Lilian Thuram nasceu em Guadalupe, um departamento francês no Caribe, e se mudou para a França continental aos 9 anos de idade.
Foi só aí que aprendeu sobre o racismo: na TV francesa, um desenho animado de sucesso tinha duas vacas. A branca era inteligente, a preta era estúpida
Como jogador de talento, ganhou uma chance no Monaco dirigido por Arsène Wenger. Fez sucesso e foi vendido em 96 ao Parma da Itália, time inflado pelos dólares laticínios de sua patrocinadora. Mas, em 2001, o clube entraria em grande crise financeira e necessitaria vendê-lo.
A Lazio, um dos clubes mais ricos do futebol italiano, queria Thuram. Homem culto, que já lia e se manifestava contra o racismo há muitos anos, ele desconfiava dos ultras da Lazio, famosos por sua admiração a Mussolini. Na hora H, negou-se a ir para Roma: “não jogo pra fascistas”
Thuram foi um símbolo da seleção “black-blanc-beur”, preta, branca e árabe, que a França montou nos anos 90. Mas, pela história colonial da França, se recusava a cantar A Marselhesa antes dos jogos. Jean-Marie Le Pen, líder da extrema-direita francesa, passou a atacar o time.
Na semifinal da Copa de 98, a França jogava contra a Croácia, surpresa do campeonato. No início do segundo tempo, Thuram deu bobeira na linha de impedimento e deu condições a Davor Suker, o artilheiro do Mundial, de abrir o placar. 1 a 0 e a França se afastava do sonho da final.
Thuram era lateral e, portanto, fazia pouquíssimos gols, mas se lançou ao ataque. No minuto seguinte, recebeu passe desajeitado e empatou o jogo.
Depois, aos 25, roubou uma bola da defesa croata e enfiou uma bomba de canhota no fundo da rede.
Nem ele mesmo acreditava naquilo.
Em entrevista, diria que nunca se sentiu francês de verdade até aquele dia, em que foi carregado pelos companheiros e ouviu: “Thuram para presidente!”
Conquistou o mundo em 98 e depois a Europa em 2000.
“Eu? Nascido em Guadalupe, um garoto pobre de Paris? Ainda não acredito”
Thuram é um dos grandes destaques do nosso novo episódio, o Copa Além da Copa 35 - França, suas colônias e o futebol.
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Loujain al-Hathloul é uma ativista feminista que foi presa na Arábia Saudita em 2018, quando protestava pelo direito da mulher de dirigir. Neste ano, o rally Paris-Dakar é disputado neste mesmo país, e o pior: os corredores vão passar a apenas alguns metros de onde ela está presa
As mulheres receberam o direito de dirigir na Arábia Saudita pouco depois dos protestos em que Loujain foi presa. E, por isso, a ironia é que 12 dos motoristas que estão participando do rally este ano são...mulheres. Organizações de direitos humanos pedem um boicote à corrida.
Especula-se que Loujain será solta em breve, para amenizar as relações da Arábia Saudita com o novo governo dos EUA. Mas isso não apagará os anos em que ela passou na prisão, sem condenação legal. Segundo seus pais, lá, ela é torturada e abusada sexualmente como parte da rotina.
França e Argélia, metrópole e ex-colônia, países que travaram uma guerra violenta entre 1954 e 1962, entram num campo de futebol um contra o outro pela primeira vez.
É um “jogo da paz”, que acaba por demonstrar que a paz para alguns ainda está distante.
3 anos antes, um filho de argelinos uniu as torcidas ao marcar 2 gols e atropelar o Brasil na final da Copa de 98, no mesmo Stade de France que receberá a partida.
Mas o clima para esse jogo é muito diferente, e isso fica claro quando A Marselhesa é vaiada antes de a bola rolar
A França joga como visitante em casa.
O jogo ainda dá o azar imenso de ocorrer 1 mês depois dos atentados de 11 de setembro em Nova York.
A extrema-direita francesa agradece, e aumenta o discurso xenofóbico contra muçulmanos e demais imigrantes de antigas colônias francesas.
O Uruguai tem menos de 100 mortos pela Covid-19. Um dos grandes responsáveis por isso é Gonzalo Moratorio, o único latino-americano entre os 10 cientistas mais importantes do mundo em 2020, segundo a revista Nature. E ele faz tudo isso sendo técnico de futebol universitário.
Moratorio é apaixonado por futebol e torcedor do Nacional. Tentou a carreira como zagueiro, mas uma lesão no joelho o impediu de continuar. Ficou então como treinador do possante Arquitectura Juniors, aproveitando que já estava inserido na comunidade universitária do país.
“O que se aprende no futebol e o que tento transmitir aos alunos de doutorado e mestrado é que se deve comemorar o sucesso do companheiro como se fosse o seu”, diz ao jornal El País Moratorio, ou “El Pelado Mora”, como é chamado no clube, pela careca lustrosa que ostenta.
Após 106 anos, o time de baseball da cidade de Cleveland anunciou hoje que deixará de se chamar Indians, ou índios, em português. O nome é visto por movimentos sociais como preconceituoso contra os índios, transformando-os em mascotes esportivos, e será trocado após 2021.
O proprietário da equipe, Paul Dolan, afirma que “é a hora” para fazer a mudança, já que um nome que estigmatiza nativos americanos "não se encaixa mais no mundo atual". Mesmo assim, ele diz que não quer um nome transitório na próxima temporada - por isso, nome novo só em 2022.
Em julho, o time de futebol americano Washington Redskins, também de nome considerado racista, anunciou que finalmente mudaria sua identidade. O nome novo não foi escolhido ainda, o que mantém atualmente a equipe com o nome provisório e genérico de “time de futebol de Washington”
A Atalanta é um clube modesto. Jamais foi campeão italiano. Hoje, joga em Lisboa contra o PSG não apenas pelo sonho de estar entre os quatro melhores clubes da Europa, mas para lavar a alma da sua cidade, Bergamo, o epicentro da pandemia de coronavírus na Itália.
A cidade tem pouco mais de 120 mil habitantes, e estima-se que, por lá, morreram cerca de 3000 pessoas. Na região da Lombardia, onde ela se localiza, foram ao todo cerca de 17000 vítimas. E o pior é que, até o início de março, Bergamo estava em festa por causa da Atalanta.
Nas oitavas de final, a Atalanta fez 2 grandes jogos contra o Valencia. Mas as aglomerações nas partidas podem ter sido responsáveis por disseminar o vírus entre os torcedores e, portanto, levá-lo a toda a cidade. “Uma bomba biológica”, diz o prefeito www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/0…