Mais que uma questão de saúde pública, a pandemia é um fenômeno econômico e social. O seu surgimento é fruto direto do modelo econômico que adotamos, assim como é a sua gestão política.
Segue o fio.(1/8)🧵
O capitalismo contemporâneo é marcado pela hiperconectividade. Isso gera flexibilização da ocupação do espaço por conta das complexas e eficientes cadeias de produção e telecomunicação.
Todo lugar é aqui.
Compre da China via internet. Faça um skype com a Alemanha.
Não à toa, em poucos meses um vírus que estava em um animal silvestre na periferia rural chinesa se alastrou pelo mundo.
Hoje, trocamos as variantes do mesmo virus com igual velocidade, apesar de todas as restrições de viagem.
Não para por aí.
A gestão política do virus também é moldada pela hiperconectividade.
Nesse sentido, o nonsense da gestão da saúde pública brasileira passa a fazer sentido.
O capitalismo da informação, tem como moeda principal a visibilidade e a atenção.
O que isso quer dizer?
A política próspera é aquela que captura ao máximo a atenção pública. Portanto, conteúdo simples, altamente simbolizável: a figura do politico tem de competir em atenção com a novela e o jogo de futebol.
Hoje, brasileiros conhecem o nome de todos os 11 ministros do STF e também de todos os ministros do governo. Isso não tem precedentes. Xingam, reclamam, elogiam. Como se fosse uma novela ou uma final do brasileirão. É a política do escândalo.
Qual é a razão de ser de uma necropolítica absurda? A polarização, a conquista de todo femtossegundo de atenção. Bolsonaro tem o monopólio absoluto da discussão da internet. Quanto mais ultrajante ou surrealista suas ações mais ele captura da sua atenção.
Sim, saúde pública imprescindível. Contudo, temos de saber em quais campos essa disputa está sendo travada. A cloroquina, o antivacina ou o terraplanismo não estão no plano de saúde pública: não adianta rebater nessa lógica.
Pense nisso antes de manifestar seu ultraje online.
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Usando a base de dados da @factchecknet, conduzimos um estudo comparativo sobre desinformação em 129 países. O problema é mundial, no Brasil o cenário é mais grave.
Nossa pesquisa que virou matéria da @camposmello. Fio (1/6)👇
2) Identificamos que o Brasil e a Índia estão isolados no conteúdo da sua desinformação. Ou seja, as fake news que rodam nesses países é diferente daquelas que rodam no resto do mundo. O mundo segue padrões regionais, ondas que vão e vêm de teorias que surgem e são desmentidas.🌎
3) No Brasil, o debate público é empacou mesmos temas. O resto do mundo conseguiu superar essas questões, enquanto o Brasil se viu travado nos mesmo temas: cloroquina, ivermectina, azitromicina.💊
Ou seja, o que é superado no mundo se se estagnou aqui.
Na semana passada o NY Times relatou o caso de um homem que foi identificado erroneamente pelo reconhecimento facial da polícia. Passou a noite na delegacia à toa.
Não é o único caso e nem de longe o mais grave. Fio
Os problemas de decisões automatizadas vêm recebendo pouca atenção no Brasil.
Nos EUA já tivemos algoritmos até sendo usados no sentenciamento criminal.
Mas a máquina é imparcial, né?
Não. É racista. Negros recebiam sentenças mais duras que brancos.
Os exemplos são muitos. Desde a concessão de vistos para entrar no Reino Unido, até o uso de inteligência artificial para estimar a sua receita anual.
Precisamos pensar em como sistemas automatizados moldam como usamos nossos direitos.
Já que a pauta é liberdade de expressão, cabe apontar o desserviço que é a matéria da @UOLNoticias.
O veto ao Olavo foi dentro da legalidade por alguns motivos:
1 - Não existe o direito de desinformar. O OC promovia discurso de ódio e crimes contra honra sistematicamente (1/5)
2 - O @PayPal se reserva o direito contratual de não trabalhar com certos serviços que possam ser lesivos a sua marca. Eles podem, por exemplo, querer se afastar do comércio de armas. Por que eles não poderiam se afastar da desinformação e discurso de ódio?
3 - Esse mecanismo de pressão popular é extremamente legítimo e é usado faz tempo para pressionar marcas que usam do desmatamento, trabalho infantil, etc.
É louvável uma empresa participar do combate a práticas lesivas à sociedade por vias econômicas e sociais legítimas.
"O problema da internet é que bandido se esconde atrás de perfil falso tipo 'Sapekão666' ou 'Ma1andraMente321'".🦹
Será que identificar todo mundo resolve?🆔
Ponto espinhoso. Vamos discutir técnica, impactos jurídicos e impactos econômicos. Vem comigo (1/7)!
2 - "É só mandar por o CPF!!!"
CPF alheio dá pra achar na internet ou no camelô. Quem estiver afim de fazer coisa errada vai só pegar o CPF de um terceiro. Aí são dois problemas: (i) a coisa errada, (ii) a vítima de falsidade ideológica correndo atrás do prejuízo
3 - "Ah, mas manda fazer. Ai quem quiser fazer coisa errada tem mais trabalho!"
Quem quer fazer coisa errada, já faz esse trabalho direito. Agora e se a empresa é hackeada?
Tendo o CPF na base de dados, esses dados vão parar nas mãos de quem faz coisa errada!