As imagens dessa farra são o retrato do descolamento da realidade que impera em Brasília. Festejam enquanto a população sofre, sem dinheiro e sem perspectivas, e os profissionais de saúde seguram sozinhos as pontas do colapso. Belo clima para festinhas.
Foi uma festa deles, para eles, a respeito deles. Exatamente como têm conduzido a política na pandemia: deles, para eles, em benefício deles. É o festerê de quem sabe que o butim está ao alcance da mão. Faceiros com o espólio, embebedados de poder. Fazem farra diante das trevas.
Aí é aquilo, cada um liga o foda-se que lhe cabe. Os nobres parlamentares ligaram o foda-se, felizes com o acordo vantajoso. Como Bruno Covas ligou o foda-se no Maracanã. E a patuleia, vendo o foda-se do lado de lá, faz o quê? Liga o foda-se também.
É o Brasil no modo foda-se.
Seja como for, enxergo esse covidfest parlamentar quase como um sinal animador. É uma vitória comprada caro, sem fiadores, ignorando o mundo fora dos gabinetes. Uma vitória que sobe à cabeça.
A realidade, porém, vai chegar atropelando. Aí eu quero ver como será a festinha.
Repito o que disse aqui. A gente está em um ponto de não retorno. O triunfo é, ao mesmo tempo, uma grande aposta na capacidade de existir politicamente à revelia do mundo lá fora.
Hoje completam-se 62 anos do Dia Em Que a Música Morreu. Uma tragédia que marcou o então nascente rock and roll, inclusive em termos de espírito - e que gerou um dos maiores (em mais de um sentido) hits do século passado.
Nunca tinha ouvido falar? Vem no fio
Vamos começar falando de Donald McLean III. Filho de imigrantes escoceses e italianos, o garoto de 13 anos entregava jornais para juntar uns trocados. Muito do que conseguia investia em discos - em especial os do roqueiro Buddy Holly.
O jovem vocalista e guitarrista de 22 anos era, talvez, a mais brilhante promessa do rock nos EUA. Hits como "Peggy Sue" e "That'll Be the Day" estavam em todos os lugares. Sorridente, de óculos e ares de bom moço, Buddy Holly era um ícone da juventude daqueles dias.
Todo o fio é interessante, mas isso aqui. A vitória de Lira mostra como a "oposição" de centro e centro-direita a Bolsonaro é episódica e circunstancial. Não há um movimento sólido porque ninguém quer realmente fazer essa oposição. Só a centro-esquerda.
Não existe um movimento expressivo de centro-direita para construir uma alternativa a Bolsonaro, que dirá para o impeachment. O motivo é simples: esse pessoal quer ter liberdade de movimentos caso, mais adiante, precise abraçar Bolsonaro de novo. Exatamente como agora.
Por isso também digo que eleição 2022 ainda é muito longe. Dória hoje é forte, mas quem dentro da política institucional de fato alinhou com ele? É uma força midiática, acima de tudo. Huck, então...
A esquerda institucional deveria enxergar esse momento como um convite à ação.
Não acho que Rodrigo Maia vá disparar impeachment a essa altura. E, se disparar, acho que (por agora) não prosperaria.
Agora, gostaria de saber no que se baseiam para dizer que Bolsonaro "sairia mais forte". No histórico recente de impeachment, aqui e em outros países, não é.
Se impeachment fortalecesse presidente que a ele sobrevive, tinha impeachment duas vezes por ano. Se achasse que pode sobreviver e sair mais forte, nem Bolsonaro nem Temer teriam comprado o centrão para evitá-lo.
Acho wishful thinking às avessas, na boa. Não é esse o ponto.
Impeachment é um papo desgastante para todos os envolvidos, mesmo sem avançar. Eu não acho que fortaleça ninguém, sabe. No máximo, consolidaria a ideia de que o Congresso se amarra em Bolsonaro, mas isso não fortalece o presidente. Não é essa união que atrasa reformas, por ex.
Todos os sábados, tem uma pequena feira na rua de baixo da minha casa. De vez em quando vou ali, parte da minha disposição de gastar minha grana no comércio local. Hoje, por ex, fui.
Todos na banca usam máscara/viseira, movimento pequeno, então me sinto mais ou menos seguro.
Há pouco mais de um mês, tivemos uma conversa sobre a pandemia. Nada bolsonarista, mas achavam que havia exagero. Um argumento tinha a ver com a prima, que trabalha no hospital da PUC.
Segundo a feirante, o movimento no hospital era baixo - sinal, para ela, de que pouca gente estava realmente doente.
Argumentei como pude. Foi um papo cordial, mas não creio tê-los convencido.
Hoje fui lá de novo. E, quando eu já ia embora, a feirante veio falar comigo.
Se a pessoa segue admitindo eleger o fascista só para não votar no pior democrata (seja de que matiz política for), fica meio difícil essa pessoa ser aliada em uma luta contra o fascismo, não é? É justamente essa lógica "qualquer coisa menos eles" que torna o fascismo viável.
O arrependido pode virar um aliado quando admite que seu pensamento estava errado e precisa mudar. Se arrepender porque o escolhido "é ruim demais" é, no máximo, metade do caminho. É preciso enxergar que fascista NUNCA é opção. Senão, vai escolher o fascista de novo logo adiante.
Por isso acho que o voto nulo em 2018 é, por vezes, vilanizado em excesso. EU não entendo como foi possível, dado o cenário, mas ao menos a pessoa já tinha entendido que FASCISTA NÃO DÁ e isso é melhor que nada.
Agora, só se arrepender pq o fascista "deu errado" não me serve.