1) Nas eleições da Câmara dos Deputados só 2 candidatos podem vencer.

Um é Baleia Rossi, apoiado por uma ampla frente, na qual os liberais tem mais força. O outro é Lira, o candidato de Bolsonaro.

Não há chance matemática de vitória para um terceiro candidato ou candidata...
2) Isso significa - e aqui não vai nenhum juízo de valor prévio - que qualquer outra candidatura seria apenas para marcar posição, na medida em que não seria competitiva.

A pergunta a se fazer é: vale a pena a esquerda marcar posição em uma eleição como esta?
3) Algumas pessoas acham que sim. Como a eleição tem 2o turno e, aparentemente, ele é inevitável, a esquerda poderia apresentar o seu programa, perder, e em seguida apoiar Baleia contra Lira...
4) Por que esta ideia é errada? Porque há boa chance da eleição ser resolvida no primeiro turno, ainda que o segundo turno aconteça.

Como assim?

É que, na verdade, dois elementos estão em choque agora: os "milhões de argumentos" do governo x a expectativa de vitória de Baleia
5) Os deputados que decidirão a eleição, aqueles que se movimentam de modo mais pragmático, ficam polarizados entre essas duas forças de atração: "vou com Bozo e seus milhões de argumentos ou é melhor eu ficar bem com Baleia, que será o próximo presidente?"
6) É objetivo: se Baleia não tiver cheiro de vitória Lira vai levar.

Mas os deputados não farão as contas de que a esquerda vem depois e Baleia vence no 2o turno?
7) Cheiro de vitória EFICAZ contra os milhões de argumentos é a possibilidade de Baleia vencer já no primeiro turno, ainda que ele não consiga. Ou seja, o único antídoto contra a força da máquina é a perspectiva dos 280 se apresentar já de início.
7) Além disso, no 2o turno, a esquerda viria por obrigação. Ou alguém de esquerda votaria em Lira?

Dessa maneira não seria possível arrancar do candidato do PMDB no 2o turno nem os postos pra resistir e nem os compromissos que podemos arrancar no primeiro.
8) Eu compreendo as dúvidas que o pessoal levanta em relação a Baleia. Compreendo as preocupações com a pauta liberal. Mas sejamos práticos, há uma larga maioria na Câmara em torno à pauta liberal...
9) ...esta maioria só pode ser revertida nas urnas, em um próximo pleito, ou nas ruas, com uma grande onda de massas contra o neoliberalismo.

Não está colocada na realidade objetiva a hipótese de reverter essa maioria na eleição da mesa....
10)... é possível, claro, usar a eleição da mesa para reduzir danos, mas não está no campo das possibilidades eleger um presidente da câmara antiliberal. O que está no campo das possibilidades? ....
11) a) Evitar que Bolsonaro, na reta final de seu mandato, tenha uma vitória enorme, elegendo o seu candidato.
b) Colocar a esquerda em postos importantes, que permitam dois anos de uma resistência mais eficaz.
c) Eleger um candidato que tende a se opor a Bolsonaro...
12)...até porque daqui até fevereiro Baleia deve sofrer todo tipo de ataques do governo, o que tende a profundar muito as fissuras que já existem. A luta entre Bolsonaro e Baleia será uma sangueira...

d) arrancar compromissos que ajudem na resistência.
13) O resumo da ópera é o seguinte: se Lira vencer, Bozo vai pra reta final de mandato fortíssimo, tendo anexado a Câmara. Se Baleia vencer, Bolsonaro sofrerá uma derrota imensa, que enfraquece suas chances de vencer em 2022.
14) A pergunta que fica é: vale a pena trocar tudo isso por uma candidatura para marcar posição? Subir, falar dez minutos numa manhã, para na tarde do mesmo dia votar em Baleia em um segundo turno?

Minha convicção é de que não vale.

