Num cenário de transmissão acelerada, temos um ambiente favorecendo o surgimento de novas variantes, aumentando o risco para alguma de nossa atenção vir à tona. Num recente trabalho a @fiocruz, vemos quais modificações estão acontecendo nas variantes do Brasil
Acompanha! 🧶
Inicialmente, quer conhecer um pouquinho mais sobre a P.1? Explico cronologicamente os eventos da descrição da P.1 e alguns trabalhos incríveis do @CaddeProject@atrvlncc@fiocruz sobre essa variante:
Vamos então aos dados: no brilhante trabalho da @PaolaResende1@fnaveca@GrafTiago@GabrielWallau da @fiocruz , os pesquisadores observaram que modificações seguem acontecendo nas variantes de interesse e atenção aqui no Brasil
Uma das modificações que foram estudadas são as chamadas "deleções", que podem ser entendidas por pedacinhos do material genético (as ditas letrinhas) que são deletados da sequência.
Essas deleções podem acontecer mais de uma vez (recorrentes), e as que iremos destacar são as que acontecem numa região da proteína Spike chama "domínio amino (N)-terminal" ou NTD (círculo verde na imagem abaixo).
Muitos nomes difíceis, mas vamos simplificar: esse NTD faz parte de uma região da Spike (S1) importante para a ligação nos receptores das nossas células (Ex.: ACE2) para o vírus infectá-las.
Bem, entendemos que essa região é importante então, mas o que mais sobre ela temos que saber?
Mudanças no NTD podem alterar a forma como nossos anticorpos, por exemplo, reconhecem a Spike do vírus, e isso pode levar ao escape das nossa defesas asm.org/Articles/2021/…
O @CDCgov realizou um alerta que deleções de partes da proteína (aminoácidos) na posição 144 na variante B.1.1.7 e na posiçaõ 242-244 na B.1.351 podem levar a uma menor capacidade de ligação dos anticorpos neutralizantes (que nos protegem do vírus)
No trabalho do pessoal da @fiocruz essas deleções no NTD foram observadas durante a infecção de longo prazo em pacientes imunocomprometidos, bem como durante a transmissão prolongada de humano para humano (situação que estamos, infelizmente, vivendo)
A maioria dessas deleções (90%) acontecem no NTD da proteína S (Spike), podendo alterar o reconhecimento dessas proteínas (e do vírus) pelo nosso sistema imunológico.
B.1.1.7 (UK), B.1.351 (África do Sul), P.3 (Filipinas), apresentam essas deleções, por exemplo.
Mas e as variantes no BR? As de atenção (VOC) P.1 e as de interesse (VOI) P.2 e N.9 apresentam um conjunto de alterações que podem afetar a ligação no receptor das nossas células e, possivelmente, o reconhecimento pelo sitema imunológico
Segundo os pesquisadores, a P.1 apresenta um conjunto de mutações no NTD, que podem prejudicar a ligação de alguns anticorpos monoclonais na proteína S, mas nenhuma das variantes (P.1, P.2 e N.9) apresentaram deleções nessa região.
Isso pode explicar (em parte) porque a P.1 teve um impacto menor na diminuição das quantidades de anticorpos neutralizantes induzidos pelas vacinas (Pfizer, AstraZeneca) do que a B.1.351, por exemplo.
Sabemos, inclusive confirmado pelo trabalho da @fiocruz que os principais alvos dos anticorpos neutralizantes são as regiões RBD e NTD da proteína S. Por isso precisamos estar muito atentos e acompanhar essas mudanças
O que concluímos então: que essas modificações no NTD, como as deleções, podem ser um dos mecanismos de adaptação das variantes brasileiras (de atenção e de interesse) para tentar escapar da resposta imunológica.
Por isso temos que REDUZIR a transmissão, para desacelerar isso.
Os pesquisadores comentam a hipótese de pressões seletivas sobre o vírus estarem acontecendo para o escape da resposta imunológica. Se o vírus circula mais, infecta mais pessoas, temos aí um impulsionamento disso, acontecendo de forma mais acelerada. Não é o que queremos, não é?
As variantes que circulam e surgiram aqui no Brasil estão se adaptando continuamente. Depende de nós retardar esse processo.
✅Use máscaras adequadas e bem vedadas no rosto
✅Distanciamento físico e evitar aglomerações
✅Higienização adequada sempre
Aguardamos mais dados, principalmente sobre as vacinas e o impacto dessas variantes sobre sua eficácia, e sinceramente pessoal: vamos fazer o que é preciso para sair dessa situação. Não subestimem a capacidade dela ficar ainda pior. Não queiram pagar para ver.
