II. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO
ANARQUISMO. — Com a Revolução Francesa e com o desenvolvimento industrial, nasce e se afirma um tipo de Anarquismo a que pode ser dado o nome de "moderno" e que permanece
ainda no debate político de nossa época. O primeiro índice desta mudança é a consagração do termo anarquia em sentido positivo, contraposto ao uso e até então quase que exclusivo, no sentido de
caos e de desordem. Com essa característica, sempre
absoluta do presente
social, apontando para uma ruptura revolucionária (a negação pura será talvez o único componente a ser
colocado em evidência), a anarquia recebe formas novas de elaboração teórica e de aplicação prática que
se vão acentuando, cada vez mais, com o decorrer dos anos.
No campo do debate doutrinai, o momento do desenvolvimento de um verdadeiro e próprio "pensamento anárquico" pode ser fixado nos fins do século XVIII, numa obra famosa e popular e ao
mesmo tempo grandiosa e abstrusa: a Enquiry concerning political justice de William Godwin.
Nessa obra, os temas, que se tornarão mais tarde típicos do Anarquismo, a recusa de autoridades governantes e da lei são inseridos numa dinâmica
dominada pela razão e por um justo equilíbrio entre necessidade e vontade, terminando na demanda de uma liberdade total no campo
ético-político, realizável apenas num regime comunitário que desaprova a propriedade privada. Estes princípios, diversamente
interpretados e ulteriormente elaborados, fornecem o ponto de partida para o desenvolvimento posterior de toda a corrente ideal que, no decorrer do tempo,
se identifica com o Anarquismo comunista, ao qual vários pensadores ou simples propagandistas juntarão,
continuamente, novos elementos. Se em Godwin o Anarquismo ainda não se apresenta como concepção completa, no decorrer do século XIX adquire uma
organicidade como expressão e ponto de encontro de um debate ideal que encontra, na realidade social, uma correspondência imediata. De quando em quando, o
Anarquismo apresenta-se com cores políticas e sociais e só raramente mantém integralmente a caracterização de prevalência
ética, que era notória na sua primeira existência histórica. Nesta luta evolutiva, participada por pensadores políticos e "organizadores" dessemelhantes entre si — como Proudhon e Bakunin, Stirner e Malatesta, Kropotkin e Tolstoi, e outros — vão-se configurando algumas divisões
Fundamentais e issensões as quais, apesar de múltiplas tentativas, não foram nunca sanadas. A cisão de base situa-se entre o Anarquismo individualista e o Anarquismo comunista. O primeiro, que tem como autor principal a Max
Stirner, apóia tudo sobre o indivíduo.
Este, através do próprio "egoísmo" e da força que dele deriva afirma-se a si mesmo e à sua própria liberdade mas apenas na condição existencial totalmente privada de
componente autoritário, em contraposição e também em equilíbrio com todas as outras forças e egoísmos dos outros
indivíduos, únicos na arrancada da ação para alcançar o fim último, que é a realização completa do EU, numa sociedade não organizada e
independente de todo o vínculo superior. O Anarquismo comunista, que representa historicamente um passo à frente em relação ao Anarquismo
individualista, vê a realização plena do EU numa sociedade onde cada um for induzido a sacrificar uma parte da liberdade pessoal, mais precisamente a econômica, pela vantagem da liberdade social. Esta
pode ser alcançada através de uma organização comunitária dos meios de
e do trabalho e numa distribuição comum dos produtos, na proporção das necessidades de cada um, desde que nela sejam salvaguardados os princípios fundamentais do Anarquismo, a saber, o exercício das mais amplas liberdades para o indivíduo e para a sociedade. Como subcategoria do
Anarquismo comunista, ou como
estádio mais atrasado do mesmo, encontramos o anarquismo coletivista, teorizado por Bakunin e
aplicado em Espanha, que propõe o comunitarismo do trabalho e da produção, colocando em comum todos os meios a ela necessários, mas deixando a cada um
usufruir individualmente os resultados do trabalho pessoal. No quadro das correntes descritas, interpõem-se outras subdivisões que acentuam os aspectos sociais
— de claras ligações com o mundo do trabalho e em particular com o proletariado — ou que fazem
ressaltar os módulos político-ideais, ou seja, a temática relativa ao Estado, ao Governo e, mais genericamente, à autoridade. Todas estas correntes que são mais para examinar em suas relações recíprocas e em seu devir histórico do que para aceitar
— dada a sua rigidez esquemática — plasmaram o substrato dentro do qual se moveu o mundo que até hoje se voltou para o Anarquismo.
