Relato de caso interessantíssimo publicado ontem: paciente americano imunocomprometido apresentou COVID19 e manifestou 3 recorrências sintomáticas comprovadas, com partículas virais intactas (“vírus vivo”) até quase 5 meses após a infecção inicial.
Esse não é um caso típico e não deve ser interpretado como tal. Paciente com doença autoimune grave diagnosticada 22 anos antes, em tratamento crônico com múltiplos imunosupressores, anticorpos monoclonais, corticóides e anticoagulantes.
Em suas várias reinfecções, recebeu Remdesivir, Regeneron, Hidroxicloroquina e altas doses de corticóides. Apesar de efetivos em reduzir a carga viral, não impediram as recorrências.
O sequenciamento do virus mostra que NÃO foram reinfecções, e sim uma infecção persistente. Mas houve evolução rápida do vírus nesse paciente, em especial em regiões virais responsáveis pelo acoplamento com células humanas: ~40% das mutações estavam em 2% do genoma viral.
Importante realçar que nenhuma das mutações detectadas parece conferir resistência aos medicamentos (ufa!). Isso é corroborado pelo fato de que a carga viral caiu rapidamente após a infusão dos medicamentos.
Esse caso é interessante por algumas razões: 1) COVID19 pode ser uma infecção persistente em alguns pacientes imunologicamente debilitados. 2) Carga viral baixa e anticorpos positivos não foram suficientes para impedir recorrência.
3) Imunosupressão no período de replicação viral (primeiros sintomas) **pode** ser perigosa.
Embora o paciente fosse extremamente imunocomprometido, serve o alerta para que evitemos uso inadequado de dexametasona/corticóides em casos leves e iniciais.
4) Alguns raros pacientes são potencialmente infecciosos por muito mais tempo que imaginávamos.
Sugestão de pauta para os amigos jornalistas: acurácia de oxímetros portáteis vendidos no Brasil. Colegas médicos, notaram alguma mudança na qualidade das leituras dos oxímetros recentemente?
A saturação de oxigênio mostrada é resultado de um algoritmo matemático que requer a correta aferição da frequência cardíaca. Se a FC estiver incorreta ou for instável (ex: arritmia) no aparelho, a saturação calculada será também incorreta.
Profissionais de saúde entendem essa e outras limitações (esmalte de unha, temperatura da mão, movimento, tensão no pulso, etc) e acabam fazendo alguns ajustes até conseguir uma medição que julguem adequada.
Um cidadão comum, chamado Jair, que manifesta sintomas e é confirmado com COVID19 tem 80% chance de apresentar uma gripinha, e 98% de chance de sobreviver. Mas ele vai dar crédito ao tratamento milagroso que recebeu. Por isso fiz uns cálculos aqui. Segue o fio.
Primeiro dia da reabertura de bares e restaurantes ontem no 🇬🇧. Após quase 4 meses isolado, decidi tomar café da manhã em um restaurante em Londres para ver como seria a experiência de comer fora de casa pela primeira vez em tanto tempo.
Primeira coisa foi a obrigatoriedade de passar álcool gel na mão de todos que entram. E a restrição no número de pessoas dentro do estabelecimento. Até aí tudo bem. Mas nenhuma fila, o que nos surpreendeu.
Poucas mesas e bastante espaço entre elas. Detalhe que esse é um restaurante que era sempre lotadíssimo nos sábados de manhã em Notting Hill.
Estudo publicado hoje na Nature Medicine mostra que 60% dos pacientes verdadeiramente assintomáticos mas infectados pelo SARS-CoV-2 possuem lesões pulmonares identificáveis na tomografia. (N=37)
Além disso, os pacientes assintomáticos eliminam resíduos virais por mais tempo que os sintomáticos [leves]. Mas isso *não* quer dizer que sejam infecciosos por mais tempo (provavelmente não), embora mais estudos sejam necessários.
Pacientes assintomáticos tem títulos (quantidade) de anticorpos detectáveis em geral menores do que os sintomáticos.
Já escutou a história de que quando o governo anuncia 1000 mortes por dia, isso não quer dizer que realmente morreram 1000 pessoas naquele dia pois representam atrasos de confirmação laboratorial de mortes que ocorreram vários dias ou semanas antes?
O mesmo atraso diagnóstico faz com que os números reais de mortes/dia sejam na realidade MAIORES do que os dados de mortes *notificadas* naquele dia. Sabemos isso pois o banco de dados de pacientes graves COVID19 nos dá o dia exato do óbito de cada paciente.
Quando comparamos o número de mortes notificada diariamente pelo Ministério da Saúde vs. o número de mortes que ocorreram naquela data nos hospitais brasileiros, fica evidente que TODOS OS DIAS morrem mais pessoas do que as mortes anunciadas.
O médico que receita Cloroquina é o mesmo que prescreve/solicita:
- antibiótico para tosse
- antibiótico para diarréia
- antibiótico para dor de garganta
- RX ou Tomografia para dor nas costas
- longas listas de exames de rotina
Não seja esse médico. Esse é o mau médico.
O médico que prescreve cloroquina é o médico que:
- sempre busca agradar o paciente
- sempre tem certeza de seus diagnósticos, condutas e tratamentos
- mesmo que bem intencionado, sujeita o paciente a riscos superiores aos benefícios
Não seja esse médico. Esse é o mau médico.
O médico que prescreve cloroquina:
- não tem conhecimento básico para poder avaliar a literatura médica atual e separar o joio do trigo.
- está preso na década de 80, quando a medicina era baseada em experiência e não em ciência.