Fio – o que pensam os militares 👇

Estava lendo o documento “Cenário de Defesa 2020-2039”, publicado em 2017 pelo Ministério da Defesa, e que elabora cenários de ameaças que podem levar ao emprego das Forças Armadas. (+)
Há coisas bem reveladoras que demonstram como pensam os militares em termos de estratégia de Defesa e Segurança – eles sempre mencionam os dois aspectos juntos – e que se refletem em ações desse governo. Ressalto aqui questões de interesse para a sociedade civil (+)
Em especial, chamo a atenção para os temas relacionados ao debate público, uso da internet e questão indígena. Seguem alguns trechos (+)
MONITORAMENTO
“A eficácia das atividades de inteligência e de comunicação social dependerá do intenso monitoramento e utilização da internet e das comunicações móveis, por serem elas os principais instrumentos de coordenação de ações e propaganda das organizações insurgentes”(+)
QUESTÃO INDÍGENA
“As tensões decorrentes das demarcações de terras indígenas, exploração de garimpos, de obras de grande vulto (hidrelétricas, mineração) poderiam gerar conflitos armados que excedam as capacidades dos órgãos de segurança pública estaduais e municipais”. (+)
“Caso se configurem conflitos armados e derramamento de sangue, haverá pressões internacionais pelo
fim das hostilidades e punição dos culpados, com consequente deterioração da imagem do País”. (+)
“Por outro lado, poderia haver demandas internacionais por autonomia indígena e internacionalização de áreas de proteção ambiental na Amazônia, incentivados por organizações estrangeiras”. (+)
OPINIÃO PÚBLICA
“A facilidade de divulgação e acesso às informações poderia ser utilizada para esclarecer e conscientizar, tanto a opinião pública nacional quanto a internacional, sobre questões como as ambientais e indígenas...
...entre outras, com o intuito de se contrapor a posicionamentos contrários aos interesses nacionais que, uma vez potencializados, poderiam promover apoio internacional para sanções externas ao Brasil”. (+)
MANIPULAÇÃO

“A facilidade de divulgação e acesso às informações poderia ser utilizada para manipular, tanto a opinião pública nacional quanto a internacional, sobre questões como as ambientais e indígenas, entre outras, com o intuito de denegrir a imagem do Brasil...
...e justificar sanções internacionais que atentem contra sua soberania e exijam resposta militar”. (+)
INSTABILIDADE POLÍTICA
“Devido à situação político-institucional, parcela significativa da população poderia se revoltar contra
a classe política e demandar mudanças, gerando violência, o que, provavelmente, colocaria as FA na cena política pelo Art. 142 da Constituição”. (+)
QUESTÃO AGRÁRIA
“Questões de segurança pública ou de natureza diversa (agrárias, indígenas, ambientais) poderiam
se potencializar e gerar conflitos que extrapolem a capacidade de atuação dos órgãos de segurança
pública, exigindo o emprego na garantia da lei e da ordem”. (+)
OPERAÇÕES GLO
“(...) Como no caso da ocupação de favelas no Rio de
Janeiro, é provável que a imagem favorável perante a sociedade se mantenha, podendo angariar
apoio a incrementos orçamentários visando à modernização das Forças”. (+)
“Por outro lado, a atuação delas em ações de segurança pública, tais como a ocupação de favelas, se prolongada, poderia expô-las ao risco de eventual envolvimento de militares em atividades criminosas ou ações que comprometam a imagem institucional”. (+)
“Efeito análogo poderia ter a redução de atividades que emprestam alta visibilidade às Forças Armadas
perante a sociedade (como GLO e atribuições subsidiárias) poderia reduzir a sua credibilidade e afetar
os necessários programas de modernização” (+)
PANDEMIAS

“Tanto mudanças climáticas quanto pandemias provocariam instabilidades política, econômica e social, demandando apoio das Forças Armadas em missões de ajuda humanitária bem como na garantia da lei e da ordem e controle de portos, aeroportos e fronteiras”. (FIM)
O documento provê justificativa teórica para ações como o envio de agentes da ABIN para monitorar ambientalistas em convenções internacionais e monitoramento de redes sociais. Pra quem quiser ler na íntegra. gov.br/defesa/pt-br/a…

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15 Mar
10 ANOS! 🎉
Hoje é dia de celebrar os encontros. A começar por ela, a grande @amarinamaral, que num dia em que eu estava particularmente desapontada com o jornalismo brasileiro, apareceu na minha casa dizendo: está na hora de fundarmos aquela agência de reportagens! Image
A @agenciapublica completa dez anos hoje, assim como essa aqui @AndreaDip_ , que nos acompanha desde o comecinho. Hoje, é também diretora da Pública. E faz 38 ANOS!!! Parabéns Dip! 💓 Image
Tanta gente passou por aqui, quando a Pública ainda era uma promessa, um sonho. Nessa foto aqui, @jessicamota, que hoje trabalha na @enoisconteudo , quando ainda estava na faculdade! Image
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7 Mar
A visita de Eduardo Bolsonaro aos EUA na véspera da invasão do Capitólio – uma thread
Tem causado frisson aqui no Twitter a série de textos do jornalista @SethAbramson, sobre a visita de Eduardo Bolsonaro aos EUA na véspera da invasão do Capitólio após a “Marcha para Salvar a América”, na qual Trump incentivou que seus apoiadores a invadirem o Congresso. (+)
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6 Mar
A primeira pergunta da segunda mesa do festival #Publica10 é feita pela @AndreaDip_ : Estamos próximas do 8 M, com ódio e violência como política de Estado. Vocês acreditam na posibilidade de diálogo no sentido de desarmar esse ódio? Como esse diálogo pode ser feito e com quem?
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6 Mar
O que é o Bolsonarismo? Pergunta @thiago_domenici no começo da mesa de abertura do evento Publica+10, que vai discutir o futuro do Brasil.
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3 Mar
O que revela o livro do General Villas Bôas – uma thread 👇
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Muito tem se falado sobre as revelações que ex-comandante do Exército fez no livro de Celso Castro sobre o julgamento do habeas corpus do Lula no STF (+)
Mas o livro “Conversa com o comandante”, da editora @EditoraFGV é muito mais rico do que isso. Eu o li semana passada para finalizar o meu livro Dano Colateral que sai pela @edobjetiva em junho (+).
Algumas passagens esclarecem o papel do próprio Villas Boas e seu grupo na construção do governo Bolsonaro e na volta dos militares à política.(+)
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15 Dec 20
Muita gente ficou surpreso quando Sérgio Moro anunciou que ia trabalhar para uma consultoria que ajuda empresas a se livrarem de denúncias de corrupção. Eu não. Foi a decisão mais previsível pra que acompanha a parceria da Lava-Jato com os procuradores dos EUA.

Segue o fio! 👇
1) A consultoria americana Alvarez e Marsal anunciou que Moro será o chefe de investigações, disputas e compliance no seu escritório envidraçado na Vila Olímpia, à beira da Marginal Tietê, pertinho do luxuoso Shopping JK.
jornaldebrasilia.com.br/politica-e-pod…
2) Especializada em reestruturação corporativa, a Alvarez & Marsal é a administradora judicial da Odebrecht, após a construtora ter pedido recuperação judicial por causa das investigações da Lava-Jato no Brasil, nos EUA e em dezenas de países da América Latina.
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