Como insisto, o fascismo e suas variantes, como a eugenia, não é uma ideia acabada, que precisa de um nome, um símbolo para efetivamente existir, ele se espalha e atinge todos os setores da sociedade de uma forma difusa. A fala absurda da Xuxa é um exemplo disso.
Falamos de racismo estrutural, de machismo estrutural, justamente, para dar conta desse caráter difuso, por vezes até pré-consciente, das estruturas de opressão.
Mas quando se trata de fascismo começam os purismos, ao ponto que movimentos claramente fascistas, como o bolsonarismo, não podem ser considerados dessa forma por medo de "despolitização da palavra" ou qualquer besteira do tipo.
Para escapar disso autores como Deleuze & Guatarri deram todo um acabamento ao conceito de microfascismos. Inclusive, o fascismo molar, o regime estatal fascista, ocorre quando esse fascismo difuso entra em ressonância.
"Mas o fascismo é inseparável de focos moleculares, que pululam e saltam de um ponto a outro, em interação, antes de ressoarem todos juntos no Estado nacional-socialista."
Essa passagem do Mil Platôs não poderia ser mais clara sobre o ponto. Os microfascismos, esse fascismo molecular, difuso, por vezes pré-consciente, é o próprio fundamento do fascismo molar, estatal.
Não adianta separá-lo do regime, não importa o fato de que a apresentadora - ou qualquer outro - não apoiar, por exemplo, Bolsonaro. Ela, a raiva expressa na sua fala eugenista (para usar um eufemismo), a sua fala, o mundo que ela aciona, é o próprio regime.
Não é uma questão de se "expressar mal", como ela colocou em seu pedido de desculpas. É justamente o contrário: sua fala expressa muito bem o fascismo transversal, difuso, que marca a nossa experiência social.
"Xuxa é fascista?" esse é um falso problema. O caráter difuso, transversal do fascismo ignora identidades, orientações políticas, etc... Inclusive, essa insistência das esquerdas em cristalizá-lo em uma "identidade" impede que ele seja efetivamente combatido.
O próprio caso da apresentadora demonstra isso: temos aqui uma pessoa - ao menos sua persona pública -, que em diversos momentos se mostrou simpática à causas "progressistas", mas que não se sentiu minimamente constrangida de reverberar eugenia.
Isso anula sua atuação em outras causas? Não. Mas isso também não tira a gravidade de sua fala, do seu pensamento. Por isso o combate ao fascismo passa diretamente pelo combate às ideias que lhe dão sustento. Ideias que, por vezes, não estão associadas diretamente a ele.
Primo Levi falava do fascismo (molar, o regime fascista) como uma pandemia. Como algo que sempre voltava quando um povo, uma nação, estava com a imunidade baixa. Concordo e acrescento: O fascismo transversal, difuso, é responsável por esse processo de supressão imunológica.
Pelo visto a manobra do Governo Federal de mudar os protocolos dos registros de óbitos por COVID - que pegou o "ministro da saúde" de surpresa - tinha como único intuito produzir uma narrativa e apenas isso. A ideia de que os óbitos estão sendo inflados, que os mortos não tem CPF
Agora veja o nível em que chegamos: o governo federal e seus asseclas, incluindo-se ai o novo "ministro da saúde", sabiam que não conseguiriam implementar o seu plano de mudar os protocolos de registros de óbitos. O fizeram apenas mirando na "repercussão".
Eles sabiam que os números despencariam, eles sabiam que a mudança geraria um gargalo. Eles não "recuaram" diante da repercussão negativa, o plano, pelo visto, era exatamente esse, criar um factoide.
Vamos dar uma olhada com atenção na lei que define o crime de genocídio.
Lei nº 2.889 de 01 de Outubro de 1956
Define e pune o crime de genocídio.
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;
Na live da twitch eu falava exatamente sobre como o Bolsonarismo iria tentar criar um pânico moral para aquecer suas bases e encontrar uma saída para a crise em que se meteu. Saio da live e vejo as redes e grupos falando do Comunismo e Bolsonaro prometendo um golpe para evitá-lo.
Sim, golpe, pois se ele diz que o Governo Federal vai implementar um Estado de Sítio "para dar liberdade para o povo" ele está falando abertamente de passar por cima do Congresso - que nesse momento não parece muito afeito à ideia.
A fala do Lira de ontem foi sintomática: deputados estão sentindo o efeito da pandemia sobre suas bases. Alguns tem sido, inclusive, acionados pela população para que consigam vaga em hospitais para parentes com Covid, para que consigam remédios.
Agora é oficial, podem levantar a plaquinha de "já sabia" e tudo mais. Mas finalmente admiti para mim que o Guará não vai sair daqui. Já ganhou bandana e tudo.
Tupi não está exatamente radiante com a notícia, mas é a vida, querida.
Uma coisa triste nisso tudo foi descobrir que o Guará tem marca de um ferimento no crânio, provavelmente uma paulada que levou quando era bem novinho. Mas enfim, gosto nem de pensar na existência de um indivíduo que faz isso com um filhote.
Gente, eu tenho falado disso tem algum tempo, redes e grupos bolsonaristas estão se mobilizando para monitorar perfis e grupos de esquerda. Tenham o muito, mas muito cuidado mesmo com o que compartilham nas redes.
Digo, insisto e repito, já passou da hora das esquerdas discutirem segurança digital (e isso inclui uma certa etiqueta nas redes). Quem não está preocupado com isso não está prestando atenção.
Não estamos falando apenas de possíveis processos criminais por xingar o presidente ou coisas do tipo, estamos falando de ameaças reais. Evitem se expor, adotem medidas de segurança pois o outro lado não está brincando.
Responsáveis pela pandemia todos somos, faz parte do papel de ser cidadão, agora, culpados alguns até são, mas um são mais do que outros. E essa é uma diferença que não podemos perder de vista, entre a ideia de responsabilidade e a ideia de culpa.
Eu, você, o cidadão, a cidadã média temos sim responsabilidades. Uma vez que somos plenamente cientes dos desdobramentos, causas e consequências dos nossos atos durante uma pandemia. Pois a nossa responsabilidade (ou a falta dela) tem sim consequências.
Por isso aquela viagem para "uma vila super escondidinha no interior da Bahia" foi sim um ato irresponsável. A saidinha para visitar os amigos também o foi. Ter responsabilidade, nesse contexto, é cuidar de si e cuidar dos outros, sem exceções possíveis.