Thread by @MapaDoOdio

Para nosso ÚLTIMO FIO sobre a machosfera, vamos ser radicais e irmos na raiz do problema.

Vocês devem ter percebido que falamos muito de "psiologia evolucionista" como base da filosofia da machosfera, mas não entramos em detalhe.

Hoje nós vamos.

A filosofia da Machosfera, a filosofia Red Pill, se baseia na ideia de que homens e mulheres teriam evoluído de formas diferentes, homens aptos a caça e, por isso, mais agressivos e racionais e mulheres focadas em sobreviver, por isso teriam desenvolvido formas de +

Se aproveitar de homens, já que elas não teriam condições de caçar.

Já explicamos a filosofia da Red Pill aqui, mas ainda não tínhamos explicado a corrente acadêmica que deu origem a ela. Essa corrente é a "psicologia evolucionista".

https://twitter.com/MapaDoOdio/status/1346108415492423681

A Psicologia Evolucionista procura pensar como a evolução da nossa espécie influência em comportamentos complexos humanos. Para eles, não faz sentido pensar processos sociais sem considerar aspectos biológicos evolutivos que se desenvolveram na história da nossa espécie.

Com isso, buscam explicar o comportamento humano a partir da interação entre predisposição biológica e aspectos ambientais (cultural, meio físico, história de vida...). O fazem muito a partir de comparações entre humanos e outras espécies.

Os autores dessa corrente, porém, afirmam que deve-se ter cuidado quando se aplica essa forma de pensar e que estão atentos a questões como o uso de teorias do darwinismo social feito por nazistas e dizem que a explicação biológica deve ser conciliada com a análise cultural.

Esse, apesar de uma grande questão, não é o único problema apontado por críticos da psicologia evolucionista. Eles são muito criticados por sua falta de método próprio, se baseando em grande parte em observações, como os próprios teóricos da psicologia evolucionista admitem.

Uma crítica dessa corrente é a professora Hilary Rose, que escreveu um livro sobre sua crítica, aponta questões na PE de evidência empírica instável, premissas erradas e pressuposições políticas não examinadas. Nesse sentido, a testabilidade, os pressupostos, +

a incerteza do "ambiente ancestral" e questões políticas e éticas das interpretações da pesquisa põe em cheque a confiabilidade da PE enquanto uma corrente teórica.
O livro é um esforço multidisciplinar crítico ao que classificaram como "reducionismo da psicologia evolucionista"

Segundo os teóricos críticos, a leitura das teorias da evolução feitas por teóricos da PE não seria tão aprofundada e, aos experimentos da PE, falta a diferenciação entre explicações distais e proximais.

Rose destaca que processos biológicos tem relações distais com o comportamento humano e não causais, como defendem alguns teóricos da PE.

Outro esforço de pensar criticamente sobre a PE, em especial em relação a gênero, é do professor Lancaster

O professor afirma que explicações sobre normas de gênero baseadas em biologia ressurge num contexto político onde o próprio "gênero" está sob debate e que visões reducionistas sobre comportamento sexual se baseiam em um "essencialismo de gênero".

Os dois livros chamam a atenção para necessidade de se aprofundar nos debates sobre ações humanas e relações sociais, fugindo de reducionismos.

Para um grupo que se diz tão racional, a falta de debate sobre esses pressupostos na machosfera é, no mínimo, incoerente.

A leitura rasa de uma teoria que é considerada rasa por alguns teóricos deve ter a profundidade de um pires. Infelizmente nos gerou esse movimento misógino.

Referenciados no fio:
Alas, Poor Darwin: Arguments Against Evolutionary Psychology - Hilary Rose
The trouble with nature : sex in science and popular culture - Roger N Lancaster

Entenda mais:
jornal.usp.br/ciencias/cienc…

Concluímos aqui nossa aventura pela machosfera.

Esperamos não ter que usar o gif de Matrix tão cedo! Obrigada por todos que acompanharam, amanhã vamos juntar todos esses fios em um único fiozão-final e comemorar o fim dessa parte da pesquisa!