Mulheres que mataram abusadores:
De acordo com dados de uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em 2015, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos no Brasil.
Em fevereiro de 2019, o Instituto Datafolha realizou uma pesquisa com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e obteve os seguintes resultados: 27,4% das brasileiras acima dos 16 anos passaram por algum tipo de violência em 2018, representando cerca de 16 milhões de mulheres.
De acordo com os dados, 42% destas violências ocorreram no ambiente doméstico e que 52% das mulheres não denunciaram o agressor ou procuraram ajuda. Além de que a violência praticada por algum conhecido representou 8 em cada 10 mulheres.
Maridos ou namorados estavam em primeiro lugar, representando 23,9%, sendo seguido por ex-companheiros 15,2%, irmãos, 4,9%, amigos, 6,3%, e pai ou mãe, 7,2%.
O relatório "O Progresso das Mulheres no Mundo 2019-2020: Famílias em um mundo em mudança" feito pela ONU Mulheres, no final de 2019, mostra que de 1 a cada 5 mulheres (17,8% das mulheres no planeta) já relataram ter sofrido violência física ou sexual de seus parceiros em 2018.
Ainda no mesmo ano, em setembro, foi divulgado pelo 13ª Anuário Brasileiro de Segurança Pública que o Brasil registrou recorde da violência sexual, com 66 mil vítimas de estupro.
A maioria das vítimas representa meninas de até 13 anos, correspondendo a 53,8%; cerca de 180 estupros ocorrem por dia no Brasil, tendo um aumento de 4,1% em comparação ao anuário de 2017.
De cada 10 estupros, 2 ocorrem contra meninos e homens, e 8 ocorrem contra meninas e mulheres. Mulheres negras são a maioria, representam cerca de 50,9%. Hoje, viemos falar sobre cinco casos de mulheres que mataram abusadores:
1. "Eu não matei meu marido porque quis. Era ele ou eu", disse Úrsula Francisco, após ter dado um tiro em seu marido que era sargento da Policial Militar, em 2008. A arma utilizada foi a mesma que ele ameaçava matá-la nas discussões.
"Eu não gostava daquilo (de manusear o armamento). Todo dia, ele mandava eu colocar munição no pente. Se eu errasse a forma de segurar, ele me batia. Sou canhota, então tinha dificuldade", disse Úrsula.
Ela foi vítima das violências cometidas por Ronaldo por 20 anos e após tentar provar por mais de 5 anos que agiu por legítima defesa, foi absolvida pela Justiça em 2014.
"A gente acaba se calando, fica com medo. Muitas não denunciam por falta de conhecimento. Ele falava que se eu denunciasse, ela ia me dar um tiro, me colocar num saco e me jogar no rio Guandu. Quem passa por isso pode dizer que tudo se resume ao medo", finalizou.
Ela cursou e se formou em Serviço Social em 2017, além de ser pós-graduada em Violência Doméstica. Atualmente, está cursando Direito e ajuda ativamente a encorajar mulheres que lidam com violência doméstica em casamentos.
2. "Quando eles viram que era eu, vieram na minha direção, foi quando eu pensei que precisava defender, foi uma reação automática". Em meados de 2017, Nokubonga Qampi, mais conhecida como "Mãe Leoa" na África do Sul, matou um dos três homens que estupraram sua filha, Siphokazi.
A primeira coisa que tentou fazer, foi ligar para a polícia, mas como ninguém atendeu, pegou uma faca e a lanterna do celular para ir em segurança ao local.
"Eu ficava pensando que quando chegasse lá, ela poderia estar morta... Porque ela conhecia os agressores, e porque eles a conheciam e sabiam que ela os conhecia. Eles poderiam pensar que precisavam matá-la para não serem denunciados."
Sua filha tinha ido visitar seus amigos e pegou no sono. Três homens bêbados invadiram o local por seus amigos terem ido embora.
Quando sua mãe viu a cena, não quis dar detalhes, mas disse que os outros dois estavam com as calças baixas em fila, como se estivessem esperando a vez, e reagiu automaticamente para proteger a filha contra o que estava em cima dela.
Devido a comoção da população que foi até o local do julgamento para prestar apoio, a mãe leoa foi considerada inocente e as acusações foram retiradas. Já os outros dois, foram condenados a 30 anos de prisão cada.
3. "Matei para não morrer". Um homem de 45 anos foi morto no dia 19 de janeiro deste ano, em João Pessoa (PB). Ao sentir-se ameaçada por já ter sido estuprada por ele, havia comprado uma arma e Vanderlei teria aparecido no local de seu trabalho. Ele morreu com um tiro na nuca.