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I. DEFINIÇÃO GERAL. — Não é possível dar uma definição totalmente precisa de Anarquismo. O ideal
designado por este termo, embora tenha sofrido notável evolução no tempo, sempre se manifestou e
manifesta como coisa realizada e elaborada, como aspiração ou como objetivo último e referencial, cheio de significados e de conteúdos, dentro da perspectiva
em que é analisado.
O termo Anarquismo, ao qual freqüentemente é associado o de "anarquia", tem uma origem precisa do
Grego anarkia, sem Governo: através deste vocábulo se indicou sempre uma sociedade, livre de todo o domínio político autoritário, na qual o homem se afirmaria apenas através da própria ação exercida
livremente num contexto sócío-político em que todos
deverão ser livres.
Deixar na mão do mercado significa não fazer nada? - Marcel Bernardo
A dica da noite vem para complementar o artigo da manhã, pois vai reforçar que o mercado é superior ao estado na hora de solucionar os problemas!
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Eis um pequeno trecho: “[...] o planejamento descentralizado pondera que problemas econômicos são, via de regra, altamente complexos e dinâmicos, sendo melhor solucionados pelos mesmos agentes inseridos nesse cenário, negando a existência de uma bala de prata para resolver i+
mpasses. O núcleo dessa abordagem é o conhecimento tácito e que medidas devem ser tomadas de baixo para cima, ou seja, sustentando-se no princípio de que a interação entre milhares ou milhões de agentes econômicos gera um conhecimento infinitamente maior que aquele detido +
Como o livre mercado lidaria com epidemias e quarentenas
- Robert P. Murphy
A dica da manhã fica com um artigo traduzido de Robert Murphy e trata de um tema polêmico que trouxe debates para o meio libertário: pandemias e quarentena.
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No texto o autor faz uma rápida análise de como o sistema privado lidaria com este problema que está em alta na mídia hoje e apresenta soluções em seu breve texto.
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Eis um pequeno trecho: “No atual ambiente jurídico, empresas aéreas, de ônibus, parques de diversão, hotéis — e assim por diante — não podem criar e seguir a sua própria lista de pessoas que podem ou não podem adentrar as suas propriedades. Por exemplo, essas empresas não podem +
Marx foi, sem dúvidas, um dos maiores filósofos e sociólogos do século XX, e que teve ampla influência em diversos campos de estudo, principalmente por suas críticas ao funcionamento da sociedade
capitalista.
Suas premissas fundamentais pautam-se, em primeiro lugar, de que existem claras distinções nas perspectivas que os indivíduos detém com base nas classes sociais em que estão inseridos. Um indivíduo que faz parte do proletariado, tem uma vivência proletária,
e portanto terá perspectivas proletárias acerca da realidade em que está inserida. Da mesma forma, um indivíduo burguês terá perspectivas burguesas sobre a realidade.
Essas diferenças de perspectivas sobre os diversos contextos históricos e sociais que os indivíduos se encontram,
O contexto de crises econômicas, relações de produção, condições de classes, culminaram numa necessidade de desenvolver uma ferramenta para a análise social.
Uma ciência que tratasse, através do conhecimento empírico, novas respostas e soluções para patologias sociais. Durkheim pensava que esse era um papel de um sociólogo: diagnosticar e receber os dados sociais para encontrar soluções para essas mazelas que surgiam no século XIX.
Seguindo uma tradição positivista no seu texto “As Regras do Método Sociológico”, Durkheim acreditava que a sociedade podia ser vista através de fenômenos sociais da mesma forma que a ciência natural. Podendo ser empregado o método científico e explicado por leis sociológicas.
Em O Bode Expiatório, René Girard, um dos críticos mais profundos e originais do nosso tempo, prossegue a sua reflexão sobre o “mecanismo sacrificial”, ao qual devemos, do ponto de vista antropológico, a civilização e a religião, e, do ponto de
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vista histórico e psicológico, os fenómenos de violência coletiva de que o século XX foi a suprema testemunha e que mesmo hoje ameaçam a coabitação dos humanos sobre a Terra. Ao aplicar a sua abordagem a textos persecutórios, documentos que relatam o fenómeno da…
violência coletiva da perspetiva do perseguidor tais como o Julgamento do Rei de Navarra, do poeta medieval Gillaume de Machaut, que culpa os judeus pela Peste Negra, Girard descobriu que estes apresentam surpreendentes semelhanças estruturais com os mitos, o que o leva a…