Um breve resumo para quem não entendeu/não está entendendo o que aconteceu/acontece:
Por todo o mandato, especialistas davam como certa a reeleição de Trump. Mas veio o coronavírus, e uma gestão desastrosa da crise jogou a eleição deste ano no colo de Biden.
Foi quando o partido Republicano passou a explorar o expediente clássico de dificultar o acesso ao voto, algo que já havia garantido vitórias republicanas recentemente. Em resposta, o partido Democrata estimulou o voto antecipado, por correio ou urnas espalhadas nas cidades.
É uma boa estratégia, principalmente em se tratando de um tempo em que devemos respeitar o isolamento social. Mas possui um efeito indesejado: em boa parte dos estados, o voto antecipado é apurado depois.
Isso permitiria a Trump sair na frente na apuração, mas ser superado por Biden dias depois, quando os votos antecipados fossem manualmente contabilizados — o que quebraria com uma sequência de disputas em que o vencedor é confirmado ainda na primeira noite.
Já tem alguns semanas, sem qualquer prova, Trump acusa de fraudulento o sistema de voto antecipado. E passou a plantar a narrativa de que a eleição estava sendo manipulada.
A ideia dele era: anunciar-se como vencedor mesmo antes de entidades sérias confirmarem a vitória. Caso Biden naturalmente o superasse nos estados de apuração mais lenta, Trump chamaria o processo de fraudulento, e pediria a anulação na Justiça.
Veio a apuração. Pelas pesquisas, havia 6 estados e 1 distrito indefinidos. Para ser reeleito, Trump precisava vencer em todos, e ainda tomar para si algumas disputas que pareciam favas contadas para Biden. Por isso Biden aparecia com 90% de chance de vitória.
Dos seis estados, Trump confirmou três: Iowa, Ohio e Florida. E despontava como favorito em outros dois (Georgia e Carolina do Norte) e no distrito do Maine.
Foi quando a Fox News confirmou que Biden vencera no Arizona. E o NY Times passou a considerar Biden favorito na Georgia. Nesse ponto, a "catimba" (que havia desaparecido no período em que Trump achou que venceria) voltou, resultando no discurso golpista de Trump na madrugada.
As apostas, que chegaram virar a favor de Trump na madrugada, voltaram para Biden, que pode somar 286 delegados com o que se desenha até aqui, ou mesmo 306, caso a virada na Pensilvânia se confirme.
A estratégia de Trump é, com base nas próprias mentiras e desfaçatez, levar o caso à Suprema Corte, onde os seis votos dos seis membros conservadores teriam peso maior que a vontade de 70 milhões de eleitores que, até o momento, disseram querer Biden na Casa Branca.
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Agora vem cá, esquerdista brasileiro, eu quero conversar com você.
No Reino Unido, a esquerda apostou em um discurso cada vez mais radical, puro, sem abertura ao diálogo. Veio a eleição, Boris Johnson saiu ainda mais forte, o Brexit se consolidou, a União Europeia está hoje mais fraca.
Nos Estados Unidos, o dono desse discurso mais radical, puro, sem abertura a diálogo, era Bernie Sanders. No palco, ele realmente dava show, empolgava. Na planilha, Trump se dava bem em cima dele, enquanto perdia para Joe Biden.
A gente entra na terapia, quando sai, está o presidente dos Estados Unidos tentando um autogolpe.
Aqui no Brasil, pouco podemos fazer contra isso. Eu só espero que alguns amigos, que abandonaram o bolsonarismo, mas não abandonaram o trumpismo, repensem a postura que vinham tendo.
Porque vocês estão apoiando um projeto de ditador que tenta acabar com a democracia mais importante do planeta.
O que mais me incomoda nas críticas ao sistema eleitoral americano é o uso do brasileiro como exemplar, coisa que ele não é, tanto que não é copiado por nenhuma democracia consolidada.
Nossa maior proteção continua sendo a incompetência dos que têm interesse em burlá-lo.
Mas fica claro na invasão aos bancos de dados do STJ os riscos que corremos.
Dizer isso não significa apoiar as sandices de Bolsonaro. Aliás... A solução que ele aprovou na época em que Cunha presidiu a Câmara era uma mera repetição do que o STF já havia derrubado anos antes. Foi só perda de tempo e recurso público.
Vamos com calma, inclusive da parte dos analistas.
As pesquisas apontavam uma vitória de Biden por boa margem. Mas institutos e imprensa a todo tempo reforçaram que uma penca de fatores poderia bagunçar esse cenário. A começar pelo novo coronavírus.
E tivemos esses fatores de instabilidade. Há apenas 4 dias, por exemplo, os Estados Unidos bateram o recorde mundial de casos de covid-19 em um único dia. Esse é o tipo de coisa que pode desencorajar eleitores — principalmente democratas, já que os negacionistas são republicanos.
Eu mesmo zoei ontem o Nate Silver. Mas, em verdade, ele só cantou errado o resultado da Florida (um estado muito imprevisível) e Carolina do Norte (que segue em aberto). E, claro, houve erros de proporções, como Ohio, que previa um aperto, e deu Trump com folga.
Até agora, o 270toWin não errou nada. Todas as surpresas da noite estavam dentro do que o serviço marcou como "toss-up". Trump confirmou Florida, Ohio e Iwoa, e caminha para confirmar Carolina do Norte e parte do Maine. Biden confirmou Arizona, e caminha para confirmar Georgia.
O 270toWin, que não tem errado nada, dava Pensilvânia, Michigan e Winsconsin para Biden. Quando aplicamos todas essas situações, o mapa rende uma vitória para Biden com 306 delegados.
Na madrugada, o Predict It chegou a virar a favor de Trump. Mas agora também está calculando 306 delegados para Biden.
Está valendo. Como esperado, Donald sai na frente, mas o placar segue em zero.
A contagem está mais avançada no Google, e a diferença já caiu para 5 pontos percentuais.
A apuração começou por Indiana e Kentucky, dois estados marcados como "safe" para Trump. São 19 votos no Colégio Eleitoral, o natural é que Biden perca em ambos.