Recentemente disponibilizamos os resultados deste estudo, o qual uniu imunologia e genômica viral para entender o mecanismo de reinfecção pelo vírus SARS-CoV-2.🧬🦠
Abaixo segue um pequeno resumo. ⬇️
Como sabemos que o indivíduo foi reinfectado pelo coronavírus SRAS-CoV-2?
A primeira evidência veio de dois testes negativos ao longo de um período de mais de 200 dias entre a primeira e a segunda infecção, como mostrado na linha do tempo abaixo.
De que forma se confirma uma reinfecção?
O sequenciamento genético trás essa resposta. De posse de genomas dos vírus das duas infecções, usei ferramentas de análise filogenética para comparar o perfil genético dos vírus, o que revelou que os vírus eram de linhagens distintas.
Analisando as diferenças genéticas entre os vírus das duas infecções, não detectamos nenhuma mudança na proteína Spike que indicasse capacidade de evasão das respostas imunológicas: a mudança de aminoácido detectada (A1078S) não afeta o domínio de ligação a receptores (RBD).
Então, o que explica a reinfecção?
A primeira infecção gerou uma fraca resposta imunológica, que até produziu células de defesa de longa duração, porém com anticorpos com baixa capacidade neutralizante, insuficientes para impedir uma segunda infecção.
Um agravante para o quadro do paciente foi o fato deste ter recebido tratamento para suprimir o sistema imunológico, visando evitar a rejeição de um rim transplantado. Com isso, as defesas preexistentes, que já eram fracas, foram ainda mais afetadas, possibilitando a reinfecção.
Nosso estudo demonstra que alguns indivíduos que já foram infectados produzem respostas imunológicas insuficientes para impedir reinfecção. Logo, quem já teve COVID-19 não deve agir como se já tivesse "se livrado do problema", pois reinfecções são possíveis.
Não baixe a guarda.
A noção de imunidade coletiva por infecções naturais é equivocada. Causam mortes, sequelas, e nem sempre trazem imunidade forte o suficiente
A solução está nas vacinas, as quais garantem uma proteção mais robusta contra reinfecções, e evitam casos graves. Quando puder, vacine-se
Neste fio da Akiko @VirusesImmunity você encontrará mais informações sobre o trabalho.
@Mon_Torreao@demori Concordo, @Mon_Torrea. Existem médicos jovens que não praticam medicina baseada em evidencia.
Busquei algumas referências sobre o assunto, para entender se a visão de que médico mais experientes são mais propensos a manter práticas ultrapassadas. Achei os textos abaixo.
@Mon_Torreao@demori Evidence-based medicine has been widely adopted [...] More experienced doctors may have less familiarity with these strategies and may be less accepting of them.”
@Mon_Torreao@demori A matéria acima cita os autores deste estudo, que aponta a necessidade de um melhor treinamento continuado para médicas e médicos, dando a eles condições de utilizar evidências científicas nas suas práticas diárias.
"Estão tentando politizar o coronavírus". Concordo.
Desde o primeiro dia de pandemia no Brasil, as respostas vindas do governo federal e do presidente da república constantemente ignoram as evidências científicas, e focam em ações políticas, frustradas, de negação da realidade👇
1️⃣ A Ciência disse: "A COVID-19 mata cerca de 1% dos infectados. Isso pode levar a um milhão de mortes no Brasil" (já são quase 300.000)
Resposta POLÍTICA de Bolsonaro:
— "É só uma #gripezinha. Não vão morrer nem 800 'no tocante a questão do vírus'"
2️⃣ A Ciência disse: "Sem vacinas, a principal forma de conter o vírus é evitando aglomerações"
Resposta POLÍTICA de Bolsonaro:
— Vai contra medidas de distanciamento físico, e promove aglomerações.
Quando juntam negacionismo e desapreço pela Ciência temos essa realidade: um laboratório natural de evolução viral.
Brasil tem mais de 10,5 milhões de casos, e só ~3500 genomas do vírus sequenciados. Mal sabemos que inimigos enfrentamos, nem onde estão. nytimes.com/2021/03/03/wor…
É sempre importante lembrar:
1️⃣ Seja lá qual variante do coronavírus esteja circulando, a transmissão viral depende de contato próximo entre pessoas.
2️⃣ Usar variantes para justificar aumento de casos significa ignorar que no Brasil faltam políticas efetivas de combate à COVID.
Diante de variantes mais transmissíveis (seja por maior carga viral, por terem período infeccioso mais longo, etc), medidas de prevenção precisam ser ainda mais duras
Mas não é o que vemos no Brasil, com estabelecimentos e ônibus lotados, festas clandestinas, fiscalização frouxa
The amino acid deletion ∆69/70 has been used as a proxy for detecting viruses from B.1.1.7 ('UK variant'). The same marker has been used in the US, but we caution against its use. We identified a new SARS-CoV-2 lineage (B.1.375) with that same feature.
A new lineage circulating in the US (B.1.375, arrow) shows the same deletion ∆69/70 in the spike protein, and a set of unique amino acid substitutions were found in this lineage: ORF1a T1828A, ORF1b E1264D, ORF3a T151I, and M I48V.
Viruses in the lineage B.1.375 have been identified in all regions of the US, specially in states where genomic surveillance of SARS-CoV-2 has been done frequently, such as: Connecticut, Florida, California and Wisconsin.
A evolução, seja de vírus ou de qualquer organismo, não segue uma caminho linear, mas sim caminhos que se dividem, onde diferentes linhagens seguem rotas evolutivas independentes. Ao longo dessas rotas, cada (população de) coronavírus acumula cerca ~2 mutações por mês
Explico 🧶
Estas são árvores filogenéticas do SARS-CoV-2, do @nextstrain
1️⃣ com escala de tempo
2️⃣ com escala de mutações
Na árvore 2: cada círculo nas pontas representa um vírus, e se partirmos da raiz da árvore (no zero), várias rotas nos levam até 3.000+ vírus: nextstrain.org/ncov/global
As rotas evolutivas que cada (população de) vírus segue é praticamente única. Assim, ao longo de cada rota, cerca de 22 mutações ocorrem por ano, mas se somarmos as mutações acumuladas por CADA rota, chegamos a centenas de milhares de mutações.⚡️🧬