Acha que em algum futuro não muito longe, a profissão de professor presencial pode acabar, e ser substituíd… — ISSO É UM PRATO CHEIO PRA EU DESTILAR VENENO. PARTIU TWITTER curiouscat.qa/nickfismat/pos…
Primeiro a parte de aulas presenciais
Acho discutível. O sentido de você ter um professor é, na minha opinião, que a pessoa que está dando aula possa fazer algo melhor do que qualquer coisa que pode ser encontrada em um livro ou em vídeo
A gente põe uma pessoa com 40 anos de experiência em Física, que poderia estar descobrindo ciência de ponta, pra lecionar pra estudantes que tão aprendendo Leis de Newton. Qual o sentido?
O sentido é que essa pessoa com 40 anos de experiência consegue ver o assunto de vários ângulos diferentes e tem uma proximidade com o tema diferente dos livros e vídeo-aulas que você pode encontrar por ali. Se ela decidir dar um curso bom, consegue fazer algo que liga
Física I com problemas modernos e te dá um panorama muito mais geral sobre Física, que foge de qualquer livro. Além, claro, de conseguir navegar pelo melhor de cada livro
Btw, eu digo isso porque eu vi acontecer. Eu já vi um (e apenas um) curso de Física I que consegue fazer contato com buracos negros, Física de Partículas, Matéria Condensada, supernovas, etc e tal
Porém, a partir do momento que um curso é gravado, você tem dois lados
1. Ele se torna acessível a muito mais pessoas 2. O que justifica um pesquisador, ao invés de sla, um mestrando, ministrar um curso que já foi gravado?
Você precisa de pesquisadores dando aula pra manter o curso fresco, atualizado e sempre melhorando. Acho que durante períodos curtos de tempo (~5 anos?) o curso não muda muito, mas mais do que isso pode se tornar relevante
Claro, as Leis de Newton continuam as mesmas nos últimos 300 anos. Porém, a forma como elas podem ser úteis muda o tempo todo, e o principal componente é criatividade
Eu conferi rapidamente e acho que metade das referências que eu usei no meu curso de Mecânica datam dos últimos dez anos (entre livros, que não tem muita coisa nova, mas também uma boa porção de artigos), e não é tão difícil encontrar artigos em assuntos supostamente simples
Em escalas de tempo de alguns anos, você consegue melhorar consideravelmente a qualidade de um curso, ao custo de criatividade e esforço.
Aulas gravadas não fazem isso
E claro, o mais importante: elas distanciam professor e aluno. O papel da Universidade não é ter aulas, é concentrar pessoas interessadas em estudar um tema em comum
Número de Cientistas no Futuro
Não acho que só dar aula seja relevante pra definir isso. O papel de um cientista envolve muita pesquisa, também, não apenas aulas. E olha que eu disse aulas, não ensino: existe muito ensino feito pelos cientistas que não é por meio de aulas
Orientação de alunos, por exemplo, e eu diria que mesmo bater papo com aluno. Essas são coisas que uma aula gravada não consegue fazer. Você precisa de alguém presente, experiente e disposto a conversar
AGORA O MEU FAVORITO: INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PODE ROUBAR TRABALHO DOS CIENTISTAS
Minha opinião de forma resumida: sim, se o suposto cientista for incompetente. Nesse assunto em particular eu posso ficar particularmente venenoso
Eu não sou especialista em IA, mas pelo pouco que eu conheço, IA é frequentemente treinada com uma série de condições relativamente restritas. Ela aprende por experiência, assim como a gente
O problema, até onde me parece, é que as experiências que você pode fornecer pra IA são particularmente mais limitadas que as experiências que um ser humano pode ter
Por um lado, isso significa que a IA domina assuntos específicos em bem menos tempo. Uma IA tem muito mais facilidade que eu pra fazer o Thanos cantar Baka Mitai (não tenho ctz se isso é uma IA, mas acho que é)
Se ciência fosse lógica pura, a gente não teria chance
Mas não é
Fazer ciência envolve criatividade também. Envolve ser capaz de criar conexões entre assuntos que até então pareciam completamente desconexos e inovar
Uma IA, até onde eu entendo, não funciona de maneira criativa. Funciona estrapolando a experiência de aprendizado que ela teve (o que é, de todo modo, sensacional e poderosíssimo pra ciência)
Pra mim, isso indica que se a sua concepção de ciência é "Eu tenho um código que eu nem sei como funciona, mas eu uso ele pra entender esse fenômeno", eu acho que seu trabalho não sobrevive a uma revolução das máquinhas
Eu já vi pessoas na Academia cujo trabalho poderia muito bem ser substituído pelo Mathematica. Uma IA cuida disso sem problemas
Mas nem toda a ciência se resume a isso. Pesquisa de ponta envolve ter criatividade o suficiente pra descobrir algo além de qualquer aprendizado que a gente já teve
Isso é uma versão utilitarista do porquê eu gosto tanto de me meter em áreas diferentes da minha, e pq quase todos os seminários que eu já ministrei não tinham a ver com minha IC, área de interesse ou coisas do tipo
Pq qualquer um trabalhando com Eletrodinâmica sabe o que são funções de Bessel, o que são harmônicos esféricos, funções de Green e etc
Quem vai ter as ideias diferentes é o cara que mexe com Eletrodinâmica e entende super bem sobre Sistemas Dinâmicos, pq ele enxerga as coisas de um ponto de vista que ninguém enxerga
Se você conseguir ensinar todo o conhecimento humano pra uma IA, eu acho que talvez fique difícil competir
Mas eu ponho fé na criatividade da humanidade
E claro: quem programa a IA?
