Hoje completam-se 62 anos do Dia Em Que a Música Morreu. Uma tragédia que marcou o então nascente rock and roll, inclusive em termos de espírito - e que gerou um dos maiores (em mais de um sentido) hits do século passado.
Nunca tinha ouvido falar? Vem no fio
Vamos começar falando de Donald McLean III. Filho de imigrantes escoceses e italianos, o garoto de 13 anos entregava jornais para juntar uns trocados. Muito do que conseguia investia em discos - em especial os do roqueiro Buddy Holly.
O jovem vocalista e guitarrista de 22 anos era, talvez, a mais brilhante promessa do rock nos EUA. Hits como "Peggy Sue" e "That'll Be the Day" estavam em todos os lugares. Sorridente, de óculos e ares de bom moço, Buddy Holly era um ícone da juventude daqueles dias.
Na manhã de 4 de fevereiro de 1959, o jovem McLean dobrava os jornais para entrega, como fazia todos os dias. Foi desta forma, lendo por acaso as manchetes, que soube que seu ídolo Buddy tinha morrido na tarde anterior.
A notícia era desoladora. Outras duas revelações do rock, Ritchie Valens e The Big Bopper, também estavam no avião, que tinha caído no interior do Iowa durante uma tour de inverno. Um acidente terrível, envolvendo gente muito jovem.
Não havia sobreviventes.
Ritchie Valens (ou Richard Valenzuela) era uma revelação. De ascendência mexicana, o jovem cantor adaptou uma canção popular chamada La Bamba e fez dela um hit, tornando-se imediatamente uma das maiores apostas do rock.
Pode não parecer na foto, mas tinha apenas 17 anos.
"The Big Bopper" Richardson era um pouco mais experiente, mas, ao mesmo tempo, também tinha ares de novidade. Depois de anos atuando como destacado DJ no rádio, tinha começado a escrever as próprias músicas - e duas delas estavam estouradas nas paradas.
Mas o grande nome da turnê era Buddy Holly. Hoje talvez pareça absurdo, mas o cara era efetivamente revolucionário para a época. Longe de apenas cantar músicas bobas e dançantes, ele estava moldando, quase sozinho, conceitos que hoje são fundamentais para o rock.
Sua primeira banda, The Crickets, é reconhecida como um dos pilares na consolidação do modelo instrumental clássico do rock: guitarra, baixo e bateria.
Além disso, Holly escrevia quase todas as suas músicas, coisa incomum na época. Ou seja, tinha os direitos dos próprios hits.
Os terninhos e óculos fundo de garrafa de Holly viraram febre - e meio que criaram a ideia de que um roqueiro precisava ter uma identidade visual. Os moleques dos EUA compravam óculos com lentes falsas, só para imitarem o ídolo.
(parênteses: um desses garotos que usavam óculos sem precisar só para imitar o visual de Buddy Holly era ninguém menos que Bob Dylan - o que é um meme, mas também é a mais pura verdade)
Outros artistas copiavam o jeito de Buddy cantar, cheio de pausas e vozes em falsete. E seu modo de tocar guitarra virou lenda: mesmo sem qualquer virtuosismo, sua palhetada colada no ritmo da bateria e seus solos cheios de licks e bends influenciaram todo mundo ao seu redor.
A turnê em que esses três caras estavam era um desastre de logística. As cidades foram sendo marcadas ao acaso, sem qualquer preocupação com uma rota coerente, o que gerava cansativas idas e vindas em um ônibus escolar adaptado, em um inverno de rachar. Um inferno.
Para Buddy Holly, o giro era uma necessidade financeira. Recém casado, ele queria montar a casa da jovem família, e também se recuperar de um calote do antigo empresário.
Cansado e meio gripado, Holly decidiu alugar um avião para levá-lo na frente e, assim, descansar um pouco.
O teco-teco tinha três lugares. Em princípio, voariam com Holly dois companheiros de banda, Waylon Jennings e Tommy Allsup. Mas Jennings trocou assento com The Big Bopper, que estava gripado e com febre. E diz-se que Ritchie Valens ganhou o terceiro lugar em um cara-ou-coroa.
Além dos três, faleceu no acidente o piloto Roger Peterson - que também era bem jovem, aliás. A decolagem aconteceu no começo da madrugada, com neve fraca - a conclusão da investigação é que o piloto tentou um voo em baixa visibilidade que ainda não tinha experiência para fazer.
O anúncio do acidente foi um desastre à parte. A mãe de Holly soube da morte do filho pelo rádio, e a esposa Maria Elena acabou tendo um aborto espontâneo. Graças a isso, criou-se nos EUA um protocolo que impede a imprensa de noticiar mortes antes dos familiares estarem avisados.
Foi essa tragédia que Donald McLean leu nos jornais que entregou naquele dia. A cada jornal que ele entregava, um arrepio percorria sua espinha, e o luto daquelas mortes estúpidas o acompanhou por muitos anos.
Como sabemos disso? Ele nos contou em "American Pie", seu maior hit.
"American Pie" está no segundo álbum de Don McLean, de 1971. Nela, surge a expressão "the day the music died", que virou sinônimo da tragédia de 1959. Mesmo com mais de 8 minutos, virou número um na Billboard.
Você já deve ter ouvido.
