Aproveitando o sucesso estrondoso da série documental Doutor Castor aqui em minha bolha, vou aproveitar para deixar um protesto.
POR QUE DIABOS PEAKY BLINDERS FALA TÃO POUCO DE FUTEBOL?????
Venha comigo:
(mas cuidado com os spoilers)
Não, não é mera correlação casual entre dois gangsters muito queridos em suas localidades, que poderiam utilizar futebol como ferramenta de lavagem de dinheiro e projeção de poder. Tem disso, sim, mas tem bem mais que isso entre Bangu 1970's e Small Heath 1920's.
Até porque Small Heath é logradouro de um dos clubes mais importantes de Birmingham: o próprio Birmingham City FC, que nasceu como Small Heath Alliance em 1875 e ganha novo nome em 1930, momento auge da série.
O próprio clube brincou com essa "relação histórica", mas a série não
Poucas são as referências sobre futebol. Na 1ª temporada há uma menção a jogadores que frequentavam o pub "The Garrison", em Small Heath - o refúgio da gangue no distrito industrial. Referência bem localizada, isso era normal à época. E ao que consta o pub existiu de verdade.
Há uma última referência a futebol (s04e02) até a quinta temporada. É quando Charlie está recrutando ciganos e pergunta quem são os goleiros dos "Blues" (Birmingham) e "Villa" (o rival Aston Villa). Era uma forma de comprovar sua "autenticidade" antes de entregá-lo uma arma.
= = = = OLHA O SPOILER = = =
Já na quinta temporada aparece a figura de Billy Grade, ex-jogador aposentado e cantor, que é utilizado por Finn Shelby para manipular jogos e movimentar apostas - após a crise de 1929. Ele faz por livre e espontânea pressão.
Tá, mas não era muito cedo pra dar tanta importância ao futebol em plenos 1920's?
Não na Inglaterra, onde tudo aconteceu muito antes de qualquer outro lugar do mundo.
Na Inglaterra já existia o Estádio de Wembley desse jeito em 1923, pouco antes de Tommy Shelby se casar com Grace.
Ao lado, o maior estádio brasileiro à época, Laranjeiras, no Rio.
Percebe a diferença?
Os 1920 de Thomas Shelby já eram os 1970 de Castor de Andrade.
Mas vale ressaltar que o caso de Castor é diferente, uma vez que o Bangu era uma associação civil do subúrbio, que já havia sido presidia por seu pai, o famoso Seu Zizinho. Difícil era fazer isso nos clubes da zona sul.
Mas não seria bem mais difícil imaginar um "working class" como Thomas Shelby entrando em um clube esportivo nos anos 1920?
Totalmente.
Mas o Small Heath adota o modelo de companhia limitada ainda em 1888, o primeiro da história.
A história era bem diferente na Inglaterra.
Na reta final dos anos 1920, os clubes ingleses já eram quase todo companhias com acionistas. Até trabalhadores comuns podiam adquirir pequenas participações acionárias. O Woolwich Arsenal chegou a ter 860 pequenos acionistas nesse período. Por que não um Shelby nos Blues?
Óbvio que o caso do Arsenal é mais extremo, mas pense em perspectiva histórica: Thomas Shelby buscava formas de ascensão social e o futebol tava ali LITERALMENTE do lado dele.
E caberia perfeitamente no enredo: o auge do Birmingham no período foi o vice-campeonato da FA Cup de 1930/31, momento em que Thomas Shelby buscava restabelecer sua posição financeira após a crise de 1929, o que lhe fez retomar as atividades ilegais.
Mas o futebol também poderia ter cabido antes: quando decide ingressar na política em 1929, Thomas se mobiliza para concorrer pelo distrito de South Birmingham ao posto de "Member of Parliament".
O que poderia ter sido melhor do que os serviços prestados a um clube de futebol?
O então Small Heath (lembre que o nome só muda em 1930) já jogava no estádio de St. Andrew's, conceituada praça esportiva que recebeu a semifinal da FA Cup de 1924 com mais de 50 mil presentes.
