I. DEFINIÇÃO GERAL. — Não é possível dar uma definição totalmente precisa de Anarquismo. O ideal
designado por este termo, embora tenha sofrido notável evolução no tempo, sempre se manifestou e
manifesta como coisa realizada e elaborada, como aspiração ou como objetivo último e referencial, cheio de significados e de conteúdos, dentro da perspectiva
em que é analisado.
O termo Anarquismo, ao qual freqüentemente é associado o de "anarquia", tem uma origem precisa do
Grego anarkia, sem Governo: através deste vocábulo se indicou sempre uma sociedade, livre de todo o domínio político autoritário, na qual o homem se afirmaria apenas através da própria ação exercida
livremente num contexto sócío-político em que todos
deverão ser livres.
Anarquismo significou, portanto, a
libertação de todo o poder superior, fosse ele de ordem ideológica (religião, doutrinas, políticas, etc.), fosse de ordem política (estrutura administrativa hierarquizada), de ordem econômica (propriedade dos meios de produção), de ordem
social (integração numa classe ou num grupo determinado), ou até de ordem jurídica (a lei). A estes motivos se junta o impulso geral para a liberdade. Daí provém o rótulo de libertarismo, atribuído ao movimento, e de libertário,
empregado para designar o que adere ao
Libertarismo.
Precisados os termos, por Anarquismo se entende o movimento que atribui, ao homem como indivíduo e à coletividade, o direito de usufruir toda a liberdade,
sem limitação de normas, de espaço e de tempo, fora dos limites existenciais do próprio indivíduo:
liberdade de agir sem ser oprimido por qualquer tipo de autoridade, admitindo unicamente os obstáculos da natureza, da "opinião", do "senso comum" e da
vontade da comunidade geral —aos quais o indivíduo se adapta sem constrangimento, por um ato livre de vontade.
Tal definição genérica, avaliada de diversas maneiras por pensadores e movimentos rotulados de
anárquicos, pode ser sintetizada através das palavras retomadas em nosso século, por volta dos anos 20, pelo anárquico Sebastien Faure na Encyclopédie anarchiste:
"A doutrina anárquica resume-se numa única palavra: liberdade".
II. NASCIMENTO E PRIMEIRO DESENVOLVIMENTO DO
ANARQUISMO. — O espírito libertário ou, por outras palavras, o anseio pela liberdade absoluta, é próprio de todas as épocas históricas. Pode-se até afirmar que o
Anarquismo se apresentou com semblantes heterogêneos desde a antigüidade clássica, acompanhando, de vários modos, o desenvolvimento sócio-cultural. A história dá-nos três formas diferenciadas da manifestação do fenômeno:
a) em primeiro lugar existe a manifestação de um Anarquismo a nível puramente intelectual, em autores de excepcional ou insignificante relevo que se
tornaram críticos da autoridade política do seu tempo e que discutiram a eventualidade de construir uma sociedade antiautoritária
ou, pelo menos, a-autoritária. Muitas vezes, mas não sempre, a apresentação de concepções libertárias coincidiu com propostas genericamente definidas como utopistas; b) em segundo lugar, a aspiração anárquica está ligada a
afirmações de tom mais ou menos vagamente religioso.
Entram, neste âmbito, todos os apelos milenarísticos de uma sociedade perfeita, onde a
meditação entre o humano e o divino não precisaria de
particulares supra-estruturas autoritárias e onde, mediante a eliminação destas, a sociedade perfeita poderia verificar-se imediatamente;
c) finalmente, as duas manifestações apontadas, intelectualística uma e fideística outra, foram colocadas freqüentemente em confronto em movimentos efetivos de tipo social, geralmente rebeldes, os quais, em ocasiões históricas específicas, congregavam numerosas forças sociais,
particularmente do setor agrícola, sob a forma de protesto coletivo e contestador das autoridades
políticas e das estruturas sociais existentes. Basta pensar nas freqüentes revoltas medievais dos
camponeses da Grã-Bretanha para chegarem às posições libertárias, do movimento
dos cavadores (diggers) na revolução do século XVII ou nas revoltas dos camponeses alemães liderados por Thomas Munzer rebelados contra os príncipes ou, finalmente, em numerosas expressões extremas de movimentos anabatistas.
As concepções libertárias só tiveram um desfecho irrevogável no mundo político do século XVIII, como primeira forma de reação e de união simultânea em relação ao racionalismo iluminista, provocando e aprofundando a discussão sobre o conceito de
autoridade.
Esta — e o exemplo iluminista é
exatamente o de Rousseau — é acolhida no campo político, mas posteriormente limitada e rejeitada no plano individual. A contradição ideal presente nessa relação mantém-se intacta se bem que levada a um plano de luta política efetiva, no curso da
Revolução Francesa. Nesta, o grupo jacobino, partidário maior
dos princípios da autoridade e da centralização, produziu, em seu seio, forças contestadoras e libertárias, tais como, por exemplo, os enragés (os enraivecidos) assim como,
no final do ciclo revolucionário, alguns expoentes de primeiro plano da conspiração babuvista pela igualdade.
