Já pisei em muito sangue de chacina. Vi cadáveres desfigurados e testemunhei a dor de famílias despedaçadas. Mas nada me chocou mais, na vida, do que ver uma manifestação de brancos do Morumbi em apoio ao assassinato de uma criança de 10 anos.
Ítalo Ferreira, pequeno e franzino, furtou um carro e foi morto pela @PMESP com um tiro na cabeça. Segundo o @mpsp_oficial, estava desarmado. Os PMs ameaçaram outra criança que estava com Ítalo para que mentisse dizendo que o amigo estava armado. ponte.org/pms-de-sp-mata…
O Major Olímpio esteve no ato em apoio aos PMs assassinos. Defendeu o assassinato. Chamou Ítalo de "bandido mirim". Sobre os movimentos negros que foram ao local, falou com desprezo: era uma gente paga com "50 contos e um lanche" para protestar. ponte.org/negros-escrach…
Olímpio nem sempre foi assim. Apenas dois anos antes, ainda era capaz de dar uma entrevista como essa, ponderada e realista, falando de direitos trabalhistas e lamentando a violência policial. ponte.org/os-jovens-poli…
A transformação do Olímpio ponderado de 2014 no político que aplaudia a execução de uma criança em 2016 fez bem para a carreira política dele. Quanto mais abraçava a extrema-direita, mais votos conseguia. Isso diz muito sobre o país em que vivemos.
Ser lembrado só pelas coisas boas é um privilégio que muita gente branca ganhar ao morrer. Que tantos estejam apenas louvando o senador e se esquecendo de que ele um dia apoiou o homicídio de uma criança é mais um sinal de que, no Brasil, vidas negras não importam mesmo.
A morte de Ítalo, é bom lembrar, não recebeu luto oficial e ainda não mereceu nem ao menos justiça. Os policiais que o mataram foram denunciados só no ano passado, quatro anos após o crime, e ainda aguardam o julgamento. ponte.org/policiais-vao-…
Depois reclamam que protesto só é notícia quando tem violência. Fizeram um protesto pacífico na av. Sapopemba. TVs e portais noticiaram o "problema no trânsito". Algum desses foi averiguar os fatos? Nenhum. Só a @pontejornalismo foi até lá. E descobriu uma história aterradora.
Em busca de um ladrão de carros, a @PMESP invadiu uma casa no Parque São Rafael e executou a tiros Wenny Sabino Costa Martin. Ele tinha 18 anos. Foi morto na frente de dois adolescentes de 13 anos e duas crianças de 3 e 5 anos. ponte.org/pms-invadem-ca…
Todas as testemunhas ouvidas pela repórter @mendoncjeniffer relatam que a @PMESP de @jdoriajr arrastou o menino para dentro do banheiro da casa e o matou lá dentro. Ninguém viu uma arma com Wenny. Mas a PM defende que matou o jovem em legítima defesa, e para isso montou uma farsa
Vendo a cobertura de alguns veículos sobre a morte do menino Miguel, é chocante constatar o quanto Sarí Mariana Gaspar Côrte Real, a primeira-dama loura que mandou a criança negra para a morte, foi protegida por jornalistas acostumados a expor suspeitos negros pobres (segue)
Sikera Jr., que festeja a morte de qualquer pessoa nas mãos da polícia bradando "CPF cancelado!", deliberadamente evitou dizer o nome de Sarí ou mostrar imagens dela, alegando respeito à lei de abuso de autoridade (que, como o próprio nome diz, não vale para jornalistas).
Veja o constrangimento no estúdio (em 53:25) quando Sikera pergunta o nome da primeira-dama para o repórter Ricardo Neves, que sugere "ir na internet" para saber a informação: