Thread by @obscovid19br

Na discussão sobre uma vacina contra a COVID-19 muitos termos, tais como eficácia, efetividade, eficiência e impacto, antes restritos às discussões acadêmicas se tornaram correntes.

Segue o fio para entendermos alguns deles: 🧶👇

1 - Eficácia: a eficácia de uma vacina é compreendida como a capacidade de reduzir um desfecho desejado, , por exemplo, a redução da transmissão, redução do número de novos casos, redução dos casos graves.

Ela é medida através de uma fórmula matemática que leva em conta o risco que um vacinado corre comparado com o risco de um não vacinado. Em termos gerais pode ser expressa por 1-(Risco vacinado)/(risco de não vacinado).

Assim a eficácia é determinada em ensaios clínicos controlados (por isso a importância desses ensaios terem seus dados disponibilizados para a comunidade científica, de forma transparente)

2 - Efetividade: a efetividade é a medida dos mesmos desfechos mensurados na eficácia, porém nas condições de vida real, ou seja, depende tanto da eficácia da vacina quanto de outros fatores como conservação das vacinas, erros de aplicação, entre outros.

Para o seu cálculo o tipo de estudo mais utilizado é o de caso controle.
Para calculá-la compara-se a situação vacinal de casos confirmados de uma determinada doença e a situação vacinal em controles (indivíduos sem a doença).

Uma medida utilizada para cálculo da efetividade da vacina é VE = 1 - OR, onde OR é “odds ratio”.

O odds ratio ou razão de risco é simplificado no seu cálculo como (a*d)/(b*c) onde “a” é o número de casos e controles vacinados, “d” é o número de casos e controles não vacinados, “b” casos vacinados e controle não vacinados, e “c” é caso não vacinado e controle vacinado.

3 - Eficiência: a eficiência mede a capacidade de se organizar campanha, disponibilidade de vacina e insumos, profissionais de saúde, comunicação, entre outros, ou seja, a organização da vacinação como um todo.

Com esses três fatores, determina-se o impacto de uma vacinação, isso é, a redução do desfecho estudado. Assim, uma vacina pode ser eficaz e efetiva, mas não produzir impacto se a cobertura vacinal for baixa, ou seja se apenas um percentual pequeno da população for vacinado.

Por exemplo, a vacina de coqueluche acelular aplicada em gestantes tem uma efetividade alta, superior a 90% para o desfecho desejado que é evitar casos em crianças menores de 3 meses. Mas só vai ter impacto quando alcançar uma cobertura vacinal elevada..

Ao fazermos um ensaio clínico, tipo de estudo utilizado para avaliar uma nova vacina, devemos definir qual é o desfecho desejado.

Se este for, por exemplo, evitar casos graves, serão contados os casos graves (com conceito claramente definido) nos dois braços (grupo que recebeu a vacina e grupo controle) ocorridos durante o estudo para obter como resultado a eficácia para evitar casos graves.

A vacina contra rotavírus, por exemplo, leva em conta sua efetividade para redução de casos graves. Já a vacina do sarampo impede a infecção e portanto se tivermos cobertura vacinal elevada e homogênea ela pode ser efetiva na eliminação da doença e nesse caso o impacto é 100%.