Querem continuação da thread?
Gostou da thread? Deixe o feedback!
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
II. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO
ANARQUISMO. — Com a Revolução Francesa e com o desenvolvimento industrial, nasce e se afirma um tipo de Anarquismo a que pode ser dado o nome de "moderno" e que permanece
ainda no debate político de nossa época. O primeiro índice desta mudança é a consagração do termo anarquia em sentido positivo, contraposto ao uso e até então quase que exclusivo, no sentido de
caos e de desordem. Com essa característica, sempre
absoluta do presente
social, apontando para uma ruptura revolucionária (a negação pura será talvez o único componente a ser
colocado em evidência), a anarquia recebe formas novas de elaboração teórica e de aplicação prática que
se vão acentuando, cada vez mais, com o decorrer dos anos.
Deixar na mão do mercado significa não fazer nada? - Marcel Bernardo
A dica da noite vem para complementar o artigo da manhã, pois vai reforçar que o mercado é superior ao estado na hora de solucionar os problemas!
+
Eis um pequeno trecho: “[...] o planejamento descentralizado pondera que problemas econômicos são, via de regra, altamente complexos e dinâmicos, sendo melhor solucionados pelos mesmos agentes inseridos nesse cenário, negando a existência de uma bala de prata para resolver i+
mpasses. O núcleo dessa abordagem é o conhecimento tácito e que medidas devem ser tomadas de baixo para cima, ou seja, sustentando-se no princípio de que a interação entre milhares ou milhões de agentes econômicos gera um conhecimento infinitamente maior que aquele detido +
Como o livre mercado lidaria com epidemias e quarentenas
- Robert P. Murphy
A dica da manhã fica com um artigo traduzido de Robert Murphy e trata de um tema polêmico que trouxe debates para o meio libertário: pandemias e quarentena.
+
No texto o autor faz uma rápida análise de como o sistema privado lidaria com este problema que está em alta na mídia hoje e apresenta soluções em seu breve texto.
+
Eis um pequeno trecho: “No atual ambiente jurídico, empresas aéreas, de ônibus, parques de diversão, hotéis — e assim por diante — não podem criar e seguir a sua própria lista de pessoas que podem ou não podem adentrar as suas propriedades. Por exemplo, essas empresas não podem +
Marx foi, sem dúvidas, um dos maiores filósofos e sociólogos do século XX, e que teve ampla influência em diversos campos de estudo, principalmente por suas críticas ao funcionamento da sociedade
capitalista.
Suas premissas fundamentais pautam-se, em primeiro lugar, de que existem claras distinções nas perspectivas que os indivíduos detém com base nas classes sociais em que estão inseridos. Um indivíduo que faz parte do proletariado, tem uma vivência proletária,
e portanto terá perspectivas proletárias acerca da realidade em que está inserida. Da mesma forma, um indivíduo burguês terá perspectivas burguesas sobre a realidade.
Essas diferenças de perspectivas sobre os diversos contextos históricos e sociais que os indivíduos se encontram,
O contexto de crises econômicas, relações de produção, condições de classes, culminaram numa necessidade de desenvolver uma ferramenta para a análise social.
Uma ciência que tratasse, através do conhecimento empírico, novas respostas e soluções para patologias sociais. Durkheim pensava que esse era um papel de um sociólogo: diagnosticar e receber os dados sociais para encontrar soluções para essas mazelas que surgiam no século XIX.
Seguindo uma tradição positivista no seu texto “As Regras do Método Sociológico”, Durkheim acreditava que a sociedade podia ser vista através de fenômenos sociais da mesma forma que a ciência natural. Podendo ser empregado o método científico e explicado por leis sociológicas.
Em O Bode Expiatório, René Girard, um dos críticos mais profundos e originais do nosso tempo, prossegue a sua reflexão sobre o “mecanismo sacrificial”, ao qual devemos, do ponto de vista antropológico, a civilização e a religião, e, do ponto de
+
vista histórico e psicológico, os fenómenos de violência coletiva de que o século XX foi a suprema testemunha e que mesmo hoje ameaçam a coabitação dos humanos sobre a Terra. Ao aplicar a sua abordagem a textos persecutórios, documentos que relatam o fenómeno da…
violência coletiva da perspetiva do perseguidor tais como o Julgamento do Rei de Navarra, do poeta medieval Gillaume de Machaut, que culpa os judeus pela Peste Negra, Girard descobriu que estes apresentam surpreendentes semelhanças estruturais com os mitos, o que o leva a…