Era um estádio que recebia dezenas de milhares de pessoas por semanas e estava localizado a meio quilômetro do Garrison, rodeado por fábricas - como a Birmingham Small Arms (BSA) - e vilas operárias, como ocorre em todo processo de popularização do futebol no mundo.
E ainda havia uma questão de contexto. Shelby já havia estabelecido diversos empreendimentos industriais graças aos serviços sujos prestados à coroa. Enquanto industrial, se enquadra mais uma vez no perfil típico de dono de clube inglês. Não estamos mais falando de um qualquer.
Dava até pra contextualizar o interesse repentino por football a partir do contato com o amigo judeu de Londres que curtia diversificar investimentos...
Assim como ocorre a Castor de Andrade (e outros inúmeros casos de mecenas de clubes), o controle de uma instituição social de grande porte era fundamental para garantir status, adentrar ciclos sociais relevantes, conquistar a simpatia popular e... se proteger de inimigos.
Com tanta referência a coisas reais, por que ignorar o futebol em um momento de efervescência da construção de grandes estádios e do consumo de ingressos, do uso de clubes como forma de projeção de imagem, da consolidação do modelo de companhia ltda nos clubes? Eu não entendo.
Adendo 1: essa aqui é uma excelente hipótese. Apesar de se envolverem com apostas e jogos, os Shelbys eram ciganos. Digamos que seja culturalmente incongruente apostar em um cigano dono de clube.
Enquanto procurava sobre os grounds e estádios na história do Small Heath, um site apontou exatamente essa lenda que recai sobre o St. Andrews: a área era ocupada por ciganos, que teriam amaldiçoado o clube por causa da expulsão.
Caiu a decisão inútil e elitista de @FabioRiosMota, que buscava unicamente constranger os conselheiros - legitimamente eleitos - de origem popular. Volta a ser obrigatório apenas a adimplência enquanto associado.
O impacto financeiro da contribuição é simplesmente NULO para o Esporte Clube Vitória, e servia apenas como uma forma de expor a condição financeira dos membros da Frente Vitória Popular: torcedores de arquibancada que foram eleitos para representar torcedores de arquibancada.
O problema não é pagar ou deixar de pagar. Os apoiadores da FVP se disporiam a contribuir, como sempre fizeram. O problema é criar uma divisão entre conselheiros endinheirados e aqueles procedentes da arquibancada, que fazem oposição aos desmandos dos presidentes dos 3 conselhos.
Ainda impactado com a informação de que o Big Brother Brasil é bancado por 8 cotas de patrocínio de 78 milhões de reais CADA.
Só nessa fonte, que soma 624 mi, o Big Brother chega perto da receita de Fluminense, Vasco e Botafogo no ano se 2019 (694 mi)
Mas sem o custo-futebol...
Receita SOMADA de Flu (265 mi), Vasco (215 mi) e Botafogo (214 mi)***
São apenas 3 meses de programa, salários normais entre funcionários, alguns prêmios de 10 mil aqui e acolá, e um prêmio final de 1,5 milhão pro vencedor.
- Não tem folha salarial de 3,5 mi.
- Não dura o ano inteiro.
- Não tem comissão de empresário.
- Não tem logística, com viagem toda semana atravessando um país gigante.
- Não tem aposta incerta de divisão de base.
E você achando que seu clube se arruma virando empresa.
Rapaz, lendo aqui a história do Bradford City no excelente "Punk Football" de @Jim_Keoghan, é basicamente um prenúncio do que vai acontecer no Brasil se continuarem com essa MALUQUICE de MP de Direito do Mandante sem diálogo entre clubes ou formação de Liga.
Keoghan cita Tom Cannon, da University of Liverpool, sobre as 3 coisas expõem o nível surreal do risco que envolve a indústria do futebol: 1) o abandono de um proprietário; 2) o rebaixamento "inesperado" (que ocorra mesmo com alto investimento; e 3) colapso de um acordo de TV.
Ele entra nessa discussão - no capítulo com o sugestivo nome "Navegando em um mar de dívidas" - por causa dos números assustadores que ilustram a situação financeira dos clubes ingleses: 36 pedidos de recuperação judicial APENAS ENTRE 2002 e 2011.