Sempre me perguntam porquê falamos em “encarceramento em massa” no Brasil. E acho importante a gente começar a pensar no sentido do termo.
Segue o fio.
Como a gente percebe as magnitudes de uma Política Criminal? Várias são as maneiras. Pelo tamanho dos aparatos criminais e penitenciários. Ou seja, o tamanho da estrutura da Justiça Criminal e a quantidade de presídios.
📸 Agência Brasil de Notícia
Veja, quanto mais a gente abre presídios, mais pessoas são presas. O discurso de que a abertura de novas unidades serviria para lidar com a superlotação não se sustenta. Tanto que, de 2006 a 2014, ampliamos imensamente as unidades prisionais.
E mesmo assim os presídios seguem lotados.
Outro modo é pela dimensão das leis criminais e do seu caráter punitivo. Pensar que todo e qualquer conflito só será resolvido pelo acionamento do direito penal e que a compensação por um ato ilícito só será garantida com a prisão. Tudo sendo decidido com polícia, juiz e prisão.
Isso mostra o quanto somos punitivos.
Depois, mesmo não sendo parte da Justiça Criminal, o alcance das polícias e o nosso foco em práticas repressivas e não preventivas. As polícias acabam agindo como “captadoras” da “clientela” do Judiciário.
E o fazem a partir da reprodução de estereótipos sociais e do forte uso da violência.
E podemos, ainda, apresentar os dados estatísticos: são mais de 755mil pessoas em situação prisional. Nosso país está atrás, apenas, dos Estados Unidos e da China. Mas, o criminalista Raull Zaffaroni nos chama atenção para uma questão:
as famílias que também lidam cotidianamente com a Justiça Criminal. Poderíamos, então, projetar cerca de 5 milhões de pessoas lidando com o direito penal indiretamente todos os dias em nosso país.
Segundo relatório do Departamento Penitenciário, se a gente continuar prendendo desse jeito, em 2075, 1 a cada 10 pessoas estará em privação de liberdade no país.
O próprio Supremo Tribunal Federal brasileiro afirmou que vivemos nas prisões um “estado inconstitucional de coisas”. Como ressocializar se os presídios desumanizam? Como ressocializar se a gente não quer falar sobre isso, como se não fosse problema nosso?
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O projeto global proibicionista, originárioda guerra as drogas, tem sua origem nos EUA e guarda vinculo com questões econômicas, xenofóbicas e racistas
Lá o ópio foi associado aos chineses, a maconha aos mexicanos e a cocaína aos negros
Isso permitia a perseguição desses grupos
Grupos esses que eram minorias ou grupos com "menor status social".
O mesmo se repetiu no Brasil
A maconha, cannabis, pito do pango ou fumo de angola era uma substância de uso característico da população negra, que foi trazida para ser escravizada no Brasil.
No Brasil pós abolição, onde os negros foram alçados, em tese, a condição de cidadão igualando a todos
era necessário a construção de mecanismos alternativos para a manutenção da estrutura existente de hierarquia racial e supremacia branca.
A gente não pode analisar o super encarceramento brasileiro fora do contexto histórico.
Não se chega a terceira maior população carcerária do mundo sem que se tenha, a longo prazo, um projeto político que nos empurre para isso, e que ele seja contínuo, independente do governo.
Interessante pensarmos que no primeiro ano do governo Bolsonaro, que sabemos da sua linha racista e punitivista contra grupos específicos, a população prisional cresceu "apenas" 1,49%.
Isso se dá, também, por já estarmos em uma constante de crescimento antes da sua posse.
Dados do INFOPEN
Em 2018
30% das pessoas privadas de liberdade estavam nessa condição por infringirem a lei de drogas
44% em razão de crimes patrimoniais
Em 2019, os números são:
20% e 50% respectivamente
Como disse para vocês na minha apresentação por aqui, eu adoro Literatura. Mesmo. Desde pequena fui sempre incentivada a ler e, assim, os livros estão comigo para todo lado que vou.
Sabe quando a gente leva o livro, mesmo indo encontrar com alguém, meio pensando "vai que dá pra ler um pouquinho"?
Além disso, entendo a literatura como uma ferramenta de libertação.
O crítico literário e sociólogo Antonio Candido falava sobre a efabulação como uma capacidade humana universal. Assim, ele afirmou a literatura como um direito humano!
Nós imaginamos, criamos e compartilhamos essa criatividade.
O pesquisador do Núcleo de Justiça Racial da FGV-SP, Felipe da Silva Freitas, considerou correta a nota do MPF ao assinalar a necessidade de políticas de compliance para prevenir práticas abusivas e de filtragem racial por parte dos seguranças particulares.
Segundo ele, filtros raciais nos critérios de abordagem das polícias e de seguranças privados já foram largamente constatados por inúmeras pesquisas nos últimos anos.