O 1º dia do ano é conhecido internacionalmente como "Public Domain Day", pois é a data oficial em que obras entram em domínio público após cumprirem os prazos estipulados por leis de direito autoral, que varia em cada país (no Brasil o prazo é de 70 anos após a morte do autor).
Nos EUA, cujo prazo de domínio público conta a partir do registro da obra no país, e não da morte do autor, estão entrando em domínio público livros clássicos como The Great Gatsby de F. Scott Fitzgerald, Mrs. Dalloway de Virginia Woolf e In Our Time de Ernest Hemingway.
No entanto, toda essas obras citadas já eram para ter entrado em domínio público em 2001, não fosse um lobby que a Disney fez no congresso estadunidense que expandiu o prazo para a entrada em domínio público (na época 75 após o registro) em mais 20 anos.
Essa artimanha, que ficou conhecida como "Lei Mickey", é sempre utilizada pela Disney toda vez que a primeira obra de seu principal personagem, Steamboat Willie, está prestes a entrar em domínio público.
E é provável que até 2024, quando o Mickey de Steamboat Willie deverá entrar em domínio público pela lei atual, a Disney faça novamente lobby para estender o prazo de copyright. O problema que a lei vale para todas as obras, impedindo que todas entrem em domínio público.
Agindo assim, a Disney está invalidando o domínio público. E isso é extremamente perigoso para a existência da própria cultura humana. Inclusive a existência do domínio público é vital para o próprio funcionamento do direito autoral ou do copyright.
Alias, sem o domínio público, a própria Disney não teria conseguido fazer a maioria de seus grandes sucessos de animação, e provavelmente não seria a gigantesca corporação que é hoje. Mas a grana e a hipocrisia falam mais alto.
Não bastasse a extensão do copyright, essas mudanças na lei vem paulatinamente subvertendo o conceito de direito autoral e transformando-o em propriedade privada (que são conceitos distintos, mas que infelizmente muito confundem como iguais, inclusive muitos autores).
Mas autoria não é propriedade privada. Pois toda criação autoral deriva do que veio antes, portanto, do domínio público. Assim sendo, ao domínio público um dia deve voltar. Eis a importância de movimentos de cultura livre e copyleft do qual eu e muitos outros autores fazem parte.
A nossa intenção é criar um poço de obras livres que sirvam de resistência a privatização da autoria e do domínio público que grandes corporações como a Disney estão tentando fazer e que, se não for impedido, irá culminar na privatização da própria cultura popular e de bem comum.
Em tempo, todos os meus quadrinhos autorais podem ser acessados e lidos gratuitamente, e estão sob uma licença aberta Creative Commons (CC BY-SA) que permite o livre compartilhamento e a criação de obras derivadas, inclusive para uso comercial.
P.S.: Se você quer se aprofundar nessas questões de Direito Autoral, Domínio Público, Copyleft e as tretas com a Disney, recomendo a leitura do livro Cultura Livre de Lawrence Lessig drive.google.com/file/d/1pp1o0j…
Percebi pela grande repercussão deste fio que muita gente desconhecia os problemas abordados. Então é importante que cada vez mais gente se informe e tome consciência dessas questões para lutarmos juntos pela preservação do domínio público, da cultura livre e do bem comum.
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Tomo a liberdade de republicar aqui em formato de thread a história em quadrinhos da campanha eleitoral do @GuilhermeBoulos e da @luizaerundina para facilitar a leitura dela de forma fluída e sequencial. #ViraSP50#BoulosErudina50
Não gosto de fazer postagens de explicação dos meus próprios quadrinhos, pois acho que isso é como explicar uma piada, mas vou abrir uma exceção para falar sobre como a forma, o conteúdo e a temática de Cosmogonias se relacionam.
Até porque Cosmogonias foi publicada em 2016, então quem tinha que ler já leu, e os leitores, como constatei pelas resenhas e contatos direto, já avançaram em todas as camadas, elementos e referências que coloquei nas histórias. Com exceção de um. Bem, até agora.
Não que fosse algo muito complexo, ou muito "cabeça" de entender, mas é que para perceber esse elemento de Cosmogonias precisa de uma atenção a detalhes que talvez não se perceba numa primeira leitura. E a intenção é que de fato se fizesse mais de uma leitura para poder entender.