Sugestão de pauta para os amigos jornalistas: acurácia de oxímetros portáteis vendidos no Brasil. Colegas médicos, notaram alguma mudança na qualidade das leituras dos oxímetros recentemente?
A saturação de oxigênio mostrada é resultado de um algoritmo matemático que requer a correta aferição da frequência cardíaca. Se a FC estiver incorreta ou for instável (ex: arritmia) no aparelho, a saturação calculada será também incorreta.
Profissionais de saúde entendem essa e outras limitações (esmalte de unha, temperatura da mão, movimento, tensão no pulso, etc) e acabam fazendo alguns ajustes até conseguir uma medição que julguem adequada.
Pré pandemia, esses equipamentos eram praticamente restritos a profissionais de saúde e pacientes com doenças respiratórias crônicas. Os mais baratos custavam uns R$150 no Brasil, ou uns US$30 no exterior. As melhores marcas sempre foram caras, na faixa dos US$200.
Minha impressão é que mesmo os equipamentos baratos eram razoavelmente acurados, já que profissionais de saúde tinham oportunidades de comparar os resultados de seus equipamentos portáteis contra os acurados (e caros) monitores hospitalares. Uma certa “seleção natural” ocorria.
Mas a pandemia fez as vendas de oximetros portáteis explodirem, principalmente para pacientes que nunca usaram esse equipamento antes. Agora são vendidos em farmácias, incrivelmente mais baratos que antes. Aqui na Inglaterra encontro até por UMA libra (£1) e frete grátis!
Importante frisar que a grande maioria dos oxímetros baratos vendidos por aí não passaram por aferição do INMETRO ou aprovação da ANVISA. Exceto as marcas tradicionais, quase todos são “NOT FOR MEDICAL USE” (em letras minúsculas).
Pessoas saudáveis vivem com saturação periférica de oxigênio (SpO2) em uma faixa estreita de 95-100%, em geral ~97-98% Uma leitura abaixo de 95%, na ausência de doença pulmonar crônica, “acorda” até o mais cansado dos profissionais de saúde.
Pré-pandemia, *em minha experiência*, raramente os oxímetros portáteis davam resultados >1% discrepantes uns dos outros (assumindo frequência cardíaca corretamente detectada e regular). Dos produtos baratos vendidos online, poucos detalham o nível de precisão. Alguns dizem +-3%.
Sem avaliação independente é difícil acreditar nessas especificações. Mas agora vejo pessoas jovens, saudáveis e assintomáticas com SpO2 94-95%. Doença assintomática ou equipamento defeituoso?
Em plena pandemia de COVID, com SpO2 <95% sendo utilizado como marcador de gravidade para possível hospitalização, dezenas de milhares de oxímetros portáteis não regulados estão sendo vendidos diretamente a pacientes, sem nenhuma instrução ou treinamento.
Uma precisão de 3% é inadmissível em um marcador tão importante para o qual há um faixa tão estreita de normalidade (5%). Em comparação, termômetros caseiros em geral são acurados para +-0.2°C, com uma faixa de normalidade 10 vezes maior que a precisão do intrumento.
Imagino que seja possível que pessoas com sintomas leves estejam buscando atendimento médico desnecessariamente devido a equipmentos falhos, expondo a si mesmos e a equipe de saúde a riscos. Sem falar nos custos dos EPIs…
Colegas da área da saúde, escutaram relatos de pacientes que buscaram atendimento por baixa saturação em casa, mas que no equipamento hospitalar aparenta normalidade? Ou que motivaram hospitalização ou exames diagnósticos desnecessários?
Relato de caso interessantíssimo publicado ontem: paciente americano imunocomprometido apresentou COVID19 e manifestou 3 recorrências sintomáticas comprovadas, com partículas virais intactas (“vírus vivo”) até quase 5 meses após a infecção inicial.
Esse não é um caso típico e não deve ser interpretado como tal. Paciente com doença autoimune grave diagnosticada 22 anos antes, em tratamento crônico com múltiplos imunosupressores, anticorpos monoclonais, corticóides e anticoagulantes.
Em suas várias reinfecções, recebeu Remdesivir, Regeneron, Hidroxicloroquina e altas doses de corticóides. Apesar de efetivos em reduzir a carga viral, não impediram as recorrências.
Um cidadão comum, chamado Jair, que manifesta sintomas e é confirmado com COVID19 tem 80% chance de apresentar uma gripinha, e 98% de chance de sobreviver. Mas ele vai dar crédito ao tratamento milagroso que recebeu. Por isso fiz uns cálculos aqui. Segue o fio.
Primeiro dia da reabertura de bares e restaurantes ontem no 🇬🇧. Após quase 4 meses isolado, decidi tomar café da manhã em um restaurante em Londres para ver como seria a experiência de comer fora de casa pela primeira vez em tanto tempo.
Primeira coisa foi a obrigatoriedade de passar álcool gel na mão de todos que entram. E a restrição no número de pessoas dentro do estabelecimento. Até aí tudo bem. Mas nenhuma fila, o que nos surpreendeu.
Poucas mesas e bastante espaço entre elas. Detalhe que esse é um restaurante que era sempre lotadíssimo nos sábados de manhã em Notting Hill.
Estudo publicado hoje na Nature Medicine mostra que 60% dos pacientes verdadeiramente assintomáticos mas infectados pelo SARS-CoV-2 possuem lesões pulmonares identificáveis na tomografia. (N=37)
Além disso, os pacientes assintomáticos eliminam resíduos virais por mais tempo que os sintomáticos [leves]. Mas isso *não* quer dizer que sejam infecciosos por mais tempo (provavelmente não), embora mais estudos sejam necessários.
Pacientes assintomáticos tem títulos (quantidade) de anticorpos detectáveis em geral menores do que os sintomáticos.
Já escutou a história de que quando o governo anuncia 1000 mortes por dia, isso não quer dizer que realmente morreram 1000 pessoas naquele dia pois representam atrasos de confirmação laboratorial de mortes que ocorreram vários dias ou semanas antes?
O mesmo atraso diagnóstico faz com que os números reais de mortes/dia sejam na realidade MAIORES do que os dados de mortes *notificadas* naquele dia. Sabemos isso pois o banco de dados de pacientes graves COVID19 nos dá o dia exato do óbito de cada paciente.
Quando comparamos o número de mortes notificada diariamente pelo Ministério da Saúde vs. o número de mortes que ocorreram naquela data nos hospitais brasileiros, fica evidente que TODOS OS DIAS morrem mais pessoas do que as mortes anunciadas.
O médico que receita Cloroquina é o mesmo que prescreve/solicita:
- antibiótico para tosse
- antibiótico para diarréia
- antibiótico para dor de garganta
- RX ou Tomografia para dor nas costas
- longas listas de exames de rotina
Não seja esse médico. Esse é o mau médico.
O médico que prescreve cloroquina é o médico que:
- sempre busca agradar o paciente
- sempre tem certeza de seus diagnósticos, condutas e tratamentos
- mesmo que bem intencionado, sujeita o paciente a riscos superiores aos benefícios
Não seja esse médico. Esse é o mau médico.
O médico que prescreve cloroquina:
- não tem conhecimento básico para poder avaliar a literatura médica atual e separar o joio do trigo.
- está preso na década de 80, quando a medicina era baseada em experiência e não em ciência.