na perpetuidade como se nada fosse mudar.
Um mundo totalmente diferente teremos em 2030, e a lista de maiores altas serão de ações que não se faz a menor ideia, mas muito dificilmente serão aquelas que estão na moda e no noticiário hoje.
A propaganda intensiva de teses que deram certo se dá porque o ser humano gosta de falar de seus acertos.
Dai contam das ações que ainda são “ótimas oportunidades” após altas de 5.000% e múltiplos que só se justificam com crescimento que nunca fizeram e por mais 20 anos. É muita fé.
Ao mesmo tempo, os agentes tem vergonha de falar do que de fato é oportunidade, pois são ativos que podem estar em “tendência de queda”.
Ninguém quer falar do que está dando errado nas suas teses de investimento. Mas é aí que se encontram as margens de segurança de uma magnitude impossível de desprezar.
Exemplo recente foram as ações de construção civil em 2017, no ápice do pessimismo e que proporcionaram ganhos significativos até 2020, ano em que para o mercado virou “uma boa oportunidade”.
Não, a grande oportunidade já passou e hoje ela está em setores com elevado pessimismo atual.
De fato, um desprezo absoluto reina em certos segmentos, esmagados pela desconfiança.
Veja o que temos hoje numa carteira, que podemos chamar de “Carteira do apocalipse”, entre outras: empresas do segmento bancário tradicional, utilities selecionadas, propriedades e indústria que fornecem para o exterior mas com negócios que serão “destruídos pelo futuro”.
Já, ao contrário, existe a carteira “o céu é o limite” com setores que vão dominar a tudo e a todos numa velocidade planetária, sem novos concorrentes, sem nenhuma dificuldade de manter o crescimento e as margens (quando existem), mas que estão no forte imaginário popular.
Tudo difundido pelos agentes de mercado, hoje “vencedores” e Redes sociais que bombam ainda mais as cotações, e não são poucos os que entram para “não ficar de fora da festa”.
A “carteira do apocalipse” hoje tem empresas que mesmo a receita caia 15% e o lucro líquido 30%, negocia a um desconto significativo para o custo de reposição, menos de 10 vezes o lucro, dividendo acima de 6% e payback do investimento em menos de uma década.
A carteira do “o céu é o limite” negocia a 100 vezes o lucro, 25 vezes o valor patrimonial, dividendo insignificante e quando tiver sorte gera caixa, com 95% do valor do negócio na perpetuidade.
É o investidor com capacidade de projetar como estará o mundo em 2040 e pagando por isso hoje.
E quem é esse investidor hoje? Os vencedores dos últimos ciclos, focados em quality a qualquer preço, focados na descoberta da disrupção total e suas informações que se constituem “na nova verdade” alimentam um fluxo gigante de novos entrantes em bolsa.
Segue....
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Mais da metade dos investidores no Brasil entraram nos últimos 3 anos, empurrados pela baixa da taxa de juros, e seguem a onda dominante, com pouca capacidade crítica e dificilmente consultam as fontes primárias. Margem de segurança é um tema totalmente desprezado.
No passado, o novo ópio já foram a telefonia, o biodiesel de mamona, as commodities, a indústria, a construção civil, os bancos médios, enfim, vários negócios da economia teriam esse ceú de brigadeiro que se coloca no preço de alguns segmentos hoje.
Vivemos um momento de grande incerteza na área de saúde, econômica e política no Brasil que levou a nossa bolsa a maior queda em dólar no ano em comparação aos pares (pouco acima de 50%).
Esta não é a primeira vez que vivemos essa situação no nosso país. Somos prodígios em construir crises novas sem nem ao menos sair das anteriores. Vivemos nossa adolescência. E isso afeta decisivamente o emocional, a disposição em assumir risco e a motivação.
Essa pitada de desesperança e incerteza, no entanto, costumam guardar as grandes oportunidades no mercado financeiro. Não é possível saber de antemão quando chegará o ápice da queda e do pessimismo.