Com o banimento do Terça Livre do YouTube, a extrema-direita perde uma das suas vozes mais histriônicas.

A história do canal, porém, deve servir de aviso (o "cautonary tale"que os ingleses falam) para quem pretende trilhar o mesmo caminho.

🧶 Image
O Terça Livre não era o canal com + views ou + subs da extrema-direita.

No levantamento da @NoveloData, seus 1,18 milhão de seguidores o colocava como o 20º em base, atrás de canais como Diego Rox, DR News, Verdade Política.
Era, porém, um dos mais que produziam.

Se tirarmos veículos tradicionais (Jovem Pan News) e órgãos do governo (TV BrasilGov), o Terça Livre ficava só atrás do Folha Política e do Brasil notícias.

Entre novembro de 2014, qnd estreou, e ontem, foram 4.605 vídeos publicados.
A força do Terça Livre, porém, não estava em números, mas no espaço que ocupava na mídia e nas redes sociais ao fazer o papel de linha auxiliar mais raivosa do bolsonarismo.

O canal sempre defendeu as teorias amalucadas do governo, da "gripezinha" à "fraude" nos EUA.
Muito antes dos youtubers que você conhece hoje se posicionarem a favor do governo, o Terça Livre já estava lá, o que lhe garantiu um crescimento forte na base e nos views, o que sempre significa + grana de anunciantes.
Esse ritmo forte de crescimento começa a mudar no momento em que a Justiça começa a investigar o Terça Livre.

É quando rola a primeira limpeza de vídeos, em junho de 2020. Desde então, o canal se viu enrolado em outras denúncias e outras limpezas. Image
Isso teve um impacto no ritmo de crescimento da base.

Depois da 1ª limpeza, o TL cresceu um pouco e empacou em número de assinantes, enquanto outros canais mais novos subiam como foguete.

O Terça é o vermelho de baixo. Note como, a partir de jul/20, ele cresce, mas menos. Image
Ainda que estivesse 100% alinhado com o bolsonarismo, o Terça Livre não experimentou o aumento de audiência que gente não investigada, como Os Pingos nos Is, Folha Política, Foco do Brasil e Gabriel Monteiro (esse o 1º youtuber de sucesso "criado" pelos Bolsonaros).
Não é exclusividade do TL: outros canais alvo de inquéritos do STF sobre fake news ou atos antidemocráticos, como O Giro de Notícias, também não aparecem + entre os que + crescem.

Ao que parece, ter a Justiça em seu encalço não é um bom modelo de negócios.
No sentido contrário, Bolsonaro ganhou um presentão de Natal em 2020: seu canal passou o de Nando Moura e se tornou o + popular da extrema-direita no Brasil.

O de Gabriel Monteiro vem logo atrás e deve passar Nando nas próximas semanas também. Image
Ou seja: Bolsonaro perdeu uma das suas linhas auxiliares mais rábicas e antigas no YouTube.

Não importa: ele conseguiu se fazer mais popular que outros e ainda arrastou um povo que cerra fileiras com ele.

Ele continua apoiado, não mais por quem está mal na Justiça.
Restará ao Terça Livre enfrentar a mesma sina de Alex Jones (aliás, Allan e Alex têm semelhanças): sem o YouTube e tendo que se defender na Justiça.

Lá fora, Jones nunca mais teve o alcance antigo para suas teorias da conspiração ao ser banido das redes.
Um último ponto, dessa vez sobre YouTube: o Terça Livre parece ter sido derrubado por uma mistura entre teorias da conspiração sobre eleições nos EUA e guerra de copyright.

instagram.com/p/CKiHh0DBV8h/

Até ontem, a desinformação sobre COVID-19 continuava publicada sem problemas.

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