Em 2016, o então presidente da África do Sul, Jacob Zuma, viu seu cargo ser ameaçado por um imenso escândalo de corrupção envolvendo seu governo (que já havia protagonizado vários): descobriu-se que os bilionários irmãos Gupta estavam controlando várias estatais.
No entanto, quando o escândalo começava a ganhar vulto, eclodiu um movimento civil - envolvendo várias entidades e ativistas de esquerda, inclusive - protestando contra a desigualdade econômica no país e o fato de a minoria branca dominar a maior parte dos recursos.
A violência nas ruas ganhou vulto, houve ameaça de guerra civil e a situação se tornou cada vez mais instável e perigosa.

E foi então que jornalistas descobriram, em um HD pertencente aos Guptas, cerca de 200 mil emails que colocaram a situação sob outro foco.
Ansiosos para desviar a atenção para longe de seus negócios obscuros, os Guptas e o filho do presidente Jacob Zuma haviam contratado uma empresa de relações-públicas (e estratégia política) justamente com o objetivo de criar instabilidade no país.
Aproveitando algo que era verdade (o fato de as minorias brancas dominarem a África do Sul economicamente), a empresa, Bell Pottinger, manipulou a opinião pública através de subterfúgios e de doações supostamente desinteressadas a grupos ativistas.
Eles sabiam que a tensão racial era uma questão delicada e dolorosa para o país e que seria fácil inflamar a população. E conseguiram.

Só não contavam que os emails seriam descobertos. Como resultado, a população se voltou de vez contra Zuma e os Guptas.
E a Bell Pottinger foi investigada e punida no Reino Unido (onde havia sido criada por Timothy Bell).

Bell que, ao longo das décadas, trabalhou para Margaret Thatcher, Pinochet, a família Al-Assad, Lukashenko, entre outras figurinhas carimbadas do tipo.
Essa história é contada no ótimo documentário "Influence", de Diana Neille e Richard Poplak, que esteve no @etudoverdade e agora está no @DOCNYCfest.
Um outro exemplo da atuação da Bell Pottinger, por sinal, foi na eleição de Mandela, quando trabalhou para o então presidente F.W. de Klerk, que governou o país durante o apartheid e tentou se manter no poder depois deste.

Mas aqui a estratégia da Bell Pottinger foi outra:
Eles SABIAM que não haveria modo de derrotar Mandela, então fizeram uma campanha negativa com o objetivo de despertar medo suficiente na população branca para que votassem no partido de de Klerk. Por quê? Para que este pudesse colocar freios na Constituinte que se formaria.
A ideia era eleger um número suficiente de parlamentares para impedir que Mandela e seu partido, o Congresso Nacional Africano, pudessem escrever a Constituição livremente.

Conseguiram. E garantiram a manutenção do status quo branco.
Esta estratégia de dividir para conquistar vem se tornando padrão na manipulação da opinião pública para beneficiar a elite econômica: numericamente, as classes menos favorecidas teriam poder suficiente para dominar as eleições; divididas, porém, se enfraquecem e falham.
O caso da Bell Pottinger se tornou emblemático por resultar em provas contundentes do processo de manipulação da opinião pública através da cizânia, mas podem ter certeza de que somos todos cobaias de experimentos e ações similares.

O que é apavorante.

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