Não tive entusiasmo algum pela Olimpíada de 2016 no Rio. A melhor explicação é contar uma história. Aconteceu no dia da cerimônia de abertura.
Saio com meu filho e um amigo pelas ruas do bairro. Tudo deserto. 3 bilhões de pessoas ao redor do mundo assistem à festa no Maracanã.
Damos a volta no quarteirão e quando entramos na rua paralela se aproxima uma moça, aparência humilde, saco de lixo nas costas:
"Me dá um trocado? Dez centavos ajuda"
Dez centavos não ajudam ninguém. Eu digo qualquer coisa, chamo os moleques e seguimos andando pela rua deserta.
É hora da coleta de lixo, e um caminhão da Comlurb já está na rua.
Andamos.
Alguns metros à frente, um rapaz de macacão está com as mãos dentro de um saco de lixo.
"Com licença", ele diz, me pegando de surpresa. "Eu e minha esposa estamos aqui catando latinhas no lixo. Será que o senhor teria uma esmola para me dar?"
Os meninos levantam os rostos dos celulares para olhar para ele. Eu olho para ele.
As palavras deles fazem alguma coisa se quebrar dentro de mim.
Pode ter sido a palavra "esposa". Pode ter sido "esmola".
Ele não pediu uma ajuda, uma força, um trocado.
Ele pediu uma esmola.
Eu me observo abrindo a carteira na rua deserta, procurando uma nota de um valor apropriado.
"Seu filho?", ele pergunta, olhando em direção ao meu moleque. "Está estudando, né?", ele pergunta ao meu filho. "Eu não estudei, agora estou aqui catando lixo."
Catando lixo enquanto metade da humanidade está grudada na TV. As Olimpíadas custaram ao Brasil R$ 40 bilhões. É dinheiro dos nossos impostos, que saiu dos bolsos dos cidadãos brasileiros, inclusive aqueles que moram nas favelas do Alemão, da Maré e da Rocinha.
Eu entrego dez reais para ele, um dinheiro que não vai resolver problema algum, nem o dele, nem o meu.
Qual será o problema dele? Eu só posso imaginar.
O meu problema, naquele momento, é não conseguir me entusiasmar com a Olimpíada.
O rapaz agradece e retorna para o lixo. Eu desço a rua deserta, meu braço apertando meu filho e aquela coisa quebrada no meu peito fazendo um barulho que só eu consigo ouvir.
(Cinco anos depois eu só penso em quantos hospitais teriam sido construídos e equipados com aqueles R$ 40 bilhões)
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A CRISE DE CRIMINALIDADE NO BRASIL: UM PROJETO DE PODER
Há décadas o Brasil vive uma crise de criminalidade sem paralelo nas democracias ocidentais. É um verdadeiro massacre. Já chegamos a ter 63.000 homicídios por ano.
Nos últimos vinte anos mais de um milhão de brasileiros foram assassinados – esse número é quase o dobro do número de mortos na guerra civil americana. As vítimas são pessoas de todos os sexos, idades, profissões, etnias e crenças. O criminoso brasileiro não discrimina.
O percentual de policiais militares assassinados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro é três vezes maior que a taxa de perdas do exército americano na Segunda Guerra Mundial e sete vezes maior do que na guerra do Vietnã.
Para combater de verdade os assassinatos de mulheres é preciso tratar da raiz da crise de criminalidade do Brasil: a impunidade.
É uma crise que já dura décadas e matou mais de UM MILHÃO de brasileiros nos últimos 20 anos - pessoas de todos os sexos, idades, etnias, profissões e crenças. O criminoso brasileiro não discrimina.
É uma crise SEM PARALELO nas democracias ocidentais.
A impunidade, raiz da crise, é resultado da destruição ideológica do sistema de justiça criminal.
Lições fundamentais sobre crime e impunidade no Brasil:
- A narrativa da grande mídia sobre criminosos e prisões é ideológica, superficial, mentirosa e também unilateral, pois nunca inclui as vítimas.
- A glamourização dos criminosos pela mídia, ONGs e esquerda é descarada e não conhece limites.
- A maioria dos criminosos presos no Brasil está na cadeia por uma boa razão, e mereceria penas muito maiores. Não existe virtualmente ninguém preso por “roubar um pão para comer”.
- Condição sexual, etnia, renda ou idade não eximem o criminoso da responsabilidade por seu crime.
- A sentença do criminoso nunca pode ser mais leve que a sentença da vítima.
Uma mentira repetida mil vezes vira verdade. Qualquer ideia, por mais sem sentido e equivocada que seja, quando apresentada como a única versão oficial, acaba penetrando na consciência cívica de uma nação e pode conduzi-la ao desastre.
Veja a França.
Depois da Primeira Guerra Mundial, as escolas francesas desempenharam um papel-chave na supressão de fatos desagradáveis sobre o conflito em nome do "pacifismo".
Os livros de história foram reescritos para eliminar qualquer "inspiração bélica", em um esforço liderado pelo principal sindicato de professores, o Syndicat National des Instituteurs.
Crime se combate com o sistema de justiça criminal: polícias, ministério público, judiciário e sistema penitenciário.
Educação, assistência social, esporte e cultura são muito importantes, mas nada têm a ver com segurança pública.
Foi essa confusão - achar que se combate o crime com "educação e esporte" - que nos trouxe ao estado em que estamos hoje, de falência quase completa da autoridade do Estado no combate ao crime.
O nosso sistema de justiça criminal foi sendo destruído gradativamente nas últimas décadas, sempre em cima desse conceito simplista e equivocado de “menos prisões, mais escolas“ e “prisão não ressocializa”.