Variante à vista! Devo me preocupar? Quais as implicações desse recente achado para a pandemia da COVID-19? - 🧶
Autora: Mellanie F. Dutra (@mellziland)
Revisores: Marcelo A. S. Bragatte(@marcelobragatte), Fernando Kokubun (@fernandokokubun)
Imagem: Felix Donghwi Son (Felixvis)
Felix Donghwi Son. Coronavirus 3D images Collection. 2020. Felixvis felixvis.com
A corrida do enfrentamento da COVID-19 é acirrada: a comunidade científica dedica-se cada vez mais a entender o desafio desse vírus peculiar, ao passo que cada resposta que obtemos, nos leva a mais questionamentos, aumentando nosso conhecimento.
Reunimos algumas noções importantes sobre o SARS-CoV-2, ou o novo coronavírus: sabemos que diferentes linhagens de SARS-CoV-2, até o presente momento, não tiveram um impacto significativo no curso da pandemia.
Naturalmente, no início da pandemia, houve questionamentos se o vírus poderia estar mudando ao passar de pessoa para pessoa. Comparado a outros vírus de RNA, como o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o SARS-CoV-2 apresenta uma baixa taxa de mutação.
No entanto, a investigação de variantes virais tem uma implicação relevante no monitoramento de qual “tipo” de um mesmo vírus está mais dominante, num determinado momento, em uma população.
Em abril, por exemplo, Korber e colaboradores observaram uma mutação (D614G) de posição de um aminoácido (o 614º mais especificamente) da proteína Spike,
na qual um aspartato (D) era trocado por uma glicina (G), em decorrência da alteração da sequência genética (ou nucleotídeos) através da falha na produção de cópias desse material genético.
Após a publicação do artigo na versão pré-impressão (preprint), os autores alertaram o aumento da presença do vírus com a mutação D614G, que, tornou-se a linhagem mais predominante na Europa, e posteriormente para os Estados Unidos, Canadá e Austrália.
No entanto, essa mudança não indicava necessariamente que o vírus estava se tornando mais perigoso ou mais transmissível. As mutações são esperadas, especialmente em vírus que possuem inerentemente uma alta capacidade de se replicar (fazer cópias de si),
principalmente no curso de uma pandemia. Essas modificações fazem parte de sua adaptação e, assim como em outros organismos, estão sujeitas a seleção, sendo que as mais adaptativas aquelas que irão predominar no ambiente.
Um artigo interessante publicado em Julho apontou a relevância de estudar essas variantes, demonstrando a distribuição relativa ao continente e ao tipo de vírus e variações genéticas carregadas por eles.
Consolidou-se ainda mais a noção que precisamos rastrear e sequenciar as variantes virais de SARS-CoV-2 para acompanhar a dinâmica de sua infecção. Recentemente, um grupo de pesquisadores publicou uma nova variante emergente na Europa.
A variante em questão se chama 20A.EU1, sendo caracterizada pela mutação na proteína Spike, com a troca de uma Alanina na posição 222 por uma Valina (A222V) e também sendo responsável por mais de 20% das sequências que circulam na Europa atualmente.
De acordo com os autores, a variante viral 20A.EU1 se originou na Espanha no verão europeu, emergindo relações com eventos de super espalhamento entre trabalhadores agrícolas que se mudaram para a população local e de lá, propiciando o espalhamento por todo o país.
No final de julho, em torno de 50% das sequências na Espanha eram da 20A.EU1. No total, 12 países da Europa apresentam a presença do 20A.EU1, tendo sido identificado também fora do continente europeu, como na Nova Zelândia (várias vezes) e Hong Kong (uma vez).
Embora a variante inicialmente tenha se espalhado da Espanha, parece ter sido transmitida também de países secundários. De uma forma similar apontada no início desse texto, essa variante descoberta não necessariamente é responsável por essa disseminação.
Precisamos lembrar e associar o contexto que países europeus estão vivendo. Em seu twitter, a primeira-autora do estudo Emma Hodcroft comenta que viagens de férias de verão,
somado a um grupo populacional que poderia facilitar a disseminação podem ser um dos fatores que conferiram uma vantagem de transmissão ao 20A.EU1. Concluindo, a pesquisadora comenta que há outras variantes predominantes em países europeus, como a França (variante 20A.EU2)
e Bélgica (S: S98F) e, embora essa variante seja interessante e precise de mais investigação e monitoramento, provavelmente não é a principal causa dos recentes aumentos nos casos de COVID-19 observados na Espanha.