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19 Dec 20
Não é correto o argumento do PSOL de que uma candidatura isolada de esquerda não ajuda Lira, o candidato de Bolsanaro, porque afinal tem 2º turno. Segue o fio 🧶
Em primeiro lugar porque é fundamental que a candidatura da frente antibolsonaro tenha “cheiro de vitória”. Essa é a única forma de concorrer com os “milhões de argumentos” que o executivo oferece nesse momento aos parlamentares para apoiar Lira. A esquerda com Maia 🧶
faz o caboclo fazer a conta: o executivo me oferece muitas vantagens, mas quem vai ganhar é a outra turma. Pragmático o meu raciocínio? Temos que ser práticos neste momento, é a democracia e a vida das pessoas que está em jogo 🧶
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17 Dec 20
O século XVI inglês assistiu a um debate muito interessante sobre a capacidade das mulheres governarem. Quando o rei Henrique morreu em 1547 seu filho Eduardo virou Rei, mas adoeceu e morreu logo. Antes, manobrou para que sua meia irmã, Maria, que era católica, não assumisse 🧶
indicando como sucessora lady Joana Grey. Maria, no entanto, não estava pra brincadeira, usurpou o trono, decapitou Joana e tornou-se, salvo engano, a primeira mulher a ser rainha da Inglaterra. Tava com a mão na massa mesmo queimou bem uns 300 protestantes adversários 🧶
A ala crítica à Maria começou a caracterizar o seu reinado como um flagelo de Deus e o núcleo de sua argumentação estava na ideia de que uma mulher não poderia ser rainha, 🧶
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29 Nov 20
1. PT e PSOL começam a formar uma nebulosa com fronteiras pouco nítidas. Lula, sem condições de disputar hegemonia em duas frentes, mistura o PT ao PSOL para se concentrar em demarcar com Ciro. A nebulosa ajuda os dois, deixa o PSOL mais taludo e o PT rejuvenescido 👇🏼
2. Outra nebulosa forma-se em torno de PDT, PSB e REDE. Ciro é o candidato natural desta conformação em 22. A aliança passou no teste de 2020, manteve-se unida nas cidades mais importantes com um comando nacional capaz de aparar arestas regionais. 👇🏼
3. DEM, amplamente vitorioso, é incógnita. Não é fácil apoiarem Dória em 22, candidato por um PSDB francamente menor. Se aparecer um empresariado já saciado com reforma trabalhista e previdenciária e disposto a algum esforço desenvolvimentista para empurrar podem ir de Ciro.
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8 Nov 20
Média de pesquisas na Itália. A Liga de Salvini e os Fratelli d’Italia tem, juntos, 40%. A derrota de Trump foi importante, mas estamos longe, muito longe, de afastar o fantasma do neofascismo e das outras faces da extrema direita. Siga o fio 🧵
O neofascismo e assemelhados não são fruto apenas de mudanças na consciência popular. São uma opção de parte do grande capital. Diante de uma série de crises que se sobrepõe e se retroalimentam uma parte das elites internacionais 🧵
não acredita mais na democracia liberal, mesmo a limitada pelo neoliberalismo, como capaz de governar um mundo à beira do colapso. Isso já aconteceu - mutatis mutandis - na década de 30, que pode oferecer insumos importantes para raciocinarmos 🧵
Read 8 tweets
25 Oct 20
Tenho um palpite, mas é só um palpite, posso estar errado. Acho que várias séries da Netflix tem refletido a erupção na Europa do nacionalismo 👇
isso pode ser visto, de forma mais óbvia, no tratamento quase que obsessivo que as séries fazem do tema da imigração. Há,
No entanto, coisas mais importantes, interessantes e menos explícitas 👇
Por exemplo, a grande presença da floresta em muitas séries. A floresta, como demonstrou @simon_schama , dentre outros, é parte fundamental da construção da identidade nacional, especialmente no norte 👇
Read 9 tweets
1 Jul 20
Não voltaremos ao normal, nada será como antes. Mas não por escolha, não porque o velho normal não é desejável. Não há retorno possível porque uma nova realidade nascerá da interação complexa entre várias crises que se combinarão e se potencializarão mutuamente... 👇🏼
1. crise de hegemonia no sistema internacional entre China e EUA, ou entre oriente e ocidente, de acordo com o gosto do freguês; 2. crise econômica estrutural que já vinha de antes da covid; 3. crise ecológica, com o aquecimento global como expressão mais aguda, mas não única 👇🏼
4. crise demográfica, as novas figuras do êxodo do que fala Achille Mbembe; 5 crise de saúde pública, provocada pela (s) pandemia (s) 👇🏼.

Vejam, o que virá não será a somatória simples dessas crises: a resultante será algo diferente e superior, uma síntese complexa delas.
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