O caso de Gabriel Fernandez, que foi torturado até a morte pela mãe e pelo padrasto:
Atenção: O conteúdo a seguir retrata abuso infantil, tortura e assassinato. Caso não se sinta confortável, não prossiga com a leitura.
No dia 22 de maio de 2013, uma chamada para a emergência indicou que uma criança de 8 anos não estava respirando. Inicialmente, segundo a mãe, o motivo teria sido uma queda enquanto o menino brincava com o irmão mais velho.
Quando os paramédicos chegaram, identificaram lesões na cabeça, costelas quebradas, queimaduras na pele e hematomas pelo corpo da criança. Ele foi, então, levado ao pronto-socorro e, posteriormente, transferido para o Hospital Infantil de Los Angeles.
O garoto não resistiu e faleceu dois dias depois. O médico legista que realizou a autópsia, declarou que a causa da morte foi um trauma craniano contuso, negligência e desnutrição. O menino era Gabriel Fernandez, filho de Arnold Contreras e Pearl Fernandez.
De acordo com os familiares, Pearl não queria tê-lo, mas levou a gravidez adiante, dando à luz no dia 20 de fevereiro de 2005. Ela abandonou Gabriel no hospital poucos dias após seu nascimento. O seu pai era presidiário e nunca teve a custódia do menino.
Até os três anos de idade, Gabriel foi criado pelo tio-avô materno, Michael Lemos Carranza, e seu parceiro David Martinez. No entanto, devido à objeção do avô ao relacionamento homossexual dos dois, o garoto passou a morar com os avós.
Em 2012, Pearl se interessou pelos benefícios sociais de Gabriel, graças ao pai presidiário, e decidiu levá-lo para morar com ela e o namorado, Isauro Aguirre, junto aos dois irmãos do menino. Gabriel passou, então, a viver em Palmdale, norte de Los Angeles, Califórnia.
Foi quando ele começou a ter aulas com a professora Jennifer Garcia, uma das pessoas que se preocuparam com o seu bem-estar. Certa vez, Gabriel perguntou a ela se era normal que as mães batessem nos filhos. Ele ainda acrescentou: "É normal sangrar?".
Além da professora, outros familiares também relataram sinais de abuso do menino para o Departamento de Crianças e Serviços à Família do Condado de Los Angeles. Aliás, o segurança armado Arturo Miranda Martinez, chegou a denunciar os ferimentos de Gabriel.
Ele trabalhava em um escritório de assistência, onde conheceu o garoto quando Pearl foi buscar alguns documentos. Arturo arriscou seu trabalho e ligou para o Departamento do Xerife do Condado de Los Angeles. No total, 60 queixas foram apresentadas sobre Gabriel.
A assistente social Stefanie Rodriguez ficou responsável pelo caso. A partir daí, ocorreram visitas e telefonemas frequentes, mas nenhuma outra medida foi tomada. O estado de saúde do menino não foi verificado e os abusos que sofria pioravam cada vez mais.
Até os seus colegas de classe começaram a notar a situação. Gabriel passou a faltar frequentemente e, quando ia, estava sem cabelo, com feridas aparentes no couro cabeludo, lábios inchados e hematomas nos olhos.
Ele era regularmente espancado, baleado em várias partes do corpo com uma pistola de ar comprimido, queimado com cigarros e algemado dentro de um pequeno armário. De acordo com os seus irmãos, Pearl e o namorado costumavam rir enquanto abusavam do menino.
Há relatos de que eles acreditavam que Gabriel era homossexual. Por isso, era forçado a usar roupas femininas, tomar banhos frios e comer alimentos estragados, assim como fezes de gato e o seu próprio vômito. Na época de sua morte, ele tinha 1.24m de altura e pesava 25Kg.
Durante oito meses, tempo em que Gabriel morou com a mãe e o namorado, ele foi diariamente abusado e torturado até a morte. Os mandados de busca resultaram em mais de mil evidências. O promotor do caso foi Jon Hatami, que teve acesso exclusivo ao tribunal.
A princípio, Pearl e Aguirre seriam julgados juntos, por júris distintos. Entretanto, uma moção apresentada pelos advogados de Pearl, a diagnosticou com vários problemas de saúde mental, configurando uma incapacidade intelectual.
Segundo a psicóloga clínica, Deborah S. Miora, Pearl seria incapaz de usar pensamentos para guiar o seu comportamento e controlar suas reações emocionais. A própria Pearl chegou a admitir o vício em drogas. Assim, o tribunal autorizou que o julgamento fosse separado.
Entre as testemunhas, estavam os irmãos de Gabriel, Ezequiel, com 12 anos na época, e Virginia, de apenas 10. A deliberação do júri, composto por sete mulheres e cinco homens, teve início em 14 de novembro de 2017, e o veredicto foi alcançado na tarde seguinte.
O advogado de defesa alegou que Aguirre estava em um momento de fúria descontrolada quando espancou Gabriel até a morte e agiu por forte influência da namorada. Apesar de ter se declarado inocente, ele foi acusado de homicídio culposo em primeiro grau e condenado à morte.
Em junho de 2018, Aguirre foi admitido na Prisão Estadual de San Quentin e atualmente aguarda sua execução, que ainda não foi definida. Pearl Fernandez também foi acusada de homicídio culposo em primeiro grau.
Entretanto, ela se declarou culpada como parte de um acordo judicial, para evitar a pena de morte, sendo, assim, condenada à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. Pearl cumpre pena desde junho de 2018, no Centro Feminino da Califórnia.
Em 2017, as assistentes sociais Stefanie Rodriguez e Patricia Clement e os supervisores Gregory Merritt e Kevin Bom, foram formalmente acusados sem precedentes. Eles deveriam responder por abuso infantil e falsificação de registros públicos, mas foram absolvidos.
Em janeiro de 2020, os promotores tentaram obter uma nova audiência para o caso, porém sem sucesso, as acusações foram retiradas. Apenas nove deputados do xerife foram punidos internamente por negligenciarem as alegações de abuso.
A minissérie documental “O Caso Gabriel Fernandez”, produzida pela Netflix, contém seis episódios que narram a trágica história do garoto. A produção apresenta o relato de várias testemunhas e detalha as investigações do caso.

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