Hoje vamos falar sobre a ÚLTIMA FACÇÃO DA MACHOSFERA!
(pelo menos dos que mapeamos até agora)
Hoje vamos falar dos Homens Sanctus. Para falar dessa facção, esse fio vai abordar questões de violência de gênero e contra crianças, pessoas sensíveis aos temas podem se incomodar.
Os "Homens Sanctus" são a facção mais abertamente violenta da machosfera brasileira. Se nomear enquanto “sancto” tem relação com a ideia de que mulheres seriam promíscuas e infiéis, uma idéia misógina corrente na machosfera, ser um homem “sanctu” é estar em oposição a isso.
O termo “sancto” pode ser visto também no dialeto da machosfera para nomear “actos sanctus”, ou seja, atos violentos de ódio cometidos por um participante da machosfera
Além de misóginos, frequentemente também postam racismos sobre a "necessidade de embranquecimento do Brasil"
Em 2012, dois blogueiros foram presos acusados de serem administradores de um blog de ódio sob o nome falso de “Silvio Koerich”. Dentre os muitos posts de ódio, existiam posts exaltando o estupro, feminicídio e até um manual de estupro corretivo de mulheres lésbicas.
Um frequentador desse tipo de blog que incentivava violência misógina e propagava conteúdo supremacista branco foi o assassino que invadiu e matou 13 crianças numa escola em Realengo, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, em abril de 2011.
Estudos feitos sobre o perfil de assassinos que entram em escolas atirando, como foi o caso do assassino de Realengo, apontam alguns traços de personalidade desses assassinos que podem também ser observados, ou potencializados, na machosfera.
Tonso, em "Violent masculinities as tropes for school shooters: The Montréal massacre, the Columbine attack, and rethinking schools.", relata que os assassinos os estudados dizem se sentirem “injustamente tratados pela sociedade”.
Esse sentimento pode ser facilmente observado (e potencializado) na machosfera, com ideias de q o mundo é dominado por mulheres q oprimem homens.
Além disso, para rebater esse sentimento de injustiça e até de humilhação, fazem uso da violência para “tomar seu local de direito”
A ideia que é negado a homens algo que é de direito deles, no caso mulheres, também é recorrente na machosfera.
Outro traço observado por Bonanno e Levenson é o sentimento de isolamento social. Não é necessário que esse isolamento seja real, apenas que o assassino tenha essa+
Visão sobre si.
Se entendermos que a machosfera colabora para o sentimento de isolamento a partir da tomada da “red pill”, isolamento este que os próprios frequentadores da machosfera relatam, podemos entender como ela potencializa alguns fatores de risco.
Autores apontam que é impossível traçar um perfil psicológico único desses assassinos, apenas observar alguns traços de personalidade mais comuns entre eles.
Se entendermos o discurso de ódio que a machosfera, em especial Homens Sanctos, +
como mostra Martins, “hate speach” (discurso de ódio) como detentor de duas funções: o insulto e a instigação de violência, podemos entender que esses blogs tem papel ativo no incentivo e formação de base ideológica para esses assassinos.
E eles sabem disso.
Logo após o ato de violência praticado contra crianças, blogs masculinistas e perfis de figuras conhecidas dentro dos Homens Sanctus trancaram seus perfis e deletaram seus blogs, com medo de investigações.
Apesar desses blogs terem saído do ar, muitos blogs e fóruns de discussão sobre “Homens Sanctos” permanecem. O mapeamento desses “Homens Sanctos” é de extrema importância para evitar mais atos violentos. A incitação a violência em seus blogs e fóruns de discussão +
é intensa e constante, não se deve ser entendida levianamente como “trolls de internet”, mas sim como um grupo de ódio organizado na internet com poder de influenciar atos isolados de violência, como infelizmente já vimos.
Esse novamente foi um fio mais sério e pesado, impossível fazermos brincadeiras aqui. É doloroso falar sobre, mas precisamos.