A letra, altamente simbólica, narra a trajetória da perda de inocência de sua geração, iniciando no acidente envolvendo Holly e chegando até a morte do jovem negro Meredith Hunter, esfaqueado durante o festival de Altamond, em 1969.
É uma tremenda letra, sério mesmo.
Enfim. Após a música morrer, o mundo seguiu. Inclusive a turnê: Dion and the Belmonts, que estavam na tour original mas não no voo, cumpriram o resto das datas, com convidados de última hora. A própria banda de Holly seguiu tocando durante alguns dias.
O show não pode parar.
A ingenuidade boba do rock original se perdeu pelo caminho. Viramos adultos, em suma.
Mas Buddy Holly segue lá, como uma lembrança boa de infância que a gente recorda triste, mas sorrindo. E Don McLean, de seu luto pré-adolescente, tirou uma das mais belas canções que já ouvi.
Saiu hoje um texto meu sobre O Dia Em Que a Música Morreu no @JC_RS. Se puder, tire uns segundinhos para dar uma passada por lá. A audiência é sempre bem vinda, e garante os boletos pagos no mês que vem :)
As imagens dessa farra são o retrato do descolamento da realidade que impera em Brasília. Festejam enquanto a população sofre, sem dinheiro e sem perspectivas, e os profissionais de saúde seguram sozinhos as pontas do colapso. Belo clima para festinhas.
Foi uma festa deles, para eles, a respeito deles. Exatamente como têm conduzido a política na pandemia: deles, para eles, em benefício deles. É o festerê de quem sabe que o butim está ao alcance da mão. Faceiros com o espólio, embebedados de poder. Fazem farra diante das trevas.
Aí é aquilo, cada um liga o foda-se que lhe cabe. Os nobres parlamentares ligaram o foda-se, felizes com o acordo vantajoso. Como Bruno Covas ligou o foda-se no Maracanã. E a patuleia, vendo o foda-se do lado de lá, faz o quê? Liga o foda-se também.
Todo o fio é interessante, mas isso aqui. A vitória de Lira mostra como a "oposição" de centro e centro-direita a Bolsonaro é episódica e circunstancial. Não há um movimento sólido porque ninguém quer realmente fazer essa oposição. Só a centro-esquerda.
Não existe um movimento expressivo de centro-direita para construir uma alternativa a Bolsonaro, que dirá para o impeachment. O motivo é simples: esse pessoal quer ter liberdade de movimentos caso, mais adiante, precise abraçar Bolsonaro de novo. Exatamente como agora.
Por isso também digo que eleição 2022 ainda é muito longe. Dória hoje é forte, mas quem dentro da política institucional de fato alinhou com ele? É uma força midiática, acima de tudo. Huck, então...
A esquerda institucional deveria enxergar esse momento como um convite à ação.
Não acho que Rodrigo Maia vá disparar impeachment a essa altura. E, se disparar, acho que (por agora) não prosperaria.
Agora, gostaria de saber no que se baseiam para dizer que Bolsonaro "sairia mais forte". No histórico recente de impeachment, aqui e em outros países, não é.
Se impeachment fortalecesse presidente que a ele sobrevive, tinha impeachment duas vezes por ano. Se achasse que pode sobreviver e sair mais forte, nem Bolsonaro nem Temer teriam comprado o centrão para evitá-lo.
Acho wishful thinking às avessas, na boa. Não é esse o ponto.
Impeachment é um papo desgastante para todos os envolvidos, mesmo sem avançar. Eu não acho que fortaleça ninguém, sabe. No máximo, consolidaria a ideia de que o Congresso se amarra em Bolsonaro, mas isso não fortalece o presidente. Não é essa união que atrasa reformas, por ex.
Todos os sábados, tem uma pequena feira na rua de baixo da minha casa. De vez em quando vou ali, parte da minha disposição de gastar minha grana no comércio local. Hoje, por ex, fui.
Todos na banca usam máscara/viseira, movimento pequeno, então me sinto mais ou menos seguro.
Há pouco mais de um mês, tivemos uma conversa sobre a pandemia. Nada bolsonarista, mas achavam que havia exagero. Um argumento tinha a ver com a prima, que trabalha no hospital da PUC.
Segundo a feirante, o movimento no hospital era baixo - sinal, para ela, de que pouca gente estava realmente doente.
Argumentei como pude. Foi um papo cordial, mas não creio tê-los convencido.
Hoje fui lá de novo. E, quando eu já ia embora, a feirante veio falar comigo.
Se a pessoa segue admitindo eleger o fascista só para não votar no pior democrata (seja de que matiz política for), fica meio difícil essa pessoa ser aliada em uma luta contra o fascismo, não é? É justamente essa lógica "qualquer coisa menos eles" que torna o fascismo viável.
O arrependido pode virar um aliado quando admite que seu pensamento estava errado e precisa mudar. Se arrepender porque o escolhido "é ruim demais" é, no máximo, metade do caminho. É preciso enxergar que fascista NUNCA é opção. Senão, vai escolher o fascista de novo logo adiante.
Por isso acho que o voto nulo em 2018 é, por vezes, vilanizado em excesso. EU não entendo como foi possível, dado o cenário, mas ao menos a pessoa já tinha entendido que FASCISTA NÃO DÁ e isso é melhor que nada.
Agora, só se arrepender pq o fascista "deu errado" não me serve.