O assalto ao Banco Central, segundo maior roubo do Brasil:
Em agosto de 2005, uma quadrilha assaltou o Banco Central do Brasil, em Fortaleza, Ceará. O crime aconteceu durante um fim de semana, enquanto o banco estava fechado. O caso foi descoberto na segunda-feira, no início do expediente.
Três meses antes da ação, os criminosos alugaram uma casa, cerca de um quarteirão de distância da instituição financeira, e criaram uma empresa de fachada chamada Gramas Sintéticas. Lá, escavaram um túnel atravessando a Av. Dom Manuel, uma das mais movimentadas da cidade.
Eles tinham informações detalhadas sobre o funcionamento do local, plantas subterrâneas e conhecimentos sobre engenharia e elétrica. O buraco, abaixo das galerias de esgoto e acima do lençol freático, tinha 4m de profundidade, cerca de 80m de extensão e 70cm de diâmetro.
Estima-se que 30 toneladas de terra foram retiradas. A estrutura foi revestida com vigas de madeira e forrada com lona e plástico para evitar erosões e desabamentos. Além disso, o percurso contava com energia elétrica para iluminação, ventilação e até ar condicionado.
O piso da caixa-forte tinha 1,10 metros de concreto reforçado com aço. Para atravessarem a blindagem do cofre evitando barulho, eles usaram furadeiras, serras elétricas, maçaricos e alicates.
Segundo o delegado da Polícia Federal, Antônio Celso, o roubo estava programado para acontecer uma semana depois. A intenção da quadrilha naquele momento era deixar apenas uma fina camada para romperem quando quisessem.
Porém, eles cometeram um erro e sem querer fizeram um furo no piso. Como era muito arriscado que alguém do banco notasse, decidiram começar o assalto às 18h da sexta-feira, 5 de agosto de 2005. Somente quatro bandidos entraram no cofre e nenhum alarme foi disparado.
Os ladrões bloquearam as três câmeras do circuito interno, com empilhadeiras e, em seguida, encheram sacos de cereais com blocos de cédulas de 50 reais. O dinheiro já havia circulado no mercado, o que torna qualquer tentativa de rastreamento impossível.
Com os sacos dentro das bacias, eles puxaram a grana por cordas, em um sistema de roldanas construído dentro do túnel. Eles levaram mais de R$164 milhões. O furto foi encerrado por volta das 12h do dia 6 de agosto, ou seja, eles tiveram praticamente 45 horas de fuga.
Os criminosos entraram em vans, que logo foram abandonadas, então dividiram o dinheiro e, em subgrupos, viajaram para diferentes estados. As investigações da Polícia Federal se iniciaram na manhã de 8 de agosto, segunda-feira, assim que o caso veio à tona.
A obra realizada pelos assaltantes foi avaliada em R$ 500.000,00. Dentro túnel, os agentes encontraram garrafas de bebidas isotônicas, pomadas contra assaduras e um cartão telefônico, que posteriormente rastreou alguns dos envolvidos.
Na casa, havia grande quantidade de cal espalhada, na tentativa de apagar quaisquer evidências, mas algumas impressões digitais foram coletadas. No dia seguinte, uma compra de dez carros à vista chamou atenção das autoridades.
A obtenção estava registrada em nome de José Charles Morais, dono de uma transportadora, que foi preso em Minas Gerais em um caminhão-cegonha, transportando automóveis. Em três deles, a polícia encontrou cerca de seis milhões de reais roubados do Banco Central.
Ele deu pistas sobre outros envolvidos e, por isso, teve sua pena reduzida de 36 para 18 anos. Como a quadrilha usou documentos falsos com fotografias verdadeiras, os agentes conseguiram acesso às passagens aéreas compradas à vista, identificando vários outros comparsas.
Em pouco tempo, a polícia já tinha o nome de quase todos os participantes do roubo milionário. O delegado Antônio revelou que, logo no início, constatou o envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) e presumiu que o dinheiro seria usado para financiar outros crimes.
Imediatamente, a Polícia Federal organizou a “Operação Toupeira”, com o objetivo de priorizar uma investigação criteriosa para a identificação e localização dos meliantes, como também dos bens adquiridos com o proveito da infração.
Dois meses depois, aconteceu uma série de sequestros e mortes envolvendo parentes e acusados do roubo. Além disso, agentes infiltrados entre os suspeitos conseguiram descobrir a identidade dos chefes da quadrilha.
A investigação apontou que 11 pessoas atuaram diretamente no assalto ao Banco Central e mais 40 tiveram algum tipo de envolvimento. O MPF denunciou 133 pessoas por participação direta ou indireta no furto milionário. Até o momento, 119 foram condenadas.
Os réus foram acusados de furto qualificado, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, porte ilegal de arma de fogo, uso de documentos falsos e extorsão mediante sequestro. A apuração apontou os principais líderes do assalto.
Antônio Jussivan Alves dos Santos, mais conhecido como 'Alemão', teria ficado com o maior valor do roubo e ainda destinado mais de 10 milhões de reais ao PCC. Ele foi preso em fevereiro de 2008 e confessou ter participado da ação, mas negou que era o líder da quadrilha.
Sua condenação foi de 49 anos e 2 meses de prisão, mas a pena foi reduzida para 35 anos e 10 meses. Em 2017, ele tentou a fuga em um presídio cearense, mas acabou baleado e transferido para um presídio federal, para cumprir o resto do mandato.
Luís Fernando Ribeiro, o 'Fernandinho', teria sido o financiador do plano. Dois meses depois do crime, ele foi sequestrado e, embora sua família tenha pagado o resgate, foi encontrado morto em Minas Gerais. A principal suspeita recaiu sobre policiais civis.
O mentor do túnel teria sido Davi Silvano da Silva, vulgo 'Véi Davi'. Ele foi preso em setembro de 2005 e sentenciado a 47 anos de prisão, mas teve a pena reduzida para 17 anos e seis meses, na instância superior.
Moisés Teixeira da Silva, o Tatuzão, era o responsável pela liderança da escavação. Em julho de 2009, ele foi capturado e condenado inicialmente a 17 anos de prisão. Sua pena foi reduzida para dois anos.
Apenas 55 milhões foram recuperados pela venda de bens dos participantes ou na localização de quantias em espécie. Há relatos que do dinheiro recuperado, cerca de 20 milhões teriam sido deixados por Roque, um dos assaltantes, ainda não identificado, para ganhar vantagem na fuga.

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