Amanhã encerraremos nossa discussão sobre a machosfera (pelo menos por enquanto) e até o final da semana anunciaremos novidades.
Referenciados no fio:
Bonanno, Caitlin M., and Richard L. Levenson Jr. "School shooters: History, current theoretical and empirical findings, and strategies for prevention." Sage Open 4.1 (2014): 2158244014525425. Disponível em: journals.sagepub.com/doi/full/10.11…
Martins, Anna Clara Lehmann. "Discurso de ódio em redes sociais e reconhecimento do outro: o caso M." Revista Direito GV 15.1 (2019). Disponível em: scielo.br/scielo.php?pid…
Tonso, Karen L. "Violent masculinities as tropes for school shooters: The Montréal massacre, the Columbine attack, and rethinking schools." American Behavioral Scientist 52.9 (2009): 1266-1285. Disponível em: journals.sagepub.com/doi/abs/10.117…
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Para nosso ÚLTIMO FIO sobre a machosfera, vamos ser radicais e irmos na raiz do problema.
Vocês devem ter percebido que falamos muito de "psiologia evolucionista" como base da filosofia da machosfera, mas não entramos em detalhe.
Hoje nós vamos.
A filosofia da Machosfera, a filosofia Red Pill, se baseia na ideia de que homens e mulheres teriam evoluído de formas diferentes, homens aptos a caça e, por isso, mais agressivos e racionais e mulheres focadas em sobreviver, por isso teriam desenvolvido formas de +
Se aproveitar de homens, já que elas não teriam condições de caçar.
Já explicamos a filosofia da Red Pill aqui, mas ainda não tínhamos explicado a corrente acadêmica que deu origem a ela. Essa corrente é a "psicologia evolucionista".
Vamos continuar falando sobre facções da machosfera. Eu sei, elas são muitas. Mas estamos quase no fim.
Hoje vamos falar de uma facção brazuca, criação nacional, os Guerreiros da Real.
Guerreiros da Real, ou apenas "da Real", são homens frequentadores de blogs que propagam ideias misóginas, fazem parte do ecossistema da machosfera e ecoam muitos de seus pensamentos.
A origem desse grupo, que se organizam através de postagens em blogs, Youtube e podcasts, é incerta, mas algumas pessoas apontam comunidades no (falecido) Orkut. Nessas comunidades eram estudados "gurus" do masculinismo e debatidas ideias que, mais tarde,
E ai, gente, afim de mergulhar num penico entupido? Vamo falar da machosfera, o primeiro grupo que vai aparecer no site.
Pra galera que não quer ver misoginia, babaquice e grandes pitadas de racismo, sugiro vídeos de gato no YouTube. A partir daqui o bagulho fica RUIM. Avisados
"Mas o que é a machosfera? Quem participa? É realmente perigoso ou é um monte de menino que gosta demais de anime e videogame? Racismo?? Achei que eles fossem só meio machistas!"
Vamos por partes, gafanhoto
A machosfera não é um grupo fechado, é um ecossistema de fóruns e produtores de conteúdo. Dentro da machosfera temos muitas facções (incel, mgtow, pua, #/gamergate, movimento de direito dos homens...), mas vamos entrar nelas em outros momentos.
O Mapa do Ódio é um projeto de mapeamento dos grupos de ódio na região metropolitana do Rio de Janeiro. A partir desse mapeamento vamos tentar entender como se organizam, o que pensam e, principalmente, como se relacionam esses grupos.
Todo esse material estará disponível em breve em formato de site, onde o usuário poderá explorar os nódulos (os grupos de ódio) e seus vínculos (as relações estabelecidas entre eles). Esse site será constantemente atualizado a medida que a pesquisa avança.
Além de mapear, o site também funcionará como plataforma de divulgação científica da área de Ciências Sociais, debatendo e analisando sociologicamente os grupos apresentados, bem como suas relações.