Se vacina resolvesse todos os problemas, o Brasil não tinha registrado 7 mortes por sarampo em 2020. A vacina tem décadas e é uma das mais eficientes que já fizemos. Ignorância custa muito caro.
Vamos lá: vacinas são fundamentais pra controlar doenças infecciosas. A diferença entre 1 milhão de casos de dengue por ano e dezenas de casos de febre amarela está em vacinas. Mas quanto mais infecciosa a doença, mais eficaz precisa ser a campanha.
A febre amarela circula ao redor de reservatórios naturais do vírus e do mosquito transmissor. Ela não é tão transmissível como um vírus que circula pelo ar. E em anos com no vacinação, a cobertura precisa ser de quem visita essas regiões.
Já uma infecção respiratória como o sarampo, um dos vírus mais transmissíveis que conhecemos, depende de muita vacina aplicada todos os anos ou volta a circular. Idealmente, a cobertura vacinal deve ficar acima de 90%.
Pra ter tanta cobertura, precisamos de campanhas de vacinação constantes e de muita educação da população. Em anos recentes, os dois têm diminuído e os índices de vacinação caem no mundo todo.
O Brasil está tendo surtos de sarampo. Sete mortes parece pouco, mas elas sinalizam milhares de pessoas infectadas por trás disso. Crianças e adultos que perderam a imunidade depois de décadas de se vacinar.
Com a COVID, o desafio será maior ainda. Pois é um vírus bastante transmissível e uma população muito mais vulnerável. Precisamos ter índices de vacinação muito altos pra chegar em uma proteção coletiva. Mas estamos no período mais anti-vacina moderno.
Não adianta vacinas existirem. Elas precisam ser aplicadas nas pessoas. E sem educação e campanhas muito fortes, o que expliquei mais cedo, não vamos ter proteção. E uma vez que vacinas estiverem disponíveis, começa a pressão pela volta da normalidade, com ou sem proteção.
Além do movimento anti vacina, se o Brasil não tiver doses pra distribuir na rede pública, quem se vacina pela rede privada pq pode pagar começa a pressionar pela volta de tudo, pq já não corre risco. Começa o movimento “se vacina existe, tá seguro”.
Então são dois desafios em paralelo. Mostrar a importância de vacinas e de se vacinar. Mas deixar claro que elas são parte do programa de combate e que por si só não operam milagres. Que o combate ainda tem distanciamento e máscaras até índices de vacinação serem altos.
É o mesmo dilema de saúde mental. É uma preocupação essencial para as pessoas, com tanta gente em casa e com o isolamento que passamos. Mas não pode ser desculpa pra abrir bares em pleno crescimento de casos. Fazer isso só aumenta a necessidade de se isolar mais gente.
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"Um grande número de pessoas não vai tomar vacina sem uma campanha nacional de comunicação e educação. [...] Os EUA nunca imunizaram sua população na quantidade necessária para estabelecer a imunidade coletiva contra a SARS-CoV-2."
"Isso significa que estaremos embarcando em um programa de imunização de escala sem precedentes - que requer uma campanha de comunicação correspondente. Felizmente, já existe dinheiro autorizado para comunicações sobre covid-19, cerca de US $ 250 milhões."
"Uma campanha nacional de comunicação e educação sobre vacinas precisa cumprir três objetivos: restaurar a confiança nas vacinas, ter um escopo nacional e - ao mesmo tempo - envolver as comunidades locais, especialmente as comunidades de cor."
A @TIME elegeu como uma das pessoas mais influentes de 2020 Zhang Yongzhen, o cientista chinês que liberou a sequência do SARS-2 ainda em 10 de janeiro. Graças à essa sequência tivemos testes tão cedo e já temos as vacinas de RNA.
Zhang faz parte de uma rede de monitoramento de novos vírus. Ele recebeu uma amostra de paciente coletada no Hospital Central de Wuhan no final de dezembro de 2019 e submeteu o genoma do vírus em 5 de janeiro no banco de genomas mais usado por cientistas: ncbi.nlm.nih.gov/nuccore/MN9089…
Também mandou a sequência pra outros membros do grupo. Um deles, o Eddie Holmes (@edwardcholmes), disponibilizou a sequência em outro banco e compartilhou por aqui. Como saiu antes, foi o que todo mundo usou.
Teste da Moderna chegou no número de casos pra análise de eficácia(196 casos de COVID-19). Confirmaram a eficácia de 94% e nenhum caso grave aconteceu entre vacinados (proteção de 100% contra doença grave). Segue para análise do FDA.
Com números tão bons, espero que ela também impeça os vacinados de transmitirem o vírus, além de não desenvolver a doença (a vacina da gripe protege vacinados, mas alguns ainda transmitem).
E as condições de armazenamento são mais favoráveis que a da Pfizer:
O Brasil não tem acordo direto com a Moderna. Até aqui, só teremos acesso via Covax, o consórcio da OMS que investe em candidatas e distribui as vacinas que derem certo. Devem ser doses limitadas a grupos de risco, inicialmente.
Vários sinais preocupantes nos resultados de Oxford e AstraZeneca: resultados ficaram de fora, os testes foram feitos de maneira picada e heterogênea, critérios de análise não são claros… vamos ter que esperar resultados mais claros pra poder empolgar.
Nos EUA, as ações caíram, pq investidores avaliaram que ela não deve ser aprovada pelo FDA tão cedo por conta de tantos poréns.
A essa altura, é bem esperável um certo atrito. Pela competição, países tentando favorecer suas vacinas, investidores querendo retorno e por aí vai. Daí a importância da análise por órgãos regulatórios. E daí a importância de se garantir vários acordos, pra não depender de 1 só.
Essa é a vacina com um pedaço do SARS-2 dentro de outro vírus, o adenovírus, modificado pra não causar doença em humanos. Até aqui, analisaram 131 casos de infecção e viram que um regime de duas doses iguais deu 62% de eficácia e outro com meia dose + uma dose deu 90%.
Normal testarem várias regimes se têm voluntários suficientes. Vão refinar mais isso, pq o teste continua rolando.
Viram que o regime mais eficaz tem uma dose inicial menor, que provavelmente desperta menos inflamação e deixa o sistema imune refinar o ataque com a segunda dose.