Não sou especialista no assunto, não cubro saúde, não estive em Manaus, não tenho conhecimento. Mas me intriga: os responsáveis pelo suprimento de oxigênio hospitalar detectaram que faltaria o produto? Isso foi registrado? Isso foi comunicado às autoridades de saúde? Sigo:
Os médicos oficiaram o diretor da unidade? O diretor da unidade oficiou a secretaria de saúde? Isso chegou ao ministério? Não há nada escrito no estado? Não há protocolos? Padrões? Não há rastros, registros?
O ministro da Saúde visitou o estado pouco antes do colapso. Foi informado? Recebeu relatório? Que resposta ele deu? Ele mesmo produziu registro de sua visita? Manifestou suas constatações? Discutiu com alguém o assunto? Tomou conhecimento?
O Conselho de Medicina não foi informado a tempo? Não tinha essa informação? O Sindicato dos Médicos tampouco? Precursores, professores das universidades não sabiam? Essa informação não circulava no meio médico? Foi uma surpresa total?
Qual a cadeia de transmissão de informação pública formal que será seguida pelos órgãos de controle para estabelecer as responsabilidades? Por onde o Ministério Público puxará o fio da meada? E a Comissão de Ética de cada hospital, do CRM? Que papéis conseguiu juntar?
Por fim, quem fará com que esses órgãos de controle se mexam? Promotores, juízes, membros de comissões de ética médica, quem fiscalizará a apuração que precisará ser feita por esses fiscais?
O Brasil é um país grande, importante, sério, estruturado. Tem governo, Estado, Poderes, universidade, imprensa, sociedade complexa. Não pode deixar de apurar e responsabilizar. Não se trata de uma tragédia fortuita ocorrida num acampamento remoto no fim do mundo.
Ao percorrer o caminho dos ofícios e relatórios é possível chegar aos nomes dos que falharam nesse circuito, e aplicar a lei. Há pessoas com nome e sobrenome que obviamente falharam em suas responsabilidades técnicas e políticas. A culpa não é só do vírus.

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13 Jan
A soja é o principal produto de exportação do Brasil. Está à frente de minério de ferro, de petróleo, de celulose, de maquinário, de tudo. O produto, em grão ou em farelo, é usado principalmente para ração animal, e responde por 14% de todas as vendas brasileiras ao exterior.1/10
Das aproximadamente 100 milhões de toneladas de soja que o Brasil exporta por ano, 13 milhões vão para países que fazem parte da União Europeia, sendo que 5 milhões vão para a França, de acordo com dados atribuídos pela @abiove à @embrapa . 2/10
Pois é justamente a França – país que, ao lado da Alemanha, lidera a União Europeia, sobretudo após a saída do Reino Unido – quem lançou ontem uma ameaça explícita de boicotar a compra de soja do Brasil. O governo brasileiro se calou. As entidades do setor desdenharam. 3/10
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12 Jan
É capaz que o presidente Bolsonaro, seus ministros e apoiadores atribuam a uma agenda ideológica a decisão francesa de – certamente não hoje, mas em algum momento – parar de comprar soja brasileira, como anunciado hoje por Macron. Não é ideológico, pelo seguinte:
Qualquer pessoa minimamente informada sobre a política e a sociedade europeias hoje sabe que não existe tema mais importante na agenda do continente do que a questão ambiental. Todo político europeu, incluindo Macron, precisa atender ao lobby ambiental se quiser sobreviver.
Era óbvio que a forma como Bolsonaro vinha lidando com as queimadas na Amazônia e no Pantanal traria consequências econômicas negativas para o agronegócio brasileiro, e é impossível que a diplomacia brasileira não tenha detectado e reportado esse risco ao Planalto.
Read 6 tweets
12 Jan
Não consenso entre constitucionalistas americanos sobre se Trump pode sofrer um processo de impeachment mesmo depois de deixar o mandato, em 20 de janeiro. Dou dois exemplos de argumentos: 1/5
Michael Gerhardt, professor de direito na Universidade da Carolina do Norte e autor de diversos livros sobre impeachment nos EUA, argumenta que, sim, é possível tocar um processo de impeachment mesmo depois de o presidente ter concluído o mandato. 2/5
“Presidentes podem cometer delitos a qualquer momento do mandato, inclusive nos últimos dias”, diz Gerhardt. “Membros do Congresso podem perder o interesse em julgar um ex-presidente, mas essa é uma escolha política, e não uma diretriz constitucional.” 3/5
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