Segundo a Polícia Civil, ele foi condenado por assassinato do marido da suspeita. No dia 20, um dia após o assassinato, a mulher foi liberada, deverá responder ao processo em liberdade e não precisará usar tornozeleira eletrônica.
4. "O abuso doméstico é uma realidade da vida na Rússia. Podemos ignorá-lo, mas afeta as nossas vidas, mesmo que nunca o tenhamos experimentado pessoalmente", diz Daria Serenko, feminista e ativista de Moscou sobre o caso das três irmãs que mataram o pai.
Angelina tinha 18 anos, Maria tinha 17 anos e Krestina tinha 19 anos quando esfaquearam seu pai, Mikhail Khachaturya, no dia 27 de julho de 2018, em Moscou. Investigadores confirmaram que elas sofreram abusos físicos e psicológicos durante vários anos.
Na noite de seu assassinato, convocou as três filhas para seu quarto e borrifou gás de pimenta em seus olhos pela sala estar desarrumada e por um fio de cabelo louro no chão. Enquanto dormia, elas utilizaram um martelo, uma faca e um spray de pimenta para assassiná-lo.
A polícia russa foi chamada pela irmã mais nova (Maria) e Mikhail foi encontrado com mais de 30 ferimentos de faca na região da cabeça, do pescoço e do peito. Segundo o inquérito policial, os abusos físicos, psicológicos e sexuais haviam começado há três anos.
A Rússia não tem leis específicas para proteger vítimas de violência doméstica e a polícia trata abuso doméstico como um problema familiar, sem prestar muito apoio ou suporte. O caso atraiu a atenção de milhares de pessoas, inclusive de ativistas de direitos humanos.
Não só as filhas sofriam abusos, como a própria mãe, Aurelia Dunduk, que foi expulsa do apartamento de onde moravam e já havia denunciado que foi estuprada por seu marido. Vizinhos da família Khachaturyan também já haviam denunciado por terem medo do que Mikhail seria capaz.
Ele proibiu que as filhas mantivessem contato com a mãe após ela ter sido expulsa e as avaliações psicológicas detectaram que elas viviam em situação de isolamento, por ele as impedir de sair, e sofriam de estresse pós-traumático.
Especialistas dizem que cerca de 80% das mulheres presas por assassinato, na Rússia, mataram abusadores em legítima defesa. Se condenadas, Krestina e Angelina podem receber 20 anos de pena, enquanto Maria, por ser menor de idade no dia do crime, pode ser condenada a 10 anos.
5. "Ele matou minha filha... eu queria atirar nele no rosto, mas atirei nas costas dele... Espero que ele esteja morto", dizia um depoimento com a declaração de Marianne Bachmeier, a 'Mãe da Vingança'.
Klaus Grabowski, 35 anos, foi acusado de assassinar Anna, 7 anos, em Lübeck, antiga cidade da Alemanha Ocidental, no ano de 1981. Durante o julgamento, Klaus disse à corte que Anna havia o chantageado para receber direito ou o acusaria de abuso sexual.
Marianne, mãe de Anna, não suportava mais ouvir as mentiras proferidas pelo acusado do assassinato de sua filha e sempre a descrevia na mídia como “uma criança feliz e de mente aberta”.
Mesmo as autoridades não conseguindo comprovar se Klaus estuprou a criança antes de sufocá-la, suas condenações passadas por abuso sexual infantil foram o suficiente para conseguir uma sentença severa.
Se não fosse pela mãe que acabara de perder a filha de forma trágica, ele teria cumprido a pena, pois Marianne o alvejou com uma pistola semiautomática 'Beretta' M1934 na frente de todos presentes no Tribunal Distrital de Lübeck e o chamou de porco quando seu corpo caiu no chão.
Em um papel entregue aos especialistas, ela escreveu “Fiz isso por você, Anna” com desenho de sete corações, que representavam a idade que sua filha tinha. Marianne disse que agiu por não aguentar mais ouvi-lo mentir sobre sua filha e que não conseguia mais suportar.
Ela vendeu sua história à revista Stern, da Alemanha, para conseguir arcar com as despesas legais do processo que enfrentaria. A sociedade se dividiu quando saiu a decisão do julgamento, pois foi condenada a cumprir pena de 6 anos.
Cumpriu pena de 1983 até 1985, sendo liberada para reconstruir sua vida, visto que já havia perdido tudo que tinha. Descobriu um câncer pancreático em 1990 e faleceu em 1996, em um hospital da mesma cidade que sua filha havia sido morta. Seu corpo foi enterrado ao lado da menor.

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