Thread by @nickfismat

É contra a propriedade intelectual? — Yep. Vou desenvolver no Twitter curiouscat.qa/nickfismat/pos…

Alguns daqui devem saber que eu já fui ancap num passado distante. Eventualmente eu fiz dezoito anos, fui amadurecendo e minha posição política mudou pra "mano, só tenha bom senso"

Num diagrama político, eu sou extremamente progressista em termos de liberdade política e social, mas sou de centro em termos econômicos (vejo isso como um reflexo da minha crença de que eu não sei o suficiente de Economia pra ter uma posição diferente)

Porém, algumas ideias libertárias sobreviveram em mim depois de vários anos de reflexão. Geralmente são da forma "É importante as pessoas serem livres", mas com o porém de "Não, vender seu filho pra comprar heroína não é bem liberdade"

Ser contra propriedade intelectual é uma delas, e a justificativa segue quase inalterada

De um ponto de vista libertário, não faz sentido o conceito de propriedade intelectual porque propriedade privada está atrelada a escassez, e não existe escassez de ideias

Quando se fala "Fulano possui uma Ferrari, mas Sicrano não" é porque não dá pros dois terem a Ferrari. Porém, Sicrano pode ter o mesmo conhecimento que Fulano sem Fulano perder nada

A ideia de propriedade intelectual me parece baseada num prejuízo futuro. "Se Sicrano vender o remédio que eu inventei, eu vou ter menos lucro, então ele tá me roubando"

Me parece com contar com o ovo no cu da galinha

Esse argumento de escassez também encaixa numa visão libertária pra justificar sla, que água seja um produto comercializável e coisas do tipo. Nesse ponto eu começo a discordar porque eu não concordo que hoje em dia se tenha uma escassez de água a esse ponto, além de água ser

fundamental para a vida, uma Ferrari não

Essas questões de propriedade intelectual me ocorrem de tempo em tempo pq né, eu dou aula particular quando alguém me pede. Se eu não acredito em propriedade intelectual, eu posso cobrar?

Eu concluí que eu posso, porque eu não vendo o meu conhecimento. Bem, inclusive eu já participei de sei lá quantos projetos voluntários no IF pra ajudar o pessoal com as matérias

Eu vendo o meu tempo

Que por sinal, vale muito mais que conhecimento. Conhecimento eu adquiro mais frequentemente. Tempo é a única coisa que a gente tem e não pode recuperar

Então eu acho que quando você cobra pra ensinar alguém, seja por aula, podcast, minicurso, texto, etc, isso precisa estar na sua mente. Você não cobra por conhecimento, cobra por tempo e pelos custos que você tem

No contexto de livros e artigos, que é o que eu imagino que motivou a pergunta, existe um fator extra: essencialmente todo o conhecimento que tá ali foi obtido com dinheiro público. Restringir o acesso ao conhecimento é privar o povo do que eles próprios pagaram

Eu acho justo você cobrar uma taxa pra sla, manutenção de servidor, papel (no caso de periódico impresso), coisas do tipo. O que as grandes editoras fazem, no entanto, pra mim é roubo institucionalizado e reflete uma das falhas do nosso sistema econômico

Em círculos libertários é comum se falar em como pedágio e impostos são absurdos porque você paga duas vezes pelo mesmo serviço e etc. O que acontece aqui é pior, na minha opinião, porque você paga pra descobrir algo sobre o mundo, paga pra tornar o conhecimento público e +

paga ainda mais pra poder acessar. E as duas últimas etapas são extremamente superfaturadas. Dão dinheiro pra quem não fez nada no processo além de querer pagar de esperto

A história da Alexandra Elbakyan e da Elsevier me lembra da música de abertura do Corcunda de Notre Dame, por sinal

Hush, and Clopin will tell you
It is a tale, a tale of a man and a monster
[...]
Now here is a riddle to guess if you can
Sing the bells of Notre Dame
Who is the monster and who is the man?

De um lado você tem uma entidade que revolucionou a ciência e permitiu que a humanidade desenvolvesse seu conhecimento mais do que jamais havia sonhado, do outro uma entidade que não passa de uma ladra

Quem é a revolucionária e quem é a ladra?