A segunda onda europeia de aumento no número de casos da COVID-19 é uma realidade, assim como os confinamentos, que estão voltando com tudo.
Neste fio, quero mostrar para vocês como isso já apareceu nos gráficos a um bom tempo, e como a nossa reatividade nos faz ir até o ponto onde não temos mais retorno, para só aí reagir.
Hoje temos três principais métricas para acompanhamento das epidemias em cada localidade, que são: casos, as internações e os óbitos.
A métrica de casos seria, na teoria, a mais válida a se acompanhar, pois em uma linha do tempo ela é a primeira que acontece, sendo seguida por internações e, mais tarde, pelos óbitos.
Temos dois problemas no acompanhamento por casos: a falta de testes (isso é um problema específico do Brasil e de alguns outros países) e a demora/burocracia para que os resultados destes testes sejam efetivamente contabilizados para que o acompanhamento possa ser feito.
Além disso, temos o desgaste dos funcionários dos laboratórios centrais (LACENs) que estão protagonizando uma verdadeira batalha diária para processar tantos testes e resultados, o que também é preponderante no atraso dos números de casos.
Como podemos fazer para compensar este problema? Analisar a taxa de crescimento de novos casos em relação aos casos totais. A epidemia, afinal, depende de pessoas para continuar sua transmissão, e sabemos que quanto mais pessoas infectadas temos, em um “mar” de pessoas
suscetíveis à infecção, maior a chance de termos cada vez mais infecções. Esta taxa de crescimento também pode (e deve) ser analisada nos óbitos, para entendermos o atraso entre casos e óbitos e ter uma ideia sobre nosso futuro a curto e médio prazo.
Vamos acompanhar o que aconteceu na Europa para ficar claro como, ao analisar a taxa de crescimento, podemos ver a nova subida bem no começo, antes da “explosão” de novos casos, possibilitando assim intervenções mais pontuais (e mais baratas).
Neste gráfico, fiz a média móvel da taxa de crescimento de casos e óbitos, por semana do ano, na União Européia + Reino Unido (28 países).
Fiz um recorte a partir da semana 22 para que possamos ver bem o que aconteceu a partir da semana 27: uma clara reversão de tendência. E esta reversão de tendência estava lá o tempo todo, não apareceu apenas hoje.
Além disso, conseguimos ver também o atraso desta mesma reversão de tendência ao analisarmos a média da taxa de crescimento de óbitos, como ela apareceu apenas na semana 32, ou seja, 5 semanas.
Onde quero chegar: a semana 27 terminou em 05/07. Entendo que é perfeitamente razoável aguardar por uma confirmação deste indicador, então poderíamos dar, para termos certeza, 30 dias de prazo para ver se essa reversão realmente se confirma em um aumento.
Mesmo assim, isso seria em 05/08. Tivemos as medidas de contenção apenas agora, 31/10, com UTIs lotando, óbitos aumentando, e preocupações sérias tanto para a saúde quanto para a economia. Vejam no recorte por dia como isso fica claro:
O que isso nos diz em relação ao nosso futuro, aqui no Brasil? Em primeiro lugar é bom lembrar que a nossa métrica de casos aqui é extremamente afetada pelos problemas que mencionei no início e também devido a nossa política de testagem ser reativa, ou seja,
doentes geram testes que geram casos, ao invés de testarmos a comunidade e então entendermos ativamente onde estão os infectados antes mesmo de um surto.
Aliás, recomendo também a leitura deste texto que escrevi para a @analise_covid no qual informamos sobre uma possível bolha de subnotificações devido aos testes serem reativos.
É importante lembrar que todos estes problemas na métrica dos casos fazem o número ATRASAR e vir MENOR do que a realidade, ou seja, não afeta esta análise, apenas mostra que podemos estar PIORES do que realmente os gráficos mostram. Vamos ver a mesma comparação em relação ao BR:
Fiz o recorte da semana 36 em diante para vermos o período atual, já que estamos atrasados em relação à União Europeia (a infecção chegou lá primeiro, arrefeceu, e está voltando antes).
