Levantei todos os processos em que o Estado do Rio foi condenado, em 2020, por má conduta de policiais: 81 pessoas ganharam direito a indenizações que, somadas, chegam a R$ 8,3 milhões — ou só 5% do que a família de George Floyd receberá de Minneapolis. extra.globo.com/casos-de-polic…
Ao todo, 18 dos beneficiados são vítimas que foram feridas e conseguiram sobreviver e 63 são parentes de 23 mortos em ações de agentes de segurança no Rio — policiais militares, civis e inspetores penitenciários.
No Rio, a indenização mais alta arbitrada pela Justiça num caso de morte pela polícia no ano passado foi de R$ 400 mil. A mais baixa foi de R$ 30 mil para irmãos de um religioso morto em 2001 por PMs quando voltava para casa depois de um culto, em São Gonçalo.
Na maior parte dos acórdãos que analisei, os desembargadores alegam que, como as famílias das vítimas são pobres — em sua maioria, moradores de favelas —, indenizações altas configurariam “enriquecimento sem causa”.
Um terço do total das vítimas a que se referem os acórdãos foi baleado durante operações em favelas. Outros 26% foram atingidos em ações de patrulhamento ordinário. Também há casos de feridos em blitzes e até o de um paciente morto num tiroteio dentro do Hospital Souza Aguiar.
Também localizei 18 processos em que indenizações foram negadas. São casos de “balas perdidas”, inocentes baleados em tiroteios entre PMs e criminosos. Desembargadores alegaram que o Estado não tem responsabilidade sobre as mortes porque a polícia não chegou ao autor do disparo.
A família do menino Luiz Felipe Paz, de 3 anos, morto por um tiro que o atingiu enquanto dormia, teve a indenização negada. A desembargadora Odete Knaack alegou que, sem provas “de que o tiro que atingiu a vítima partiu da arma de um dos policiais, afasta-se dever de indenizar”.
Processos parecidos têm decisões diferentes. É o caso da ação movida pela família de Maria Lúcia da Costa, morta aos 58 anos num tiroteio entre PMs e traficantes no Alemão. A investigação não concluiu de onde partiu o disparo. A Justiça determinou que a família seja indenizada.
Apesar das vitórias em segunda instância em 2020, nenhuma indenização foi paga. Os pagamentos só são feitos após o trânsito em julgado dos processos, que ainda podem demorar alguns anos.
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Para encerrar o assunto, compartilho trecho da nota da Editora Globo sobre o vídeo compartilhado pela PM e aproveito para expor a metodologia da apuração.
"A reportagem atacada pela PM usa dados oficiais da própria corporação para mostrar o aumento do consumo de munição. (+)
A matéria foi feita com base nos “mapas de munição”, produzidos quinzenalmente por cada batalhão para contabilizar a quantidade de projéteis descartada após uso e em depósito. Foram analisados os “mapas de munição” de julho, setembro e novembro. (+)
No mapa da segunda quinzena de novembro, produzido no início de dezembro, consta que havia 810 projéteis de fuzil calibre 556 e 2.449 projéteis de fuzil calibre 762 em processo de eliminação, por uso “em serviço”. (+)
O consumo de munição do 15º BPM (Duque de Caxias), onde são lotados os PMs investigados pelos homicídios das meninas Emilly e Rebeca, explodiu nos últimos meses. Em novembro, a unidade descartou 6.238 cartuchos de fuzil usados por agentes em serviço. extra.globo.com/casos-de-polic…
A quantidade é 75% maior do que a eliminada em setembro e mais de três vezes maior do que a eliminada em julho, quando 1.479 cartuchos foram descartados. A eliminação de munição se dá, na maioria das vezes, até dois meses após seu uso.
Todos os dados estão em mapas de munição do batalhão que obtive. A explosão no uso de munição pelo 15º BPM acontece paralelamente ao aumento de mortes em ações da polícia na região patrulhada pelo batalhão. De setembro para outubro, os casos passaram de 5 para 12.
Como Adriano da Nóbrega foi recrutado por contraventores dentro da cadeia e virou matador de aluguel, sua coleção de premiações e certificados na PM e o método que ele criou para matar e não responder pelos crimes. Na @RevistaEpoca desta semana. epoca.globo.com/rio/a-vida-a-m…
Na reportagem, conto que Adriano cresceu em meio à ilegalidade: seu pai morava de favor na fazenda de um bicheiro no interior do Rio, que ele chamava de “padrinho”. Anos mais tarde, ele foi apontado como assassino do “padrinho”, mas nunca respondeu pelo crime.
Conversei com contemporâneos de Adriano no Bope: lá, seus “feitos” viraram lenda. Montava uma arma em minutos, era referência em incursões em favelas. A indisciplina encurtou sua carreira no Bope: Adriano era conhecido por fazer operações clandestinas, sem autorização do comando.