Uma variante mais transmissível não precisa escapar de imunidade para causar o que vemos em Manaus. Segue um fio do que ser mais transmissível implica e pq vacinas são a melhor saída (além do distanciamento).
O estudo SIREN feito no Reino Unido estimou que 17% dos curados voltam a pegar o vírus (bmj.com/content/372/bm…). Os dados são na maior parte pré-variante mais transmissível. Mas vamos imaginar que a vulnerabilidade se mantém, que só 1/5 dos curado são vulneráveis.
Um vírus mais transmissível tem uma taxa de ataque maior. Isso quer dizer que entre as pessoas expostas, ele consegue infectar mais gente do que o SARS-2 original. No caso do B117, isso parece acontecer pq ele se liga melhor às nossas células.
Imagina uma aglomeração só de quem pegou o vírus e se curou, com 1 pessoa transmitindo o vírus. Por volta de 1/5 das pessoas pode pegar de novo. Mas alguns estão de máscaras, outros um pouco mais longe, então poucos vulneráveis vão encontrar vírus suficiente pra pegar de novo.
Mas um vírus mais transmissível, com mais taxa de ataque, consegue encontrar os poucos que são vulneráveis e passar mesmo assim. Um vírus mais transmissível fura melhor as barreiras e encontra mais gente que pode infectar. Mesmo onde muitos se curaram.
Ele não precisa ser capaz de escapar da imunidade. Mesmo sendo tão barrado quanto o SARS-2 normal, mesmo só conseguindo infectar 1/5 dos curados, ele vai conseguir encontrar mais pessoas que estão nessa categoria.
Ou aumentamos as barreiras com mais distanciamento, ou vacinamos as pessoas. Caso contrário, ele se espalha mais. O bom de vacinar é que mesmo se alguns pegarem (já que o vírus é mais eficiente), as vacinas reduzem a severidade da doença.
Então os casos podem até aumentar, apesar da vacina, mas as internações não aumentam, o sistema de saúde não é sobrecarregado e todo mundo sofre menos.

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17 Jan
A Anvisa é o órgão técnico que nos serve, avaliando a única terapia anti-COVID que temos até aqui: vacinas. É fundamental termos confiança no processo que fizerem. E a avaliação técnica foi transparente e cumpriu o seu papel recomendando a aprovação dessa terapia.
Outro ponto fundamental é garantir que as vacinas são fabricadas de maneira adequada. Tudo o que não queremos é ter uma vacina que funciona gerando problemas de saúde porque foi produzida inadequadamente. Por isso a apresentação sobre o processo.
Sei que o pronunciamento até aqui é bem entediante. Mas estamos vendo a história sendo escrita e transparência é fundamental. Assim como critérios técnicos. Orgulhoso de como foi conduzido até aqui.
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17 Jan
Se o parecer técnico da CoronaVac é de aprovação, já sabem que se não for aprovada, a decisão não foi técnica.
Até aqui, avaliação técnica tem sido ótima pro que esperava. Técnica, clara, levantando pontos importantes e consenso entre as pessoas da área que acompanho. Não dá margem para decisões equivocadas, do ponto de vista científico. Se serão decisões científicas, veremos.
Também recomendam aprovação da vacina de Oxford e pedem dados que serão necessários para campanha nacional de imunização. Parecer técnico excelente.
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17 Jan
Minha leitura até aqui: a maioria das incertezas é natural de testes e uso emergencial. Ditam mais distribuição das vacinas no plano de imunização do que aprovação ou não. O principal para negar a esse ponto seria ter dúvidas de segurança e os resultados foram bons quanto a isso.
E o parecer técnico foi esse, de aprovação. Sabendo que as perguntas precisam ser respondidas para decidir os passos de uso. E muitas respostas só virão com o acompanhamento de vacinados.
Foi o parecer técnico, até onde entendi, ainda tem votação, não?
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17 Jan
Pequeno glossário do pronunciamento da Anvisa:

Metodologia, farmacopeia e afins - Pegamos a lista de ingredientes e a receita da vacina e conferimos se bate com o que o Brasil e outros já aprovaram. Importante para ver se só sobra o que queremos na vacina.
Cálculo de validade das vacinas - importante para saber por quanto tempo podem ser usadas. Precisam de extrapolação, já que elas não tem um ano depois de feitas. É o que podemos precisar saber se elas forem esquecidas em um galpão, como os testes foram.
Avaliação de anticorpos e potência - é o que permite ações de emergência, como fracionar vacinas (dividir uma dose em várias), como fizemos com a febre amarela nos surtos de anos anteriores.
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15 Jan
Guardando a análise pro próximo debate sobre divulgação científica, pra ilustrar o que é um esforço coordenado e bem sustentado de desinformação e anticientífico em redes sociais. Divulgação científica não é o que vai resolver isso. Mais informação não é o que resolve isso.
Não quero dizer que DC não funciona. Pelo contrário, tanto que é meu objetivo de vida. Mas desinformação não é um problema de falta de informação. Esse é o resultado coordenado e estruturado de uma rede com muito poder que depende dessa máquina e coloca muito $ para garantir.
Soma à isso que muitos brasileiros recém conectados só têm contato com a internet pelo celular. Especificamente pelo plano de dados com WhatsApp grátis. Isso quer dizer que para essas pessoas, só o que chega dentro do Zap é acessível, nem link pra fora carrega. Zap é a realidade.
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14 Jan
Quem não é da área talvez não entenda o impacto.

Sem oxigênio, a mortalidade da COVID não são "só" os infectados. É toda a ala hospitalar. Pelos próximos dias. É do bebê prematuro ao paciente em coma por um acidente de carro.

É um desastre humanitário. Que começou em Manaus.
Do começo do ano até aqui, mesmo no pior que passamos em março, nunca estivemos tão baixo na situação com que brasileiros são tratados. E é uma doença infecciosa, que não fica parada.

Meus pêsames a todos em Manaus pelo que tem acontecido e o que vem pela frente.
E meus pêsames a todos os profissionais de saúde que dão a vida para cobrir a incompetência alheia de quem não aprendeu a lição depois de 1 ano.

Devo passar menos tempo no Twitter pelos próximos dias.
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