Uma das tragédias de um governo como o de @jairbolsonaro reside na normalização da desumanidade. Estou vendo pessoas respondendo ao fato de o presidente ter CELEBRADO o suposto fracasso de uma vacina (e a morte de um voluntário) com um condescendente "e isso te surpreende?".
O problema na postura por trás do "isso ainda te surpreende?" é que, de forma implícita, trata como natural o que é aberração e como aberração algo que deve ser natural (o horror diante da crueldade, mesmo que esta seja padrão de comportamento do presidente do país).
Então, sim, eu AINDA ME SURPREENDO. E espero me surpreender sempre diante de ações e falas desumanas.
A perversidade de alguém como @jairbolsonaro encontra-se também na forma como aos poucos habitua o país ao horror, como diminui nossa capacidade de ficarmos chocados.
Eu NUNCA vou me conformar à postura de "nhé, é o Bolsonaro; você esperava o quê?". Não podemos permitir que ele nos anestesie, pela crueldade constante, à figura de um presidente que só abre a boca para expelir ódio, provocações e intolerância.
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Há algumas semanas, comentei CoroNation, documentário de Ai Weiwei rodado por diversos cinegrafistas anônimos em Wuhan durante o lockdown na região, e elogiei bastante. Pois hoje vi um ainda mais sólido: 76 Dias, dirigido por Weixi Chen, Hao Wu e um realizador anônimo.
Enquanto CoroNation se preocupava muito (como seria de se esperar de Ai Weiwei) com as falhas sistêmicas do governo chinês, 76 Dias basicamente se tranca em um hospital durante o lockdown, retratando as várias etapas enfrentadas pela equipe naquele período.
Do pânico inicial, quando enfermeiros e médicos enfrentam uma quase invasão de enfermos desesperados por abrigo e tratamento, até a alta dos últimos pacientes quase três meses depois, 76 Dias é um doc que jamais esquece a dimensão humana da pandemia.
Vi agora "Belushi", documentário sobre um dos atores/comediantes mais brilhantes que o Saturday Night Live revelou em todas as suas décadas no ar. O filme é construído a partir de áudios com pessoas que o conheceram (esposa, amigos, parceiros profissionais), animação e arquivo.
As imagens de arquivo, diga-se de passagem, são o ponto forte do documentário, trazendo filmes caseiros, bastidores de produção e entrevistas. Mas - e adoro quando uma biografia consegue isso - tudo a serviço de uma investigação de personagem, de tentar entender quem ele era.
A ideia do "palhaço trágico", claro, é um clichê tentador de se aceitar ("Mas, doutor, eu sou Pagliacci."), mas Belushi, advoga o filme, era um indivíduo cujos autoquestionamentos tinham mais a ver com aquela coceira que todos temos para descobrir quem somos do que com depressão.
Em 2016, o então presidente da África do Sul, Jacob Zuma, viu seu cargo ser ameaçado por um imenso escândalo de corrupção envolvendo seu governo (que já havia protagonizado vários): descobriu-se que os bilionários irmãos Gupta estavam controlando várias estatais.
No entanto, quando o escândalo começava a ganhar vulto, eclodiu um movimento civil - envolvendo várias entidades e ativistas de esquerda, inclusive - protestando contra a desigualdade econômica no país e o fato de a minoria branca dominar a maior parte dos recursos.
A violência nas ruas ganhou vulto, houve ameaça de guerra civil e a situação se tornou cada vez mais instável e perigosa.
E foi então que jornalistas descobriram, em um HD pertencente aos Guptas, cerca de 200 mil emails que colocaram a situação sob outro foco.
Eu acho que em algum momento os profissionais de saúde mental vão ter que reconhecer a existência de uma doença específica chamada "Bipolaridade de Twitter". Eu sei que sofro disso.
Ela envolve mudanças bruscas de humor e expectativas em resposta à timeline.
Há instantes em que, por algum acaso, a timeline me mostra em sequência uma série de tweets otimistas, alegres, inspiradores. Quando percebo, minhas respostas emocionais se recalibram de acordo e sinto um imenso amor pelo mundo.
Já em outros (que, infelizmente, são mais frequentes), a timeline traz notícias e opiniões pesadas, terríveis, que parecem negar qualquer possibilidade de humanidade - e sem perceber já começo a refletir isso nos meus próprios tweets.
O nível de sociopatia de @jairbolsonaro: comemorar o aparente fracasso de uma vacina contra o coronavírus por julgar que isto prejudicaria um adversário político. E mais grave ainda é saber que a Anvisa possivelmente agiu para atender ao chefe.
Não se trata apenas de @jairbolsonaro, esse miliciano de Q.I. negativo, ter considerado um suposto fracasso de uma vacina como "mais uma que Jair ganha"; há também o fato de ele ter, pra isso, basicamente comemorado a morte do voluntário.
É por isso que não sinto qualquer hesitação em dizer que @jairbolsonaro é um sociopata: suas ações e falas demonstram uma incapacidade completa de empatia, de reconhecer tragédias além da preocupação de como estas podem afetá-lo pessoalmente.
Errr... O cara postou a imagem na própria conta. Dito isso, MESMO que eu tivesse feito a imagem (e não ele), explique o que ela teria a ver especificamente com o cara ser negro.
Vamos ver: o cara diz que Kamala Harris não é negra, é criticado, publica uma foto de si mesmo com uma suástica photoshopada na testa, eu replico com um comentário jocoso (que é o que ele merece NO MÍNIMO) e aí um outro sujeito aparece pra implicar com quem? Comigo. Claro.