Thread by @Cecillia

"Ninguém limpa meus lustres como vc" - Estava conversando com um amigo que é professor em BH. Há 5 anos entrou uma estagiária na escola onde ele dá aula. Vamos chama- la de Andreia. Andreia estudou, de "atrevida", após ser adotada no sul de MG por um casal de arquitetos #Thread

Ela chegou na casa, em bairro nobre de BH, com 12 anos. Limpava tudo. O casal tinha casa no interior e 2 filhos. Tinham uma SUV, carro grande. Qd iam pro interior, davam carona para Andreia até a rodoviária, pra ela ir de ônibus. "Fica desconfortável para as crianças"

Andreia foi tirada da escola, limpava a casa toda, cuidava dos "irmãos". Era quase da família. Quando cresceu um pouco mais, entendeu que conseguia estudar a noite, sem atrapalhar as "obrigações" do dia. Formou, passou na UFMG.

Quando precisou fazer estágio, 3 tardes por semana, teve que implorar por "folga". Muita negociação. Qd chegava visita na casa, a dona da casa dizia: "Olha Andreia! Trouxemos do interior e estamos educando! Está na faculdade". Andreia ficava putaça, pq nunca foi incentivada

Andreia se formou, quis ser professora. "Mas como vai ficar aqui em casa? Ninguém limpa meus lustres como vc!" - ouviu. Durante um tempo Andreia ainda ficou na casa. Mas assim que conseguiu se firmar, ter seu dinheiro, saiu. Foi vista como "ingrata".

Em MG, de onde venho, é MUITO COMUM pegar uma menina pobre "pra ajudar". Conheci algumas. No plural msm. Nesse papo tinha um outro amigo. Ele teve uma "irmã" assim. A "irmã" cresceu e sumiu - a gente sabe pq. A mãe dele não sabe. Até hoje chama a "irmã" de ingrata.

Ela reclama que "ajudou" a "filha" e que hj ela não dá nem um "feliz Natal". Não liga. E enumera as "ajudas", como se fosse dívida de favor, não remuneração porca (depois de mais velha, 1 salário) por trabalho. "Ajudei ela a comprar a casa!". Isso é absurdamente comum em MG

O caso de Madalena e a irmã gêmea, Filomena, é mais grave pq fora privadas de ver família, não recebiam nada, eram repassadas como posse entre familiares e tals. Mas há casos "mais leves" ainda vistos como "ajuda". Falta muito... Mas MUITO mesmo.