Thread by @lucasmafaldo

Uma coisa curiosa do nosso tempo é como a explosão na quantidade de informação foi perfeitamente acompanhada por um emburrecimento profundo e generalizado.

Tudo se politizou e cada facção política criou um modo próprio de ser maluco.

Um dos grandes sinais de burrice é a crença ingênua na ciência e na tal "política baseada em evidências" -- o que não é mais nem o cientificismo do século XIX, mas uma versão mais rasteira e superficial, baseada exclusivamente na autoridade de burocratas.

Os cientificistas de antigamente ao menos acreditavam em algum critério de verdade -- conquanto estreito -- e esperavam encontrar respostas universais por meio do método científico.

Os cientificistas de hoje são apenas deslumbrados que acreditam em qualquer coisa que um comitê..

... diga para acreditar.

A própria noção de "política baseada em evidências" parece tão séria, tão chique, até você entender que "evidence" em inglês significa "indícios", isto é, algo meramente provável, indicativo.

Qualquer política é "baseada em indícios", afinal há sempre indícios contra ou a favor qualquer coisa. Mesmo no domínio estreito da ciência, o método científico só consegue resolver definitivamente um punhado de questões. Quando entramos no domínio movediço das políticas...

... públicas, onde estamos lidando com inúmeras opções com configurações diferentes, atravessando áreas do conhecimento distintas, é óbvio para qualquer pessoa minimamente culta que não há critério universal que possa ser utilizado para equalizar todas as variáveis.

O exemplo mais simples do modo: é claro que é importante ver o que os cientistas dizem sobre o coronavírus. Porém, qual a área da ciência capaz de criar um modelo unificado que contém o impacto financeiro e social de medidas em escala global nunca antes utilizadas?

Obviamente, estamos muito longe do terreno científico, plenamente instalado no campo das ações práticas, onde é preciso tomar decisões prudenciais, isto é, articular interesses, riscos e probabilidades, sem qualquer esperança de encontrar uma resposta final acertada.

Curiosamente, creio que o cidadão comum percebe isso com mais facilidade do que a classe acadêmica, a qual tem dado um show de estupidez, certamente intoxicada pelo impulso corporatista de defender sua posição privilegiada no novo estado das coisas.

Ao fizer isso, no entanto, os acadêmicos não estão agindo de modo algum como cientistas, mas como mero burocratas sedentos por poder e atenção.

No fim das contas, a tal ciência contemporânea tem pontificado sobre mais assuntos e defendidos mais dogmas do que qualquer concílio..

... medieval.

Além disso, os dogmas contemporâneos já não duram mais que algumas semanas, como se viu como passamos a acreditar na ineficácia das máscaras para sua obrigatoriedade absoluta até chegarmos no curioso estado atual onde elas são importantíssimas, mas não...

... suficientes para evitar a necessidade do isolamento nem da vacina (que também é importantíssima, mas também requer a continuação do isolamento).

Em meio a essa escalada de contradições, não é de espantar que tenha surgido uma direita meio surtada, tipo o Alex Jones.

Embora o conspiracionismo seja uma forma de loucura, ele acaba sendo uma reação à loucura da cultura média. O tio do zap que acredita que a vacina é um estratégia para implementar microchip pode estar delirando, mas o surto não deixa de ter uma dose de prudência...

... que parece ter sumido totalmente da população bem pensante, a qual parece ter esquecido que os seres humanos são falhos e que uma vacina lançada às pressas em escala global pode causar danos não-lineares muito mais graves do que uma doença cuja gravidade...

... parece variar enormemente de caso para caso.

Enfim, isso já está enorme, então vou parar por aqui.