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28 Nov, 34 tweets, 5 min read
Com o perdão de quem já conhece essa história, mas vamos contá-la mais uma vez...
Há uns 20 anos, quando entrei na faculdade de jornalismo, eu me aproximei dos alunos mais esquerdistas do curso (até porque nem havia direita por lá). Nessa época, eu me dizia esquerdista.
Mas minhas divergências com a esquerda foram me expurgando do grupo. Ao ponto de, uns 10 anos depois, as críticas que eu fazia às gestões petistas me premiarem com toda uma nova leva de amizades, dessa vez, de direita.
Nessa época (falo da transição do governo Lula para o governo Dilma), dizia-se de direita basicamente qualquer pessoa que não era aceita no petismo. O que tornava o grupo bem plural: tinha conservador, liberal e até progressista que discordava de parte da agenda petista.
Havia também uma minoria mais radical, chamada internamente de "olavete". Lembro de na época pensar que, se o fardo da esquerda era conviver com radicais como os do PSTU, o da direita talvez fosse tolerar os alunos de Olavo de Carvalho.
O problema é que a direita não se provou capaz de conter os próprio radicais. Que foram ganhando espaço, e expurgando do grupo qualquer um que não endossasse a loucura deles.
Em paralelo, o país fervia: junho de 2013, 7 a 1, reeleição de Dilma, impeachment, Lava Jato, greve de caminhoneiros, etc. Qualquer visita ao que escrevi neste período irá retornar a vocês uma versão muito mais exaltada de mim mesmo.
Mas, por mais que eu me arrependa do tom que usava, alguns amigos que acompanharam o processo de perto, talvez para me consolar, gostam de me lembrar que, no meio daquela loucura toda, eu era um dos que pegava mais leve — ou menos pesado, como preferir.
Houve um episódio específico que me ajudou a mudar de postura. Eu usei um palavrão ao comentar uma coluna de um cara que eu admirava, e ele me bloqueou.

Mesmo fazendo uso do palavrão, eu não tinha a intenção de ofender. Mas concluí que poderia simplesmente abrir mão daquilo.
E rapidamente percebi que minhas relações com as redes sociais melhoraram um pouco após isso.

Com o tempo, ampliei o experimento não só para palavrões, mas para outros termos e discursos.
Só um exemplo:

Quando discordava muito de algo, eu tinha o hábito de dizer que "tinha nojo" daquilo.

Hoje, é uma expressão que evito, uma vez que posso simplesmente dizer que... Discordo muito do tal algo.
Entendam, eu não fiz isso por altruísmo ou porque estava reconstruindo minha "marca" em busca de emprego. Eu fiz isso porque a relação que eu tinha com isso aqui literalmente me fazia mal, muito mal.
Eu sofria de insônia, bruxismo, dores no corpo, torcicolo, gastrite, tosse crônica, vomitava sangue, tinha crises de choro, e só o amor que sentia por algumas pessoas queridas evitava que eu cometesse uma besteira para subitamente interromper aquele sofrimento.
Tudo indicava que eu estava com síndrome de burnout. Mas as dificuldades eram tantas que nem verba para encontrar esse diagnóstico com um especialista eu tinha.
Ali, por 2017, eu percebi uma amiga reclamando de ataques nas redes sociais. E alertando que nada daquilo parecia orgânico, mas algo orquestrado contra ela.
Pouco depois, um outra mensagem dessa amiga surgiu em um grupo do qual participava. E uma pessoa desse grupo comunicou que já havia compartilhado a tal mensagem para que as "hienas" agissem.
No que corri para o Twitter, vi o "ataque" se concretizar em tempo real, com toda uma horda de trolls fazendo todo tipo de shitpost contra a amiga.
Ali eu me convenci que muito do que julgávamos ser uma reação orgânica, ou no máximo uma molecagem típica do Twitter, aos poucos se convertia numa arma política para assassinar reputações.
Porque o padrão parecia claro. O alvo do ataque quase sempre era alguém que pisava no calo de algum político querido da turma que atacava.
Quem não me segue pode achar que a coisa se deu da noite para o dia. Mas, de início, comentei o assunto como como crítica construtiva. Eu dizia que até valia criticar o jornal, mas focar as críticas no jornalista, como eu mesmo cheguei a fazer no passado, era um vacilo.
Mas eu estava sendo ingênuo. Pois ainda enxergava aquilo como "amor à causa". Quando, era óbvio, já havia verba de gabinete por trás. E isso ficou claro à medida em que reuni evidências do que ocorria.
Como fui seguindo as pistas certas, eu mesmo virei alvo dessa "máquina do ódio". E tentaram me abalar de todas as formas possíveis: espalhavam que eu seria gay, que teria recebido dinheiro de corrupto, zoavam a minha origem nordestina, a minha altura, foi terrível.
Só no carnaval de 2019 consegui sentar e organizar tudo. E publiquei aqui mesmo no Twitter o que sabia sobre o que chamei de "máquina de linchamento virtual". Mas que, só depois viria a público, era chamado no Palácio do Planalto de "gabinete do ódio".
Aquilo foi lido por mais um milhão de pessoas só no meu perfil.