Falhas nas medidas de enfrentamento ao SARS-Cov-2, bem como a alta prevalência da infecção na Espanha, triagens/quarentena de viagens ineficazes entre outros fatores poderiam estar envolvidos e facilitar a transmissão do 20A.EU1.
Infelizmente, as notícias desse achado foram mais alarmantes do que as conclusões do artigo, levando a população a uma série de preocupações se essa nova variante poderia significar um aumento da virulência, da capacidade de transmissão ou até mesmo prejudicar o processo
de imunização pelas vacinas atualmente sendo desenvolvidas/testadas. É necessário reafirmar que não há evidências suficientes de que essa mutação descrita tenha um impacto na propagação da variante 20A.EU1.
De igual maneira, não se espera que essas mutações também tenham impacto nas futuras vacinas. De fato, as vacinas em desenvolvimento/testagem para a COVID-19 tem a possibilidade de apresentar um amplo espectro de ação para as variantes do SARS-CoV-2,
conforme discutido em um artigo publicado em Setembro na PNAS. Dessa forma, o monitoramento dessas variantes é uma ferramenta importante para entendermos a dinâmica da transmissão do SARS-CoV-2 e,
especialmente, observar os pontos em seu material genético que estão sofrendo pressões evolutivas, acarretando no surgimento de mutações, sempre tendo em mente o contexto que estamos analisando.
Super espalhamentos, flexibilizações sem respaldo científico suficiente para tal podem propiciar surgimento de novas variantes que, dependendo das mutações que carregam, podem trazer complicações para o enfrentamento da COVID-19.
#FiqueEmCasa se puder, mantenha etiqueta respiratória, protocolos de higiene e saiba que os avanços no desenvolvimento das vacinas já são históricos e nos trarão um imunizante em tempo recorde, juntos conseguiremos enfrentar a pandemia da COVID-19 da melhor forma possível.
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A Organização Mundial da Saúde declarou oficialmente a pandemia no início de março de 2020 [1]. Desde esta declaração até o atual momento (outubro de 2020), muitas novas informações foram obtidas, e ainda continuam a ser produzidas sobre a doença e o coronavírus SARS-CoV-2.
Estamos vivendo um momento de expectativa com uma possível vacina para imunizar boa parte da população e conter a pandemia. No início, acreditava-se que a COVID-19 seria semelhante a uma forte pneumonia e que atingia mais o sistema respiratório.
Edição sobre captura de tela da cerimônia oficial do governo: (tempo de visualização: 20:38)
Estamos em 23/10/2020. Todos os brasileiros devem ter ouvido a palavra “nitazoxanida” nos últimos dias, pois fomos surpreendidos por um anúncio, no dia 19/10/2020, de que este medicamento trazia benefícios no combate à COVID-19, principalmente na redução da carga viral.
Revisores: Amanda Gonzalez (facebook: amanda.gonzalez.5264), Isaac Schrarstzhaupt (Twitter: @schrarstzhaupt)
Neste texto apresentamos alguns dos resultados do preprint [4] que analisou um banco de dados de pacientes com COVID-19 pelo método de unsupervised clustering method,
obtendo seis aglomerados com sintomas característicos, cada aglomerado tendo sintomas que, de acordo com os autores, podem ser utilizados para indicar como o paciente irá evoluir ao longo do tempo,
Resumo: Este texto mostra como a política de testagem do Brasil possui influência total no controle de possíveis novas ondas de infecções por SARS-CoV-2.
Imagem: incidência de SRAG em Manaus, semana 40. Boletim Infogripe (@marfcg)
Estamos entrando no mês de Outubro de 2020, sétimo mês da epidemia de COVID-19 no Brasil, e estamos passando por discussões de reaberturas e redução de danos, pois estamos verificando uma queda no número de novos casos e óbitos confirmados por dia.
Revisão: Fernando Kokubun (@fernandokokubun), Rute Maria Gonçalves-de-Andrade (@rutemga2)
Referência artigo original:
T cells take the lead in controlling SARS-CoV-2 and reducing COVID-19 disease severity | La Jolla Institute for Immunology. (2020). Retrieved 19 September 2020, from lji.org/news-events/ne…
Achados podem explicar porque pessoas com 65 anos ou mais enfrentam um risco maior de adoecer gravemente com COVID-19
Desde que o SARS-CoV-2 foi identificado, pesquisadores procuram entender se o sistema imune causa mais mal do que bem durante a fase aguda da COVID-19.