UM FIO PARA GENTE GRANDE
A situação fiscal do país é muito ruim, estamos em 900 bilhões de déficit ou 12% do PIB de déficit primário. Dinheiro não nasce em árvore, vamos precisar lidar com isso nos próximos anos. Por favor, é um fio para gente grande, não me venham com o pseudo
argumento dos juros pagos aos bancos, isso, para mim, pertence ao jardim da infância do debate. Por que estamos nesta situação?
Houve um erro de calibragem no Auxílio Emergencial (AE), pois o governo não tinha formulação nem liderança na Câmara. Quando a proposta tramitou ela se
tornou muito abrangente e acima do valor razoável considerando-se tanto a necessidade da população, quanto o que seria deixado de déficit para o futuro. Mais de 60 milhões de pessoas receberam o AE, sendo que 20 milhões indevidamente, aliás, em breve isso virá à tona com força
midiática. Vamos imaginar contrafactualmente que o AE tivesse sido de 400 reais para 35 mi de pessoas, a situação hoje não seria tão complicada. Será exigido deste e dos próximos governos, assim como de todos nós, algum tipo de aperto e de sacrifício para lidar com este déficit
O desejo da esquerda de melhorar a vida dos mais pobres é tão grande, que isso cega muita gente de esquerda para o fato de que dinheiro não nasce em árvore. Essas pessoas acham que é possível para o governo gastar o que não tem a perder de vista.
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A POLÍTICA EXIGE (NÃO) DECISÕES DIFÍCIES
Mano Brown cobrou do PT em 2018 maior proximidade com a periferia. Desde então muitos o repetem, citando aquele episódio. Aumentar a proximidade com a periferia exige presença, defendê-la, e adotar seus símbolos. Um deles, hoje, é não
usar máscara de proteção contra a COVID, ninguém a utiliza na periferia. Assim, um candidato do PT que faz carreata, corpo a corpo e reuniões na periferia também não deveria usar máscara se desejar seguir a sugestão de Mano Brown. Fazer o oposto disso mostra distanciamento do
candidato em relação a crenças e práticas dos mais pobres em relação a algo proeminente em 2020, a pandemia. A campanha dura 30 dias, nenhum candidato irá conscientizar a população neste período, mas sim poderá ter uma imagem de alguém mais ou menos distante dela. Usar máscara
O QUE ACONTECEU COM BOLSONARO
O Bolsonaro de 2019 não existe mais, nem o pai, nem os filhos. Está distante o tempo em que atacavam os políticos, o STF, o sistema. Deixaram de elogiar o AI-5 e de criticar a democracia. Aconteceu que o presidente foi devidamente enquadrado pelas
instituições democráticas. Em 2019 ele era um cavalo xucro, agora está domesticado, selado e devidamente montado pelo Centrão. Isso é maravilhoso. O nosso país, o Brasil, mostra suas virtudes. Revela para nós que não há razões para ter complexo de vira-latas, nossas instituições
não são melhores nem piores do que a dos países desenvolvidos. Aliás, elas são muito fortes. Elas contiveram o ímpeto autoritário de um presidente recém eleito. Isso deve ser motivo de satisfação para todos nós: estamos seguros, o Congresso, o STF e outras instituições não
APROVAÇÃO MAIS ELEVADA DE BOLSONARO ATÉ AGORA: 40% DE ÓTIMO/BOM,
foi o que mostrou a pesquisa CNI/Ibope. Portanto, o número de mortos por COVID não tem impacto na avaliação, tampouco a devastação ambiental. O que tem impacto é o aumento (ou redução) do poder de compra. FH foi
eleito e reeleito graças a isso. A redução e o controle da inflação fizeram o consumo se ampliar. Serra perdeu para Lula em 2002 em função do desemprego, que deprimiu o consumo. Lula é popular até hoje porque as pessoas passaram a ter acesso a muitas coisas novas. Com Dilma o
desemprego aumentou muito, reduzindo o poder de compra. O Bolsonaro dos 150 mil mortos é o mesmo do auxílio emergencial, que colocou dinheiro diretamente no bolso de milhões de famílias. Isso nada tem a ver com as polêmicas e brigas das redes sociais e grupos de zap, mas sim com
MAGALU, RACISMO, IMMANUEL KANT E O CAPITALISMO
O primeiro argumento a favor de Magalu é o necessário combate ao racismo estrutural, com o qual concordo em gênero, número e grau. O segundo, importante também, deriva de "Ideia de uma história universal sob um ponto de vista
cosmopolita", no qual Kant afirma que a insociável sociabilidade humana resultará na elevação moral da sociedade. Vamos supor que Magalu não tenha como objetivo combater o racismo, mas apenas conquistar mercado e aumentar o faturamento. Neste caso, terá sido seu interesse privado
insociabilidade para Kant, que resultará em mais oportunidades para os negros, que é a sociabilidade e a elevação moral. A busca do interesse privado capitalista resultará em mais igualdade entre as raças. Os racistas mobilizarão a justiça contra Magalu. Caso a justiça acate a
HAITI, REPÚBLICA DOMINICANA E DEVASTAÇÃO AMBIENTAL
Ambos os países ocupam a mesma ilha, são separados por uma fronteira norte - sul de 360 km. O Haiti devastou suas florestas, a República Dominicana as preservou ao máximo. Essa história é muito bem contada por Jared Diamond em
seu erudito e monumental Colpaso. Ele mostra também que por conta da devastação o Haiti mergulhou em uma crise econômica sem fim, e seu vizinho prosperou. O Brasil vinha escolhendo estar mais para República Dominicana, porém Bolsonaro alterou o rumo para nos transformar em um
Haiti ambiental. Cabe ao Brasil reagir. O nosso futuro será resultado de políticas públicas adotadas hoje.
A análise da Tamire sobre a possibilidade de Freixo ser candidato a prefeito do Rio não ajuda a esquerda. Em 1992 Benedita da Silva foi ao segundo turno e perdeu para Cesar Maia por uma margem muito pequena, 51,89 a 48,11. Dois anos depois Benedita foi eleita senadora e em 1998
foi eleita vice-governadora na chapa de Garotinho. Hoje, ela, mulher negra, e Garotinho, homem branco, não são tão fortes como já foram, é uma questão política e eleitoral. Por outro lado não existia Freixo nos anos 1990. Na política há renovação, e muitos fatores leva a isto.