Pode ter sido coincidência, mas não vou fingir que não vejo uma relação entre os casos. Dias depois, o STF abriu aquele polêmico inquérito para investigar a disseminação das notícias falsas na internet.
Desde então, eu descobri alguns macetes que ajudam nessa relação difícil de influenciadores digitais (incluindo jornalistas) com militantes que adoram descobrir uma nova bruxa para atirar na fogueira.
E os compartilho com qualquer um que percebo viver o mesmo inferno que a minha amiga viveu em 2017, e que vivi desde então. Normalmente, faço isso em privado, até para não ampliar o alcance do que a pessoa está vivendo.
Também busquei em privado algumas pessoas que magoei injustamente. E quase todas elas conseguiram me perdoar. O tal colunista que havia me bloqueado por causa daquele palavrão não só me desbloqueou, como hoje integra o time de amigos com os quais mais interajo.
Eu não escondo nada disso de ninguém. Estou num dos podcasts mais ouvidos neste ano falando justamente disso. E venho dedicando grande parte da minha leitura e escrita a tentar entender como as redes sociais conseguem moer o cérebro de tanta gente.
Inclusive, sugiro cautela com quem um dia já soou uma pessoa razoável, e hoje está nas redes sociais discursando com uma raiva fora do comum (o que não tem sido uma exclusividade da direita, vale ressaltar).
Porque pode ser que, num futuro próximo, ela genuinamente perceba o mal que tem feito principalmente a ela mesma, e dê meia volta, como muitos deram. Quando isso ocorrer, é importante que ainda exista uma ponte para que você possa acolhê-la.
Hoje eu não quero mais saber de dizer que eu sou de direita ou esquerda. Em ambos os experimentos, eu terminei numa cadeira de um psicólogo gastando um dinheiro que segue me fazendo falta.
Mas nada disso me impede de defender a democracia, os direitos humanos, a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, a austeridade fiscal, a luta contra a desigualdade, o combate à corrupção, a defesa de nossas individualidades, as minorias...
...e que o Estado se dedique a socorrer que mais precisa o Estado, evitando ao máximo criar obstáculos para quem não precisa.
Se, diante disso tudo, você não tiver problema em continuar acompanhando o conteúdo que produzo, e estiver disposto a gerar boas conversas aqui na caixa de comentários, será bem-vindo.

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27 Nov
Thaís Oyama cometeu um erro comum a quem apresenta programa ao vivo, que é o de se perder com o relógio. O problema é que quem trouxe o vídeo às redes sociais o tratou como um erro deliberado para prejudicar Guilherme Boulos.
Pior, muita gente não estava entendendo que se tratava do final de uma longa sabatina, e comentava como se deliberadamente tivessem ativado o cronômetro para reduzir o tempo de resposta de Boulos em um debate.
Com esse entendimento, a indignação explodiu. E muita gente passou a xingar a jornalista de todo tipo de absurdo. E a pregar contra a imprensa, defendendo boicote não só à Folha, mas a basicamente qualquer jornal.
Read 10 tweets
26 Nov
Falta mais contexto. Ele não teve apenas 44 SEGUNDOS, mas 45 MINUTOS. Não era debate, era sabatina. Era como se o Jornal Nacional recebesse um candidato para uma entrevista cronometrada. O tempo acabou, o microfone cortou.
Mas é bom que, assim, a gente relembra que desinformação e ódio da liberdade de imprensa não é exclusividade de um dos polos.
Nesse formato, não existe isso de cronômetro parar para a pergunta. Todo mundo lembra das perguntas quilométricas que a bancada do JN fazia aos entrevistados com o cronômetro rolando.
Read 7 tweets
20 Nov
Há uns anos, um amigo me deu um dica valiosa sobre como combater essa “máquina do ódio”. Era basicamente da mesma forma que se combate golpistas de rua: explicando às possíveis vítimas como o golpe funciona.
Vimos o macete em uso nos Estados Unidos recentemente. Com muita antecedência, a imprensa antecipou ao público as armadilhas que Trump preparava. Quando o presidente americano fingiu vencer, a cena de fato indignou, mas não surpreendeu. E poucos foram às ruas endossar a loucura.
Então vale destacar que Crivella não está apenas desesperado. Ele está sacando uma das jogadas mais sujas dessa “máquina do ódio”. Que é a de associar adversários políticos com pedofilia.
Read 7 tweets
18 Nov
Na primeira vez que vi a turma revoltada com Átila, ele trazia a informação de que um estudo calculara que a vida não voltaria ao normal antes de 2022. O pessoal estava achando que esse pesadelo não duraria três meses. Há uma semana, completei oito meses em casa, e contando.
Na segunda, ele alertava que não seríamos vacinados este ano. E já estamos em 18 de novembro
Na terceira, descontextualizaram o que ele falou sobre um milhão de mortes. O que só serviu para minimizar o significado de 90 mil mortes. Estamos indo pra 170 mil no que pode ser o início de uma segunda onda.
Read 5 tweets
18 Nov
O problema de forçar essa barra de dizer que o centrão não é centro, mas de direita (por se aliar de Bolsonaro), é que o centrão foi base de Temer, Dilma e Lula. O que finda dando razão ao PSTU, que repetia direto que o PT era de direita.

(O centrão é governo, qualquer governo.)
Gente, o centrão não sabe nem o que é ideologia. O centrão quer que o presidente da vez libere emendas para recapear asfalto, reformar praça, trocar iluminação e comprar uma ambulância para levar doente até a capital.
E não faz isso por altruísmo. Mas porque o empresário que bancou o carro de som na campanha possui uma fábrica de tijolos. E vai vender tijolos para a prefeitura fazer a reforma.
Read 5 tweets
17 Nov
Ontem inventei de rever o documentário sobre Senna, e precisei de uns 40 minutos para me "recobrar" depois.
Os argentinos costumam dar muito mais importância ao título da Copa de 1986 do que ao de 1978. Era uma forma de se reencontrar como nação após uma ditadura sangrenta. E de deixar certas dores no passado.
Eu desconfio que as pessoas que tentam ressignificar Ayrton Senna como uma figura negativa não levam em consideração o contexto da época. O Brasil vinha passando por um lento e cansativo processo de redemocratização, mas as glórias continuavam bem no passado.
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