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Faz uma thread explicando E=mc²? O que acha? Você já disse que achava que ela significava que uma massa vir… — Tô enrolando pra fazer essa #FísicaThreadBR há 15 dias (mals anon uahsauhs). Vamos lá curiouscat.qa/nickfismat/pos…
Acho que é interessante eu começar dando uma ideia de onde vem a fórmula. Eu vou mostrar uma dedução que tá errada (e falar que pq tá errada), mas que deve dar uma intuição bacana e que o próprio Einstein propôs em 1906 (Lemos, 2002)
Como sempre, as referências que eu citar entre parênteses vão aparecer no final da thread
Um dos maiores problemas que a gente tem com aspirantes a cientistas consumindo divulgação científica é que eles ficam com a impressão que ciência é algo fácil
Eu gosto muito de uma analogia do Marcelo Gleiser, em que ele diz que ciência é como uma orquestra: você não precisa saber tocar um instrumento pra apreciar a sinfonia
Mas o que eu gosto nisso é que ela também capta muito bem a dificuldade que se tem em fazer ciência. Se você quer só ouvir a música, basta a vontade. Se você quer só apreciar ciência, basta ler os livros excelentes do Hawking, do Rovelli, acompanhar um canal de divulgação, etc
vc dá aula particular pra aluno de médio? se n, conhece algm fera que dê? — Olha, a gente pode conversar. Eu sou um tanto mais fã de dar aula de assuntos a nível universitário, though. Não duvido que pode aparecer algu… curiouscat.qa/nickfismat/pos…
Se alguém tiver interesse, fica à vontade pra comentar aí
Ok, talvez eu devesse comentar alguns detalhes num surto de coragem pq eu preciso aprender a cobrar pelo meu trabalho
What's your biggest achievement so far? — Mano, você não sabe como eu fiquei feliz quando eu aprendi a usar a impressora da FisMat curiouscat.qa/nickfismat/pos…
Isso é não-irônico, por sinal. Um dos meus dias mais felizes na USP foi quando eu aprendi a usar a impressora da FisMat. Eu gostei MUITO mais disso do que da notícia de que eu tinha conseguido bolsa de IC, ou que fui aprovado no mestrado, etc
É um aspecto bem Soul da minha vida acadêmica. Eu me divirto muio no processo e frequentemente anseio por alguns milestones, mas eles frequentemente não tem o sabor que eu esperava
Alguns daqui devem saber que eu já fui ancap num passado distante. Eventualmente eu fiz dezoito anos, fui amadurecendo e minha posição política mudou pra "mano, só tenha bom senso"
Num diagrama político, eu sou extremamente progressista em termos de liberdade política e social, mas sou de centro em termos econômicos (vejo isso como um reflexo da minha crença de que eu não sei o suficiente de Economia pra ter uma posição diferente)
Existem diversos pontos no mínimo patéticos, mas podendo chegar a grotescas falhas morais, que os defensores da medida pré-integrando utilizam para defender sua visão deturpada sobre notações para integração
O primeiro, talvez até o mais comum, é colocar o diferencial logo após a integral para que não se esqueça sobre qual variável se está integrando