O que sabemos sobre a Butanvac, vacina desenvolvida pelo @butantanoficial que pode somar muito na nossa campanha de vacinação ainda em 2021?
Acompanha a reunião de infos aqui 🧶
A Butanvac é uma vacina desenvolvida 100% em solo nacional, isto é, não dependerá da importação de IFAs por exemplo. Tudo será feito em solo brasileiro
Nota: e ela não é a única! Atualmente tem 11 projetos de vacinas brasileiras em estudo! Algumas são da UFMG, USP... O Brasil tem um histórico incrível quando se trata de vacinação, imagina se investíssemos desde sempre em ciência? g1.globo.com/bemestar/vacin…
Não imaginei que fosse precisar chegar nesse ponto, mas vou dizer com todas as letras que não há dados que indiquem que o SARS-CoV-2 seja transmitido por insetos (pulgas inclusas)*
Essa infeliz fala de @onyxlorenzoni aponta uma falha grave na comunicação com a sociedade, trazendo evidências sem embasamento científico para suportar uma opinião. De acordo com vários estudos, vemos que países que implementaram BEM o lockdown, viram efeitos muito positivos.
Esses efeitos positivos se estenderam não só para as questões de saúde, cortando os novos casos pela metade, diminuindo a transmissão e hospitalizações, mas refletiram na economia: esses lugares tiveram uma melhor retomada econômica
@SebastiaoMelo faz uma gestão completamente distante da ciência para o enfrentamento da COVID-19 em POA. Afrouxar restrições onde as hospitalizações estão altíssimas, com a existência de filas para leitos clínicos e UTI é estar descomprometido com a saúde de sua população
"– Não vejo razão para fechar a cidade aos sábados e domingos." demonstra o total desconhecimento sobre mobilidade, comportamento da população e sobretudo as métricas hoje da pandemia na cidade.
Sim, é preciso dar a esses negócios o mínimo de sobrevivência e o governo deveria prover isso para sua população, delineando estratégias para apoio a esses trabalhadores. Abrir nesse momento é se eximir da responsabilidade com essas pessoas e com a saúde da sociedade.
Quero falar um pouquinho sobre a vacina da AstraZeneca. Vejo muitas pessoas hesitantes, com um olhar de desconfiança pra ela, e já adianto: não faz sentido. É uma boa vacina, segura, e potencialmente vai nos proteger de variantes, como a P.1
Segue fiozinho pra iniciar a semana!
Primeiro: a vacina desenvolvida pela @AstraZeneca +@UniofOxford + @fiocruz é uma vacina de vetor adenoviral (ChAdOx1) ou seja, é como se tivéssemos um "entregador" da instrução para a construção da prot. S para as nossas células
Essa vacina (também conhecida como Covishield) foi aprovada no início de 2021 junto da vacina do @butantanoficial (a CoronaVac) e aqui podemos observar a bula dela:
Pfizer e AstraZeneca potencialmente irão conferir proteção contra a P.1!
Análise com B.1.1.7 (UK) e B.1.351 (Africa do Sul) revelam que o impacto nos títulos de anticorpos neutralizantes (um dos componentes da resposta imune) não é tão impactado na P.1!👇
Por que potencialmente? Porque o estudo ficou na ação neutralizante de anticorpos, que é um dos aspectos da resposta imunologica. Ainda precisa considerar a resposta de células, por exemplo.
Por isso, mesmo vendo um impacto muito maior pela B.1.351 na vacina da AstraZeneca, não podemos dizer que a vacina não é eficaz sem fazer uma análise dos outros componentes da resposta imune ou da própria eficácia, com um estudo clínico grande com um N amostral adequado
Pfizer e AstraZeneca potencialmente irão conferir proteção contra a P.1!
Análise com B.1.1.7 (UK) e B.1.351 (Africa do Sul) revelam que o impacto nos títulos de anticorpos neutralizantes (um dos componentes da resposta imune) não é tão impactado na P.1!👇
Por que potencialmente? Porque o estudo ficou na ação neutralizante de anticorpos, que é um dos aspectos da resposta imunologica. Ainda precisa considerar a resposta de células, por exemplo.
Por isso, mesmo vendo um impacto muito maior pela B.1.351 na vacina da AstraZeneca, não podemos dizer que a vacina não é eficaz sem fazer uma análise dos outros componentes da resposta imune ou da própria eficácia, com um estudo clínico grande com um N amostral adequado