Ao analisar o recorte mais a fundo, vemos talvez um pequeno início de reversão de tendência, como aquele que vimos em 05/07 na União Europeia, mas nada que possa ser confirmado ainda.
No boletim do Infogripe, uma ferramenta indispensável, apresentado pelo grande @marfcg, podemos confirmar que estamos tendo reversões de tendência em várias capitais: por isso venho chamando a atenção para essa possível reversão.
Analisando o recorte por dia, podemos ver de maneira mais fácil aquele ponto da possível reversão de tendência:
A minha mensagem com tudo isto é a de que devemos usar ao máximo as métricas disponíveis, mesmo que não sejam as mais ideais, para termos maiores chances de prevenir novas explosões de casos e óbitos como estão acontecendo nos países Europeus.
Não vamos deixar chegar ao ponto da Europa, onde confinamentos fortes e longos estão sendo feitos por relaxamento das medidas precocemente (deliberadamente ou não). Mesmo que pensassem que era melhor não tomar medidas mais drásticas lá atrás devido ao custo,
agora estamos tendo custos maiores, e ainda mais óbitos, que poderiam ter sido evitados. Para finalizar, é importante vermos os gráficos da União Europeia e os do BR desde o início, pois fica claro de que não existem outros pontos que poderiam ser confundidos com essa reversão:
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Variante à vista! Devo me preocupar? Quais as implicações desse recente achado para a pandemia da COVID-19? - 🧶
Autora: Mellanie F. Dutra (@mellziland)
Revisores: Marcelo A. S. Bragatte(@marcelobragatte), Fernando Kokubun (@fernandokokubun)
Imagem: Felix Donghwi Son (Felixvis)
Felix Donghwi Son. Coronavirus 3D images Collection. 2020. Felixvis felixvis.com
A corrida do enfrentamento da COVID-19 é acirrada: a comunidade científica dedica-se cada vez mais a entender o desafio desse vírus peculiar, ao passo que cada resposta que obtemos, nos leva a mais questionamentos, aumentando nosso conhecimento.
A Organização Mundial da Saúde declarou oficialmente a pandemia no início de março de 2020 [1]. Desde esta declaração até o atual momento (outubro de 2020), muitas novas informações foram obtidas, e ainda continuam a ser produzidas sobre a doença e o coronavírus SARS-CoV-2.
Estamos vivendo um momento de expectativa com uma possível vacina para imunizar boa parte da população e conter a pandemia. No início, acreditava-se que a COVID-19 seria semelhante a uma forte pneumonia e que atingia mais o sistema respiratório.
Edição sobre captura de tela da cerimônia oficial do governo: (tempo de visualização: 20:38)
Estamos em 23/10/2020. Todos os brasileiros devem ter ouvido a palavra “nitazoxanida” nos últimos dias, pois fomos surpreendidos por um anúncio, no dia 19/10/2020, de que este medicamento trazia benefícios no combate à COVID-19, principalmente na redução da carga viral.
Revisores: Amanda Gonzalez (facebook: amanda.gonzalez.5264), Isaac Schrarstzhaupt (Twitter: @schrarstzhaupt)
Neste texto apresentamos alguns dos resultados do preprint [4] que analisou um banco de dados de pacientes com COVID-19 pelo método de unsupervised clustering method,
obtendo seis aglomerados com sintomas característicos, cada aglomerado tendo sintomas que, de acordo com os autores, podem ser utilizados para indicar como o paciente irá evoluir ao longo do tempo,
Resumo: Este texto mostra como a política de testagem do Brasil possui influência total no controle de possíveis novas ondas de infecções por SARS-CoV-2.
Imagem: incidência de SRAG em Manaus, semana 40. Boletim Infogripe (@marfcg)
Estamos entrando no mês de Outubro de 2020, sétimo mês da epidemia de COVID-19 no Brasil, e estamos passando por discussões de reaberturas e redução de danos, pois estamos verificando uma queda no número de novos casos e óbitos confirmados por dia.