Agora vem cá, esquerdista brasileiro, eu quero conversar com você.
No Reino Unido, a esquerda apostou em um discurso cada vez mais radical, puro, sem abertura ao diálogo. Veio a eleição, Boris Johnson saiu ainda mais forte, o Brexit se consolidou, a União Europeia está hoje mais fraca.
Nos Estados Unidos, o dono desse discurso mais radical, puro, sem abertura a diálogo, era Bernie Sanders. No palco, ele realmente dava show, empolgava. Na planilha, Trump se dava bem em cima dele, enquanto perdia para Joe Biden.
A esquerda americana foi pragmática e escolheu o nome que teria mais condições de costurar apoios distintos. Porque política se faz somando, e não subtraindo, cancelando. Essas pequenas diferenças são resolvidas depois, em comissões especiais no Congresso, democraticamente.
O Brasil só tem uma chance de se livrar do projeto autoritário de Jair Bolsonaro. É trabalhar nomes e valores que somem e multipliquem. Se seu objetivo é descartar qualquer um que não se alinhe 100% ao que acontece na sua cabeça, você não está ajudando. Bem ao contrário.
Eu não sou esquerdista. As divergências que eu tinha com esquerda me empurraram para a direita. Mas as minhas diferenças com a direita se revelaram tão grandes que minhas diferenças com a esquerda soam hoje ínfimas.
Hoje, estou no clichê da pessoa que não quer rótulos. Porque o rótulo de fato limita. E eu prezo demais por minhas liberdades. Hoje eu sei que a volta à liberdade precisa se dar pela esquerda. Mas com uma opção moderada que consiga somar apoio do centro...
...e até mesmo o apoio pragmático de uma direita mais moderada, democrática. Ela é bem minoritária e silenciosa. Mas existe. São pessoas de bem que em nenhum momento aderiram ao bolsonarismo. Mas, diante das opções que sobraram em 2018, preferiram anular.
Porque, sim, era uma escolha difícil. Tão difícil que eu perdi quase um minuto diante da urna tomando fôlego para votar em Fernando Haddad, mas votei. E eu sei que esses votos nulos estão loucos para não mais serem nulos. Mas eles precisam de canais que topem o diálogo.
Então, aprendamos algo com o mau exemplo britânico, e o bom exemplo americano. Há uma luz brilhando lá no final do túnel.
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A gente entra na terapia, quando sai, está o presidente dos Estados Unidos tentando um autogolpe.
Aqui no Brasil, pouco podemos fazer contra isso. Eu só espero que alguns amigos, que abandonaram o bolsonarismo, mas não abandonaram o trumpismo, repensem a postura que vinham tendo.
Porque vocês estão apoiando um projeto de ditador que tenta acabar com a democracia mais importante do planeta.
O que mais me incomoda nas críticas ao sistema eleitoral americano é o uso do brasileiro como exemplar, coisa que ele não é, tanto que não é copiado por nenhuma democracia consolidada.
Nossa maior proteção continua sendo a incompetência dos que têm interesse em burlá-lo.
Mas fica claro na invasão aos bancos de dados do STJ os riscos que corremos.
Dizer isso não significa apoiar as sandices de Bolsonaro. Aliás... A solução que ele aprovou na época em que Cunha presidiu a Câmara era uma mera repetição do que o STF já havia derrubado anos antes. Foi só perda de tempo e recurso público.
Vamos com calma, inclusive da parte dos analistas.
As pesquisas apontavam uma vitória de Biden por boa margem. Mas institutos e imprensa a todo tempo reforçaram que uma penca de fatores poderia bagunçar esse cenário. A começar pelo novo coronavírus.
E tivemos esses fatores de instabilidade. Há apenas 4 dias, por exemplo, os Estados Unidos bateram o recorde mundial de casos de covid-19 em um único dia. Esse é o tipo de coisa que pode desencorajar eleitores — principalmente democratas, já que os negacionistas são republicanos.
Eu mesmo zoei ontem o Nate Silver. Mas, em verdade, ele só cantou errado o resultado da Florida (um estado muito imprevisível) e Carolina do Norte (que segue em aberto). E, claro, houve erros de proporções, como Ohio, que previa um aperto, e deu Trump com folga.
Um breve resumo para quem não entendeu/não está entendendo o que aconteceu/acontece:
Por todo o mandato, especialistas davam como certa a reeleição de Trump. Mas veio o coronavírus, e uma gestão desastrosa da crise jogou a eleição deste ano no colo de Biden.
Foi quando o partido Republicano passou a explorar o expediente clássico de dificultar o acesso ao voto, algo que já havia garantido vitórias republicanas recentemente. Em resposta, o partido Democrata estimulou o voto antecipado, por correio ou urnas espalhadas nas cidades.
Até agora, o 270toWin não errou nada. Todas as surpresas da noite estavam dentro do que o serviço marcou como "toss-up". Trump confirmou Florida, Ohio e Iwoa, e caminha para confirmar Carolina do Norte e parte do Maine. Biden confirmou Arizona, e caminha para confirmar Georgia.
O 270toWin, que não tem errado nada, dava Pensilvânia, Michigan e Winsconsin para Biden. Quando aplicamos todas essas situações, o mapa rende uma vitória para Biden com 306 delegados.
Na madrugada, o Predict It chegou a virar a favor de Trump. Mas agora também está calculando 306 delegados para Biden.
Está valendo. Como esperado, Donald sai na frente, mas o placar segue em zero.
A contagem está mais avançada no Google, e a diferença já caiu para 5 pontos percentuais.
A apuração começou por Indiana e Kentucky, dois estados marcados como "safe" para Trump. São 19 votos no Colégio Eleitoral, o natural é que Biden perca em ambos.